parede

sem lugar para o gosto
verbo, sem lugar para a dança
(lugar)

a-lugar eu faço, a esta hora
não antes, depois não saberei
o que seria dos rejuntes sem estes cantos

(e tantos anos sem ao menos uma linha escrita, aberta)

fechadas casas são as tuas, apesar de entrar
conheço tantos meninos com medos
de serem entrada, passeio, abertura

não era a tua, mas hoje
sempre reparo quando falas dos beijos dos outros
os beijos dos outros não existem seus
não lá

(como se negasse uma possibilidade, exame)

ação que em si mesma é só uma memória enviesada
recente, confusa,
clara em linhas retas de parede perfurada
sem chão

i

atores mesmos são eles gestos. vozes que não se misturam, vazios intelectos, atos que vão seguindo pontos, dançando pontos, se perdem.

escandalosa miragem permanece forte na rua. quer invadir atos, vontades, mas só atinge a coisa mesma, sem nexo. é raso. ricocheteia nos prédios, nas pessoas, não vaza em ninguém.

conversa de bar que escorre e praticamente não existe. só imagens, sorrisos, rumos difusos e repetições. às vezes música, som alto vindo das vozes, subterrâneo de atividades sonoras, efeitos químicos. nada mais que urgência, não é importante.

converso no lugar, me junto, perco o dito das coisas e enfim faz sentido! entre perambular pelos escambos, pelas brechas, acessos à cultura e à imagem por um pouquinho de escape. mundos pequenos que apresentam eixos universos.

do verbo que ainda não existe, acontece.

situação simples que inverte, alimento, torna energia o fluxo. rodopia, cumpre, faz girar.

quase sem nada, meio sem nada, por isso lá.