• de tanto rugir, alcanço uma beleza que gosto
    de tanto medir, me rasgo
    de tanto começar, reinvento, resgato um alento

    de tanto fugir, chego a um consenso
    frente a frente com o rasgo
    compreendo a dor
    tudo o que confere caminho
    é válido

  • caos

    ou ordem
    ou risco
    ou padrão

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    caos_enoc
    desenho do enoc, 2 anos
    verso, ao contrário: manchas de caneta (i)
    verso, ao contrário: manchas de caneta (i)
    a máquina gira, a tinta se espalha
    a máquina gira, a tinta se espalha
  • saída

    pensa-se que há audível,
    porém, ruído não há
    encontro botas largadas na sarjeta
    vestes difusas, andarilhos
    jacintos galhos a colecionar bocejos
    lentidão

    não encontro encostas e esfaleço montanhas
    são todos engasgos
    atalhos, firula
    meus olhos investem em corticóides e essas
    velharias que não fazem sentido algum

    remédios
    enganos
    farmacodominalescos e arbustos artificiais
    construídos por indústrias
    sem-noções

    meu cabo asfalto é doce
    já não me reconheço
    o resto, está sujo
    vou embora

  • o que é que quebra e sai
    correndo
    queria viver por dentro das coisas
    sem ter que almejar
    torrentes nada
    justiça pelego
    divulgação supremacia
    emprego, asfalto
    divulgação
    essa coisa vã que consome
    todos os poemas
    todos os dias da vida

    já quis morrer
    inúmeras vezes
    porque todos os dias
    têm de ser pagos
    e o dinheiro torna a minha cara muda
    a necessidade
    embebe em substituições
    aquilo de que seriam feitos os dias
    instituições, vontades
    não andam juntas
    pois brigam dia-a-dia
    o estudo o apreço
    a escrita envelheço
    sem publicar livro
    não
    publico
    divulgo
    e emudeço
    de novo

  • – a partir daqui nós vamos. a partir daqui não vamos titubear.

    – courage era sobre dúvida, sobre hesitar depois ir, sobre inventar caminhos, se meter no não visto das coisas, encontrar uma ferramenta mágica que te fortalece, pular, se jogar, ir. courage (azul): naipe de paus, fogo, coragem. vestir carapuça, semmedo. mais que isso: inventar o caminho, inventar essa courage que não torna rígido mas maleável, capaz de se misturar com o que há em volta. só assim. ética do trânsito, só que agora a tua memória

  • onde estão os teus amigos?
    eu olho para o lado e vejo
    um centavo jogado no chão
    da esquina
    quarentena e penso na praça
    tiradentes, antes da pandemia
    os corpos passantes os
    encontros travados, começados
    emperrados, abraços e uma
    perspectiva de
    alegria que fica para
    depois e então __

  • sonhei que você escrevia um artigo sobre incomunicabilidade
    e compartilhava um vídeo do processo comigo

  • ca

     

     

     

    o canário se aproxima
    não é hora de se subjugar
    tecer constelagens de pequenas falsas mordagens
    firula, que nem algoz
    diria que não
    diriam que não tantas coisas
    furtivas vozes que se refraseiam
    e parafraseiam cristais
    pardais sem nome
    pássaros migrantes sem lugar sem hora
    capaz
    foste uma vez mudar
    de capa, de penas, de anzóis
    e casacos de chuva, para
    dias secos que se seguem sem vez
    aridez de tantos cantos
    de danças que revigoram
    caminhos
    abraçam amigos fazem chorar
    cantam vestígios de toda hora
    prontidão
    rastros cantos quebrados asfaltos
    mortes pelas vertigens dos estados ali
    amigos, de novo, presenciam
    alguns
    solfejos dos sem caminho
    das fugas premeditadas
    daqueles que guardam dinheiro há dois ou três anos
    providências
    barcos, tenho pensado em barcos
    mais que aviões
    que afundam, barcos, asas, pássaros
    e modos de transporte menos lembrados
    ainda que catracas, consulados, gente que irá te julgar
    em tempos em que violam países
    sempre violados, a história diz
    tão frequentes as violações
    que se pensar nisso não move uma pena
    uma linha sequer
    e tantas linhas se tecerão
    pelos encontros as danças
    nunca parar de dançar
    nunca pestanejar, ainda que
    inversões caminhos entremeâncias ainda sonhos
    ainda diversos lugares viajo entrementes
    danças, volto, rememoro, faço espiralar
    nunca deixar de dançar nem os encontros
    lá, a teoria, as ideias tão antepassadas
    e que no entanto retornam
    perduram, te atiçam em voz e são os universos que colidem
    os tanto mais a incentivar
    lance curioso
    atrito produtivo
    vontade
    vaz

  • risco

    ação de torcer, moer, extrair suco. até sentir dor. até subir no topo de alguma coisa, e de lá a reconfortante vertigem. a luta bruta.

    ataduras, nos pés e nas mãos. corpo torcido. cara bruta. cara resoluta. cume, abrigo.

    praticar a dança – eu te disse – praticar as expectativas e desconstruções. no chão da sala, nas frestas. remover com tinta vermelha o que há nas entrelinhas. escrever demais. desenhar todas as coisas, passado o vazio, passado o chão: depois de doer, reconstruir como se nunca tivesse feito a membrana.

    desenho, desenho, desenho.