• andarilhe

    de toda intenção de florescer, agora revolto em sustento. de novo isso, mas isso sim, isso de novo, isso teremos de sustentar. sustentar o sustento. coordenar a procriação da dança, o benfazejo com esmero, toda esperança: laboriar, laboriar, laboriar.

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    re-criar os modos como se laboreia. refazejo de forma, de estrutura. confecção de linha, porventura.

    das variáveis, constantes:

    esse fluxo de vozes imbocáveis que atravessa o corpo, todo o tempo. uma onda de caos, uma onda de amor. me atravessa, está aqui. agora grito, estribilho, tudo fica dentro. guardadinho. enviesar todos os preteridos para depois, todos os assuntos. não existe depois, existe uma linha que se domina, que se tece, é tecida pelo tempo. costura mesmo, invedação. corrobora com os caminhos se de caminhos é feita ela mesma. e então sair

    dominar o alimento. máquinas, admitirei cedo ou tarde, as esnobo. possuir o mínimo, agir como se está, simplificar os modos de andança. porém, eis que algumas, eis que usufruto, estou em. máquinas, operar com minimalescos botões de mimo, miniatura, antevendo já todos os traquejos que acontecem quando não se prevê máquinas, sim máquinas, botões, procedimentos, tudo o que já está dado como propriedade. o erro, o erro ocorre quando não prevê mas também quando excede, assunto de acomeço e invento, reverbera.

    re-estudar e estruturar os usos de uma série de ferramentas que coordeno. sim domino, algumas, algumas partes, mas então as re-descubro, observo, deixo reverberar. tem um montão de ideias e construções que não fariam parte se, se não houvessem madrugadas. e esses horários – não há mais horários escriturários com que cumprir.

    um mês depois, um estribilho. selo, carimbo, estampilho. criança acordada, criança turva, os olhos de novo, de novo, aqui.

    de andar pela cidade sem chão envolta em tinta de árvore urucum que seca ao redor do tempo. as ruas vazias, tantas ruas vazias na cidade gigante e a essa época sempre aparece um ou outro ciclista repentino cantarolando um funk, fantasiado de rosa, um pedestre contínuo.

    uma senhora bordada toda florida observa periquitos entoarem na copa de uma árvore. no meio do caminho, a saúdo, sorrio – a dar com os cães na rua como sempre me ocorre, ladrilhos, arredios, que me latem – ela diz: olha para o céu; as pessoas olham muito para o chão.

    e ficam duras, arredias. emburradas a empurrar suas crianças para dentro de caixinhas mínimas, elas não merecem isso.

    elas obedecem sim florear obedecem com esmero obedecem e des-existem aos poucos obedecem aprendem floreiam floreiam floreiam esperneiam e pois assim, subir em árvores, cair no chão. de maduro! assim como colhia mangas há dois tempos, o ano do verão, do relembro como é andar sem chão e sorrir

    andarilho, de novo essa peça, essa peça de cabeça que encaixa e ei! sei assim andar!

  • rompe

    isso que você está sentindo não vai passar. tudo isso que são sintomas do ovo, do ovo que se quebra, da casca melequenta, e do tom esbranquiçado da coça. foi uma coça, cê viu. aquele jumento, monumento que passou e quebrou. a casca. o ovo. a tomba, a tumba do sistema fóssil, aquelas coisas que de vez em quando surtiam efeito, estavam embaixo dos teus pés. um monte de cano, asfalto, veias remelentas de esgoto, que na verdade é muito pior. estrutura de estado, pra quê? não tem. repete? não tem? repete? não tem. não terá. por um tempo.

    a casca. o ovo. quebra. tá ali. vamo se juntar. vão publicar no jornal. vão te monitorar na rede social. estaremos todos sozinhos juntos na rede social. não, pô. vamo se juntar real, pessoa-a-pessoa, lá no lugar onde até outro dia era do ministério. vamo tocar, vamo discutir, fazer barulho, organizar. vamo. vão publicar. vai demorar. a juíza dos horários, vai comer correndo porque tem trabalho. ainda tem trabalho. resolveu fabricar trabalho. inventou um jeito de devolver pra sociedade o que ela te dá. ela te dá? coça. a gente troca, mas não é só isso né? a gente existe e faz. a gente se enreda. e envereda no que dá gosto ou no que a gente consegue visualizar. no que dá pra fazer. e o que dá muda. a gente muda. a gente procura gente pra juntar pessoa-a-pessoa porque precisa, precisa junto, precisa fazer.

    a gente quer estrutura debaixo dos pés. alguma, ou então que não exista nenhuma. que não exista governo. que não se pague impostos para um brutamontes qualquer e sem disfarce pôr seus capatazes a nos decepar direitos e lugares (porque é tão evidente, de uns tempos pra cá tudo tão evidente para as lentes de quem vê — aquelas?).

    esquerdos, direitos. alhures. se juntar.

  • performance do ponto

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  • nos confinaram num planeta incerto

    gozar pelos caminhos

  • de tanto rugir, alcanço uma beleza que gosto
    de tanto medir, me rasgo
    de tanto começar, reinvento, resgato um alento

    de tanto fugir, chego a um consenso
    frente a frente com o rasgo
    compreendo a dor
    tudo o que confere caminho
    é válido

  • foguetinho

    um caminho abestado
    besta tem vez
    sabe embolado sufoco marcado
    besta tem

    invenção suplínio
    cabestadura e não sabe
    arrefecer do sossego
    desinventar o ódio
    embasbacar a zebra

    sabe enrolar uns novelos nocê
    sabe, sabe curtido
    imensidão de três ladinhos
    cascalho quando mente
    pede novela

    caboclo quando conta história
    inverte tudo ao contrário
    sabe novena
    (sabe nada)
    sabe mistério

    desembolar o asfalto
    AÍ SIM
    pede três foguinhos
    eles vêm embalados em
    papel de seda, pomposos
    consomem três florzinhas
    de zebra, três caramelos
    azulados, foguetinho

    ele já se perdeu
    não sabe o caminho do rabo
    a casa investe em montantes
    duradouros, ele sabe
    quisera eu

  • limiar

    engole velocidade
    luminosidade das bordas

    argumento
    a

    palavra não cede
    não é objeto

    abre

    cosmologia da boca:
    gosma falada

    às vezes, constelação
    que se compõe
    pelas calçadas
    no fim de tarde
    e de manhã

    quando cessam as vozes
    e as buzinas
    se transformam
    em árvores

  • corpóreos

    preto pretofurar vermelhobases1 vermelhobases2 vermelhopilaresimagem