• casco

    lentidão,
    como é bonita
    a tua terra

    como tece o teu segredo
    entrementes
    toda vida

    como constrói
    um arbusto
    tão sereno
    que tudo percebe

    silencioso
    arbusto

    todavia
    carrancudo
    lento,

    ameno
    tão seguro de si
    tão tormenta

    terminaria todos os afetos
    encurralando aquilo mesmo que vi
    que vivi
    em um ato

    sereno,
    contudo

    um domingo
    no campo asfalto
    se nem montanha

    amor
    sobe
    atravessa
    todas as pontes

    desato

    desalinha
    os montes

  • i

    atores mesmos são eles gestos. vozes que não se misturam, vazios intelectos, atos que vão seguindo pontos, dançando pontos, se perdem.

    escandalosa miragem permanece forte na rua. quer invadir atos, vontades, mas só atinge a coisa mesma, sem nexo. é raso. ricocheteia nos prédios, nas pessoas, não vaza em ninguém.

    conversa de bar que escorre e praticamente não existe. só imagens, sorrisos, rumos difusos e repetições. às vezes música, som alto vindo das vozes, subterrâneo de atividades sonoras, efeitos químicos. nada mais que urgência, não é importante.

    converso no lugar, me junto, perco o dito das coisas e enfim faz sentido! entre perambular pelos escambos, pelas brechas, acessos à cultura e à imagem por um pouquinho de escape. mundos pequenos que apresentam eixos universos.

    do verbo que ainda não existe, acontece.

    situação simples que inverte, alimento, torna energia o fluxo. rodopia, cumpre, faz girar.

    quase sem nada, meio sem nada, por isso lá.

  • biblio

    eu sou uma biblioteca. ainda que dispersa, fogo inquieto, terra mutável, devaneio. meu tino é enviesar, duvidar de tudo, desmontar — depois voltar, olhando, reinventando a partir do que viu.

    esse corpo já foi a muitos lugares. muitos mesmo, menos do que gostaria, mas sim. em qualquer lugar em que pouso me ponho a andar. é maneira de descoberta. mapear os cantos, ouvir, ouvir, pedalar, cruzar fronteiras, fazer conexões. pessoas, trânsitos. para cada espécime uma língua, para cada caldo seu zelo. vir a encontro. misturam-se todos aqui. sem titubeios, hay de dançar.

    nas montanhas deste corpo habitaram filmes, invenções, conexões celestes, códigos abertos em respiração. hay de habitar o gesto, o movimento — dar-se a encontro, abrir — e também compor, saber ouvir a música. são nossas vozes, nossos dedos. num intervalo de respiração nos damos conta. está lá. no mundo, no ar. aqui. cria imagem com teus zelos. alucinação. eu rio, é assim, é assim que começa.

  • azurelaços

    tem algo de errado com a matéria. com a notícia que enrijece meu corpo quando é dia – e se morre, mais uma vez, tão constantemente! aguentar os debates urbanos e notar que de fato precisa deles, ainda que haja um quê de envenenamento nas ideias totais, nas montanhas.

    há como proteger-se com tanta lembrança – e a constância, ó, meu deus, se vai dia a dia, semana a semana, alternando seus meses gastos com a vontade de ser, de fazer massas azuis que brilhem, e não só o gosto da música que pontua os relógios.

    permanece um poço, tranquilo, que busca nuvens quando abre espaço nos lençóis, e dois dias depois vai olhar a lua que anteontem era azul, agora já é meia-luz. ainda bonita. difícil construir com dedos desejos afetos essa vida inteira – vida de gente que assume e vai. quero medo-desejo, banho de rio agora, ternura e vento frio na espinha; alegria de lentidão. na roça.

    conta que não há porque, foi assim mesmo, e mesmo assim sobresiste? é como farinha que constrói castelos de areia numa praia distante, quisera, fora do tempo. porque hoje é aquele bocado de gente se acotovelando por um lugar no (guarda) sol, veraneio. agora busca vantagens múltiplas numa cidade esquisita, onde não dá tanta gente.

    deveriam caber em árvores, viver lá no canto, no alto, vibrando escutas ao que o céu parece mais perto. sereno. vontades, jovens mil, comofazemtrutas? gíria de asfalto, costumeira.

    aguento e pereço. vivo o mundo se posso dançar. se sei ritmar, tanto como os carros do centro da cidade quanto nos planos andantes, nos ventos de floresta que vão ecoar lá no mar, em casas em santa teresa e no resto que só vem te beijar nas ladeiras da lapa. florezinhas. cachaça com gengibre ainda não cura gripe, mas deixa os pacientes bem alegres.

  • casita armar

    casitaarmar

  • brincadeira de criança, para além-horizonte

    experimento em narrativas midiáticas, dois mil e seis, niterói

    um risco no vazio, será possível? o fósforo acendeu, no meio do nada, não fui eu quem quis assim. simplesmente aconteceu.

    e agora todas as nossas vidas passadas, enroladas em banho-maria, deveriam envolver-se também? exatamente como fomos todos sucumbidos pela força gasta nos dias de trabalho ininterrupto. meus tempos nunca são os mesmos que os teus, ou penso eu ser dotada da infelicidade de experimentar tudo ao contrário: primeiro o fim, as brigas e os tormentos.

    um beijo na tua testa, para pedir perdão e lembrar de carinho, também. e depois uma lambida nas costas, que nem só de afagos digitais nós vivemos, um dia quando acontecer.

    minhas ilhas sonhadas, sem arquitetura de shopping ou qualquer ordem, havia senso de competição nisso tudo, constava nos planos? o propósito de sempre se divertir mesmo se tudo desse errado ficou, mas só ele, sem querer alcançar alguma coisa, não dá conta.

    se você vai mudar de vida ou se eu vou tomar jeito e ir trabalhar, só saberemos com o passar dos bocados. até lá, quando me faltarem palavras é porque algo de bonito eu omiti por não me permitir os excessos…

    em um desses dias de ano novo eu devo ter feito um pedido, assim, de brincadeira (pois não sei se acredito em nenhuma dessas coisas), o de viver algo que não pudesse imaginar. porque penso que se já fui capaz de imaginar os mínimos detalhes de várias histórias, já proibi todas estas de existirem de verdade. minha imaginação nunca corresponde ao que verdadeiramente acontece, ou é a memória que não é capaz de dar conta de verificar. mas, conferindo qualquer uma das duas hipóteses, o que acontece de real sempre vai além. talvez seja esta a característica mais excitante de todas as histórias, caso não seja a minha imaginação por demais desprovida de criatividade.

    talvez eu tenha deixado as brincadeiras-de-videogame (as quais pra mim sempre foram equivalentes a brincar de imaginação) jogadas em algum canto empoeirado da minha infância, e por isso, todas as histórias criadas em papel palpável, mortas.

    se acreditasse nas minhas próprias, as reais e as imaginárias, possivelmente poderia também acreditar que um dia nossos avós morrem, e não só os avós, que uma amiga vira aeromoça e o outro vai morar na islândia. que nem só de sonhos são feitos os dias, mas que eles existem de fato essencialmente para esboçar o futuro. se não cometem a proeza de acertar nos detalhes, podem ser ainda e sempre ricos em firulas, cartões postais enviados dos lugares mais distantes e das situações mais dignas de desenhos animados.

    eu, no meio de uma praia deserta, gritando “adeus!” a um navio que parte. eu, correndo numa praia deserta, dormindo numa praia deserta, bebendo água de coco o dia todo. eu, surfista… quanto tempo preciso para lembrar que quero ir à praia? ficaram presos nos desenhos animados? (os sonhos? as praias desertas?)

    eu, piloto de avião, desenhando num céu azul, caracóis. eu, subindo os alpes suíços, dando uma palestra a estrangeiros. eu, posando para uma capa de revista, dando entrevista sobre a minha banda de sucesso! nem só charlie brown pode possuir uma banda. aliás, charlie brown…

    muita lenha queimada nos dias da minha infância, uma quase infância-wannabe, depois destes tempos de vida em apartamentos e o fim dos sítios-refúgio. banho de rio sempre foi uma referência, mas competitividade não. me ensinaram a ser feliz, mas o caminho seria algo a descobrir sozinha.

    o cheiro de lenha me acompanha até hoje, está no lugar-home do conforto assim como o céu estrelado. depois, os telefonemas de voz sobre ip ninguém poderia ousar prever, talvez nem uma questão de achar extraordinária a situação, mas… nem só de distância vivo, ainda mais aquela construída.

    olhares oblíquos para além-horizonte! peixes nadando em voltas, fazendo espuma e sons bonitos na água. eu, sentada na areia, fitando a lua nascente.

  • assunto

    i change my mind while i speak. sussurro na sua orelha, em pé na rua, laçados. quase-performance no meio da praça largo do machado, em frente ao metrô. é amor, i say, é tesão, você pensa. quadrados conformes, acordos esquisitos mas memoráveis; no que nos diz respeito é tudo memorável. aqui, não ali. minha memória é o mundo, está no mundo, internet, tudo isso. deleto para mais não ver, a web é pura visibilidade, vigilância. penso que eu seria mais calma se me concentrasse nos livros e não nas telas de computador.

    memória plena, vontade. uma tarde inteira, uma vida inteira, eu faria. faria mesmo? sei de vontades, sei de memórias inventadas, constelações, vícios e abraços. intensidades eu tenho vontade de guardar todas para que se multipliquem, mas elas preferem o mundo.. talvez um dia tenha sucesso na coexistência entre mundo e o mundo, mundo e intensidades, mundo e desejos. fluxos que se percebem e não têm medo. alguma ordem no que não se nomeia, um a de aceleração. catálise.

    alheamento é para não confundir, para costurar desejos. embate em conversa, guerra de almofadas, guerra. conhecer em excesso é participar da vida? não se sabe; participar pelos outros implica em conhecimento. ou é uma definição. me especializo em “it’s complicated”, não em definições. ao menos existe o lado divertido da vida, esse que faz voar em pequenos bocados e carrega consigo um resto do todo. não completa, mas percebe e se põe em contágio continuamente. esponja. mundo-esponja é cada um que se abre.

    meu corpo é uma interface ou o conceito é mais amplo? mais estrito? devolvo a pergunta, reverberada. e com quê de mistura, química; é assim por agora. dissolução.

    ____

    alhear

    v.t. (1) tornar alheio; alienar, privar de. (2) fig. alucinar, desvairar, enlouquecer: alhear as mentes fracas. (3) v.pr. tornar-se alheio; evitar intencionalmente tomar conhecimento de algo. (4) arrebatar-se, extasiar-se.

  • re-floresta #1: apartamento

    recuperar as folhinhas. sacrificar o pranto, veneno, que turvou tantas tardes esses tempos. o manjericão morreu aqui em casa. signo de abandono, de sol, de infestação de bichos. muitos incompreensíveis, mas dentre eles há abelhas, só hoje foram quatro a visitar a cozinha. e olha que recém-limpa. fascinaram-se pelo mel. há muito compreendi que mel é de fato um roubo de abelhas, o seu mel, o seu leite das crianças. mas ainda acho curioso que me apareçam tantas abelhas em um apartamento, de sopetão, na cozinha.

    zumbiram no meu ouvido, eu lavava louça. a abelha me rodeou, observou em volta no seu desefreado voo, incompreensível. alegria da abelha quando puxei uma fatia de melancia da geladeira, parti, deixei na pia. um pedaço meu, um dela. mamou alegríssima. e logo voltou para o mel, acompanhada das amigas.

    amanhã se fará uma meditação em prol dos bichos pequeninos que habitam uma horta próxima, urbana. alegria horta, tristeza horta, amores horta, comunidade. força da comunidade e dos bichos pequeninos. libélulas, joaninhas, grilos e muitos outros que sim, se afetam com o veneno espalhado pelo ar que busca combater os mosquitos. onde há diversidade há vida. se acontece uma disfunção ou doença – a doença do mosquito – é porque há desequilíbrio. sempre entendo que a natureza está querendo nos dizer alguma coisa, com essas disfunções.

    disfunção aqui em casa. mas de novo também um olhar, e esse viés incompreensível, que direciono a lacraias, traças, cupins: pragas urbanas. deslocadas totalmente de sua função, infestantes, sem predadores. na abstração do apartamento. cidade como abstração completa, mas disfuncional, distante de fundamento.

    a questão de estar em lugares não se resolve, acompanha: tudo um ponto no meio do fluxo. aqui encontrei casa, aqui construí lugar. aqui teço relações em volta, ainda que muitas das atividades, em concentro e imaginação, estão verdadeiramente dentro. dentro de um espaço qualquer e muito próprio que não é esse das ruas, sequer do apartamento. não tem a ver com esse ventilador que me torna possível – via corrente elétrica – uma tarde de sol encapsulada nesse empilhamento, na solar, desértica e vasta são paulo.

    conhecer a vastidão do solo: ainda há muito a explorar. muito me diz que está nas margens uma resiliência que não se vê nos acentramentos, uma alegria de que pouco se fala. um lugar assimétrico, forte, longe dos postais.

    a incompreender postais que se compõem de vale do anhangabaú, teatro municipal, ruas, viadutos, pontes. je m’en fous para as grandes construções. há muita vida em volta, mas ela não encontra alimento. se espalha em ruídos e fluidos que não escoam.

    os postais da cidade de onde vim tampouco me comunicam. acabam por ser construções, que paisagens. formam paisagens anedotas completamentes construídas, idealizadas, extraordinariamente caras, com legendas múltiplas para quem vem de fora. de novo um lugar é muitos, uma cidade. rio pra mim cidade turva que só, de caos e afetos, mal resolvidos, presos em engarrafamento.

    um acolhimento em torno de si, do benfazejo sustento, é necessário para validar uma inscrição – construção do teto que se faz em subjetivo e muito concreto. casa, abstração, escritura e fluxo de tempo.

    faz tanto tempo que não vejo o sol, de dentro.

  • 2013&mídia&rua&

    montação é amor. aqui, outros nomes, uma apropriação. mídia montada de asinhas de fora, se faz de amiga, quer assaltar as máscaras de multidão. violência de estado corrompeu nossas ruas. contação de alertas, gente no chão: pensamento difuso, escreve-se para fagocitar os termos, desentranhar os caminhos por entre as nervuras do acontecimento.

    derivaceleste:

    saber emaranhar os acasos nas estranhas lágrimas provocadas pelos anteriores.

    o medo, a sede, a luta e o sossego se contaminam uns aos outros até não existirem mais.

    não há permutas, marmotas, percepções inertes ou qualquer outro sentido além daquele visível, ainda que tão turvo, paspalho:

    serão neves, tudo ao inverso. ou talvez não, coisadura. não serão fascistas a nos buscar nas casas, senhora no batente, senhor na multidão (infame ilógica inerte que perdura). enxame de refugiados na tijuca, naquela rua perto do estádio, encurralados no próprio quintal de casa. ninguém entende o assunto em voga, há tanta confusão.

    de voz em voz uns tentam pintar as cores todas de verde e amarelo, as janelas de inferno, as lutas de brincadeira e então desvalorizam o todo, a própria multidão. em processos, recessos e mistérios, porque são muitos e mil-ações.

    não tem jeito de cessar o grito porque vem de longe, de muitos, muitos anos, adormecido que estava nos pulmões de tantos, expelido enfim por aqueles que puderam se manter vivos de alguma forma. e não é caso de impeachment, sem surto. isso é tudo lorota turva, e muito simples, um caso de apropriação:

    (explicaremos primeiro a oposição)

    reacionário (adj.) é aquele que é contrário a quaisquer mudanças (sociais e/ou políticas); que se opõe à democracia; antidemocrático. sinônimos: antidemocrático, antiliberal, retrógrado e ultraconservador.

    (nada como um be-a-bá das curvas)

    tampouco nos iludamos com o liberal (s.m.), isto é, aquele que é partidário da liberdade em matéria política ou econômica. no plano econômico, é um perspicaz enganador, astuto defensor das desigualdades e do dinheiro no bolso dos indivíduos (sic) de bem.

    nenhum deles representa um perímetro maior que o próprio umbigo. talvez, e digo sem muita convicção, sejam capazes de estender algum apreço a familiares e uns poucos semelhantes, pelo puro louvor conferido à família e a propriedade, ambas instituições tão intimamente conectadas. compartilham regras, egoísmos e convenções.

    campo minado! acabaram nossos montes, direi. poderia ser – a crise já se estende por tanto tempo que mal é possível morar na cidade, e então lembramos de tantos problemas interestaduais e tão mais antigos: a polícia militar.

    (militar é um órgão capaz de eliminar todos os outros, e, por isso mesmo, deve ter sua existência sumariamente questionada)

    e então os bondes, as cores. os trios elétricos que se não estivessem cercados de tantos políciais (e nunca entenderemos tantos policiais) seriam carnavalescos, polivalentes quaisquer-uns com tanto orgulho de enfim existir. sua manifestação nada mais é que uma afirmação da própria existência. decidem ter voz. depois de tanto tempo que não se sabe ao certo de crença forçação velada em crer num sistema de números, morfemas, eixos temáticos e não se sabe ao certo e nunca em quem votar – requisito infame de uma política de delegações.

    hannah arendt diz que quando há autoridade, não há ação política: o poder de agir, nesse caso, é outorgado ao governante ou pequeno grupo que governa. pois então expliquemos, para fazer frente os confusos, gente que confunde totalitarismo com revolução (soa surpreendente, mas vive-se num mundo de disfarces, e nem é tão nova a ideia)

    desacredita no sistema em ritmo contagiante de alienação // os espaços abertos são ricos em propostas e experimentos // há aqueles (e são muitos) que procuram lideranças/desejam lideranças/querem depor o lugar // me pergunto se precisamos de lideranças em qualquer lugar // o plural é importante // não se trata de verde e amarelo // bandeiras vermelhas representam grandes articulações coletivas por direitos sociais, nunca se esqueça disso // mídia golpista, que termo sensacional // veja, minhas máscaras foram usadas por outrem // ela foi às ruas e não sabia porquê // os discursos mudaram e continuou seguindo a marcha // mudaram o rumo e alguém ficou?

    aqueles que pintam de branco são aqueles mesmos que desejarão eliminar todos os que não puderem se vestir da mesma cor.

    você quer ser eliminado? ou espera obter uma fatia do bolo?

    política de recortes, de cartas marcadas, de confusão. publicidade, política de imagens, vote no cara legal! os códigos binários e seus comandantes esperam somente respostas de sim-ou-não, são surdos de formação. no ministério das cartas altas, há interfaces e intermeios, ideias que protegem outras, surtações sim, mas muita blindagem, tanto de gentes quanto de informação. as curvas se contaminam, se misturam, não existe pureza no sistema: política de disputas, muita gana, fica um lembrete: a política é dura, mas é negociação. é perigo quando não se definem os temas, fica azul de imensidão

    (sabe, aquele que preenche as arestas, cega no horizonte e se deixa engolir no sifão)

    baderna é nossa aliada mais vasta, sim, posto que: vândalos são os policiais e seus mandantes. mas se nos chamam todos vândalos, se inserem vândalos entre nós, se vandalismo é a última moda da passeata multicolor da esquina, se qualquer passante é um vândalo em potencial, se o opressor é quem tem razão, se dão vazão às armas, tratam rua de cartazes como batalha campal, em suma, se nos bloqueiam, e atacam, seja nas ruas, em casa, em todo lugar, se não pode tanta coisa, se a fifa pode, se os donos podem, se a tevê pode, se o jornal quer convencer a sua mãe do nosso vandalismo, então sim, somos todos vândalos, vândalos venceremos, vândalismo vão de caminhar na rua, correr do gás, cair no chão..

    curioso notar que as bandeiras do começo eram pelo pleno direito de circular – de andar! pois se cortam as pernas e cobram caro pelas próteses, cobrem tudo de cimento e aqui só passa carro blindado!

    que espaço é esse forjado sobre tanta argamassa de minérios e gente que veio porque acredita que precisa trabalhar, que não come se não tiver sangue pra derramar, massa de manobra e ahhh.

    faltam dores cores palavras pra dizer o porque dos tormentos, a coisa é tudo menos plana, vigente mas cheia dos interstícios estelares e sem muitas rotas de fuga (antes houvesse – a rota maior pede uma passagem de volta, pagamento no cartão, endividamento)

    roda de chão sem voltagem, rebobina tudo, eu não quero levar porrada de policial.

    acordar com helicóptero, quintal de casa como campo de batalha.

    celebridades felizes na televisão, todos canarinhos.

    esporte é disfarce de exploração.

     
     

        * texto revisto, publicado originalmente no vocabulário político para processos estéticos