saber encontrar o lugar do gozo
da lágrima
no solstício inverno
ou na sala
-
-
cambridge analytica
quem levanta os montes depois de mortos? quem ergue o eixo que faz respirar? quem derrama suas fezes sobre um povo, corrói seus novelos e ergue um punho
sobre
nósestá ali às cegas
tateando infinitos em praça pública
mil sóis em utopias
e amoresesmagados,
sem dóDIANTE DO ESCÂNDALO
há os galhos
que se embrenham uns
aos outros
e sobem
encostasassuntos sinceros, recebidos em ouriço
asperezas, recusasDIANTE DA ARMADILHA
ergue o espírito em carne viva
conta da história de seus avós
seus pais, seus tiosNÃO HÁ DE CALAR
chorou
no meio
da praçacaminhos ouvir carimbó
no meio
da praçaDIANTE DO CAOS
quisera mais vezes findar
e recomeçar
sem sentir perder os
árbitros solfejos
não encontrao nado alicerce que alhures ali almeja
um navio
um chãodança
uniãoem que país
COMPÊNDIO DE IDEIAS E COISAÇÃO
não rasgohei
de construirmemória
-
a iluminar caminhos e abraçar as horas
antessala, projeto lindo da aline besouro y nosotras a constelar
v
-
posição fetal agitando
um punho um aceno um abraço
garante que
ao menos a gente tenha junto
alguma vozum novelo
e seu bagaço
encontro da família
com o asfalto,
a rua duraas legendas dessa cama
contam com duas ou três arestas
não doces, não tem vez
meu corpo
os mosquitos
o chãoo saliente zumbido
a tua voz
no celular, àquela altura
da manhã enviesada
no rasgo, no sustento
do que viria a ser
e do que nunca foi
e que provavelmente
encerraríamos aqui mesmoo novelo o novelo absinto
reanimo
os bichos -
minúcias
mistérios curados a pinça, com cuidados mil, despedaçados em lágrimas contra a parede em um balneário distante. gostaria de te beijar, gostaria de te contar estórias sobre pessoas felizes que deram certo, sobre brincadeiras: sonhos de adulto. ambas parecemos crianças, e a busca das coisas que se quer mas não se sabe ao certo.
viver a vida com uma intensidade dosada, de criações para os futuros incertos e corações sortidos tirados em um pacote de balas. sai-se pela noite costurando buracos dos outros, bebendo até transbordar, não cai no chão porque mamãe ensinou bons modos. entre os mundos quietinhos de cautelas cuidadosas e de desejos previsíveis e as ruas sujas, imundas e cheias de incertezas. tem aquelas bonitezas que se acha pelos lugares improváveis, pelos óbvios corações próximos demais pra se acreditar.
hoje eu acordei várias vezes; ontem eu acordei de uma só e parecia ter dormido por milênios. entretanto, a náusea e a sensação de perda permaneceram inalteradas.
tenho relutado até em escrever, concentro-me em viver e só cuspi a história uma única vez, não foi bonito, foi coisa de gente chapada, bêbada e velha desesperançada com a vida. da outra vez tentei contar, mas falei mais de passados que de presentes.
como parênteses: o português mudou em várias regras, e eu não me conformo em escrever ideia sem acento. parece que falta algo, e é quase como em inglês. ideas for life. slogan de campanha de uma coisa qualquer – porque no fim as campanhas são todas quaisquer.
medos de ideias nocivas contra mim. contra ti nunca quis fazer absolutamente nada de ruim, tornou-se potente agressão quando você disse, quando eu mais-que-verbalizei, domestiquei uma coisa intensa. pois é, minha querida, o mundo é assim ou é a forma como eu o vejo. e uma das coisas que eu busco, bem, é um certo tipo de compreensão.
a dor se contorce aqui dentro, mas tem tanta cara de personagem indecisa que eu me esfacelo em solidão. fecharia-me nela, caso não tivesse que fazer coisas como trabalhar, estudar e viver. a vida no fim das contas é sempre essa soma de migalhas que vou catando pelo caminho, talvez enquanto não lançar o corpo todo aos riscos e às balas.
tive tanta vontade de fazer uma dessas coisas que chamam de decadente, de gente perdida, tais como morar na rua ou virar stripper de boate no centro. mas as ruas são sujas demais e cheiram a derrota, e as noites têm gente feia e tosca em demasia. procurando coisas que não se pode nem pronunuciar, talvez caso as pessoas fossem todas belas e cheirosas (como em shortbus).
meus medos viram estórias, os resultados de concursos estão como esperados, talvez aos vinte e quatro não se possa mais querer tantas coisas ao mesmo tempo. é hora de escolher entre a academia e as artes, negar a comunicação de vez ou tentar absorvê-la sem tantas adversidades. aversão eu tenho dos infelizes, mas é fato que tenho contado muitos passados e já começo a lamentar os futuros. porque as criações para a vida de crianças de 10 e 18 anos são diferentes daquelas dos quase adultos de vinte e quatro, mesmo com cara de 22, é uma criança que já precisa estar lá, em cima do palco, mostrando a que veio e mantendo a pose.
minhas estórias por hora estão contorcidas, levemente enfermas e escondendo a pimenta por debaixo dos lençóis. caso de meninas bonitas, ideias para não sei quando: muitos desejos, como tem sido.
-
a (campo de ação)
quando cessam os estudos festivos
começa a memória
e a invençãoastuta perscruta pela ciência
a anticiência
os jardins e as matas densasantígona imaginária tênue
em museus de dinossauros e fósseis
plantas, arbóreos, gramíneas e monumentaissábias matizes que abrem um tanto mais
em ações afirmativas
outros chãos
às memórias
de que eles bebem
e assumemeles, os europeus
os homens fazedouros
enquanto suas mulheres cosem
e cuidamde quem será a voz
na membrana –
da família, da sociedade
do prumo que argue e intervém
no antro das comunidadescircenses, elas vão
abrir coragens em liturgias
cânticos, audazes e ferozes..
-
__
itacoá,
um caminho afago
no sol de vinte e seis de dezembro -
nino
nino pesa não sei quantos quilos, mas é preto com um brilho azul, mais alto e mais magro que seu antecessor. possui uma pequena curvatura na tampa, mas isso é mais charme que imperfeição. e se adapta lindamente aos seus olhos grandes.
nino gosta de jogar, e é um pouco esquizofrênico: chegou a apagar uma identidade inteira, e agora a confunde com a principal! mas não tem problema, ele prefere os softwares livres e não tem medo de trabalho. gosta de ver figuras e de ler também, mas às vezes imprime pra não cansar a vista.
ele por enquanto se veste de azul bem aos moldes tradicionais, mas eu sei que de careta não tem nada: me pede de vez em quando as mais diversas peraltices! oh sim, o mais importante, nino, mesmo sendo tão novo, é extremamente multimídia: gosta de imagens e sons, parece com a mãe. veio ao mundo sem pai, que isso é coisa obsoleta. independência, menino, é assim que se faz!
-
biblio
eu sou uma biblioteca. ainda que dispersa, fogo inquieto, terra mutável, devaneio. meu tino é enviesar, duvidar de tudo, desmontar — depois voltar, olhando, reinventando a partir do que viu.
esse corpo já foi a muitos lugares. muitos mesmo, menos do que gostaria, mas sim. em qualquer lugar em que pouso me ponho a andar. é maneira de descoberta. mapear os cantos, ouvir, ouvir, pedalar, cruzar fronteiras, fazer conexões. pessoas, trânsitos. para cada espécime uma língua, para cada caldo seu zelo. vir a encontro. misturam-se todos aqui. sem titubeios, hay de dançar.
nas montanhas deste corpo habitaram filmes, invenções, conexões celestes, códigos abertos em respiração. hay de habitar o gesto, o movimento — dar-se a encontro, abrir — e também compor, saber ouvir a música. são nossas vozes, nossos dedos. num intervalo de respiração nos damos conta. está lá. no mundo, no ar. aqui. cria imagem com teus zelos. alucinação. eu rio, é assim, é assim que começa.