• a céu aberto

    adquire uma espécie de pausa. ou não, isso não me serve: troca de camisa (como substitui cidades ou ambiências – em roupão). pensa em plantas, emaranhados de constelações e só três coisas a realizar por vez,

    o que acontece é que pelo acúmulo dos anos das firulas amargas e dobraduras, aquilo que resta não mais compete aos ricardos, notívagos alegres ou quem sabe ninguém; míngua de jeito que resta, e mesmo está;

    como faz com essa coisa que não simplifica, se atola em redes sobre redes sobre membranas sobre as quais fica ali só observando, não conhece os universos, o caminho apresentado é um só:

    – arranja um emprego, paga tuas contas. forja esse espaço em construção, adestra os intelectos, faz brotar um referente anônimo, entre as pernas

    – criei azuis bocados sem medos de errar, pois de erros já estávamos fartos (e lá no porto eu deixei minhas últimas convicções)

    se deixa de construir não atrai.

    quadrado de exercício para o braço, para as pernas (e no total somam três, assim mesmo assimétricos, posto que a mão esquerda foi deixada de lado;

    quantas oportunidades mais vai deixar de acontecer (por pura agrura, incerteza, isso depois de concluir que sem certezas não se faz nada na vida

    – cria blocos por entre as membranas
    – para quê
    – para ter sobre o que andar (seriam aves, pátinas, andaimes suspensos que iriam pretender sustentação
    – de asfaltos, de agruras?
    – não, tudo menos isso! menos o que há agora, sonhos perdidos numa desmemória, engarrafamento de sensações. não há nada se não há sossego, força, um pouco de construção.

    CONCEBER TEREM ACABADO OS ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA

    (sócrates grita lá no fundo)

    SUBIR EM PAREDES E PAGINAÇÕES

    (constelação)

    CONCURSO PÚBLICO, MINHA FILHA…

    (cons-ter-na-ções)

    SEMMAIS SEMMEDO A CÉU ABERTO

    (comofaz)

    A CÉU ABERTO

  • __

    itacoá,

    um caminho afago
    no sol de vinte e seis de dezembro

  • enquanto aguardamos a tempestade, um avião cai. nesta semana soube de tantos mortos, afetos de amigos, amigos, afetos, atropelo, atravessamento, suicídio, morte súbita. não tenho todos os nomes, nem todas as informações precisas como se pediria saber, não quero falar sobre morte. estão aí. os acontecimentos.

  • andarilhe

    de toda intenção de florescer, agora revolto em sustento. de novo isso, mas isso sim, isso de novo, isso teremos de sustentar. sustentar o sustento. coordenar a procriação da dança, o benfazejo com esmero, toda esperança: laboriar, laboriar, laboriar.

    DSC_0912

    re-criar os modos como se laboreia. refazejo de forma, de estrutura. confecção de linha, porventura.

    das variáveis, constantes:

    esse fluxo de vozes imbocáveis que atravessa o corpo, todo o tempo. uma onda de caos, uma onda de amor. me atravessa, está aqui. agora grito, estribilho, tudo fica dentro. guardadinho. enviesar todos os preteridos para depois, todos os assuntos. não existe depois, existe uma linha que se domina, que se tece, é tecida pelo tempo. costura mesmo, invedação. corrobora com os caminhos se de caminhos é feita ela mesma. e então sair

    dominar o alimento. máquinas, admitirei cedo ou tarde, as esnobo. possuir o mínimo, agir como se está, simplificar os modos de andança. porém, eis que algumas, eis que usufruto, estou em. máquinas, operar com minimalescos botões de mimo, miniatura, antevendo já todos os traquejos que acontecem quando não se prevê máquinas, sim máquinas, botões, procedimentos, tudo o que já está dado como propriedade. o erro, o erro ocorre quando não prevê mas também quando excede, assunto de acomeço e invento, reverbera.

    re-estudar e estruturar os usos de uma série de ferramentas que coordeno. sim domino, algumas, algumas partes, mas então as re-descubro, observo, deixo reverberar. tem um montão de ideias e construções que não fariam parte se, se não houvessem madrugadas. e esses horários – não há mais horários escriturários com que cumprir.

    um mês depois, um estribilho. selo, carimbo, estampilho. criança acordada, criança turva, os olhos de novo, de novo, aqui.

    de andar pela cidade sem chão envolta em tinta de árvore urucum que seca ao redor do tempo. as ruas vazias, tantas ruas vazias na cidade gigante e a essa época sempre aparece um ou outro ciclista repentino cantarolando um funk, fantasiado de rosa, um pedestre contínuo.

    uma senhora bordada toda florida observa periquitos entoarem na copa de uma árvore. no meio do caminho, a saúdo, sorrio – a dar com os cães na rua como sempre me ocorre, ladrilhos, arredios, que me latem – ela diz: olha para o céu; as pessoas olham muito para o chão.

    e ficam duras, arredias. emburradas a empurrar suas crianças para dentro de caixinhas mínimas, elas não merecem isso.

    elas obedecem sim florear obedecem com esmero obedecem e des-existem aos poucos obedecem aprendem floreiam floreiam floreiam esperneiam e pois assim, subir em árvores, cair no chão. de maduro! assim como colhia mangas há dois tempos, o ano do verão, do relembro como é andar sem chão e sorrir

    andarilho, de novo essa peça, essa peça de cabeça que encaixa e ei! sei assim andar!

  • eixo

    pensar o texto em termos de forma. “esse tem ondas”, “esse faz uma curva bem atrás”, “estrutura que parte de três tópicos, que na verdade são três manifestações diversas de um mesmo modo de pensar, em diferentes níveis, talvez”. tá muito abstrato? bora repensar.

    a emergência do novo. como se contamina.

    não dá pra falar da criação de mundos sem pensar que os elementos recombinantes devem fazer parte de um mesmo ambiente aberto. contexto.

    abraçar uma ideia: implica em quê?

    os conflitos são de certo modo reconfortantes, se os praticamos mansamente todos os dias. avançar.

  • nos confinaram num planeta incerto

    gozar pelos caminhos

  • trajeto

    às vezes eu tenho a
    estranha vontade de
    dormir num ônibus
    não que seja confortável
    não que não haja ruído

    é o simples gesto de
    estar em movimento
    ir de um lugar ao outro
    como se com isso –
    transpondo cidades –
    algo pudesse
    transmutar

    constelação vista pela estrada
    ruído de máquinas, parada
    assunto de duas cadeiras à frente
    música
    não gosto, me vejo procurando caronas
    mas quando dizem que – vamos conversar
    agradeço meu direito de permanecer calada
    embarco num ônibus, adormeço entrecostada
    sonhando abruptamente com locais
    um pouco menos vagos

    situações menos gastas
    encontros calorosos e afáveis
    conforto de saudades
    duram dois dias, em média
    no restante temos que trabalhar
    e se algo foge à regra
    posto que situação: viagem
    passeio passeio gana
    perco-me sutilmente
    entre apreços
    e paragens

    o core pede: luta
    concentração faremos
    em que localidade
    em que zelo encontre pela estrada
    uma casa, a que custos
    de frequência e lentidão
    costumeiramente
    saudáveis

  • ca

     

     

     

    o canário se aproxima
    não é hora de se subjugar
    tecer constelagens de pequenas falsas mordagens
    firula, que nem algoz
    diria que não
    diriam que não tantas coisas
    furtivas vozes que se refraseiam
    e parafraseiam cristais
    pardais sem nome
    pássaros migrantes sem lugar sem hora
    capaz
    foste uma vez mudar
    de capa, de penas, de anzóis
    e casacos de chuva, para
    dias secos que se seguem sem vez
    aridez de tantos cantos
    de danças que revigoram
    caminhos
    abraçam amigos fazem chorar
    cantam vestígios de toda hora
    prontidão
    rastros cantos quebrados asfaltos
    mortes pelas vertigens dos estados ali
    amigos, de novo, presenciam
    alguns
    solfejos dos sem caminho
    das fugas premeditadas
    daqueles que guardam dinheiro há dois ou três anos
    providências
    barcos, tenho pensado em barcos
    mais que aviões
    que afundam, barcos, asas, pássaros
    e modos de transporte menos lembrados
    ainda que catracas, consulados, gente que irá te julgar
    em tempos em que violam países
    sempre violados, a história diz
    tão frequentes as violações
    que se pensar nisso não move uma pena
    uma linha sequer
    e tantas linhas se tecerão
    pelos encontros as danças
    nunca parar de dançar
    nunca pestanejar, ainda que
    inversões caminhos entremeâncias ainda sonhos
    ainda diversos lugares viajo entrementes
    danças, volto, rememoro, faço espiralar
    nunca deixar de dançar nem os encontros
    lá, a teoria, as ideias tão antepassadas
    e que no entanto retornam
    perduram, te atiçam em voz e são os universos que colidem
    os tanto mais a incentivar
    lance curioso
    atrito produtivo
    vontade
    vaz

  • estrutura

    como se reinventa um corpo
    (um desejo)
    a olhar por ele mesmo
    a se ver

    campo ampliado lente macro
    composição inteira
    de pé

    sustento, de pé
    altura, de pé
    postura, de pé
    abdômen, de pé
    (bem fincados, peso distribuído)

    peito aberto
    olhar