onde estão os teus amigos?
eu olho para o lado e vejo
um centavo jogado no chão
da esquina
quarentena e penso na praça
tiradentes, antes da pandemia
os corpos passantes os
encontros travados, começados
emperrados, abraços e uma
perspectiva de
alegria que fica para
depois e então __
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conto coletivo (na lapalumiar, amigos)
até hoje, enquanto estive lá fora
as era tão estranho que não ousaram pronunciar e
do ponto 0 talvez seja possível chegar à ebulição
que era da mesma maneira que tudo se refletia alio casal causou na praça
num espetáculo utópico de satisfação e deleite, quando num susto…
um, dois, às vezes três…tudo começou a ficar turvo, até que não restou nem a sombra no asfalto quente
fazendo da lua a sua pele preferidapestanejou.
e nua correu por campos precisos e verdes…por: lu-lu-in-an-lu-?
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corpóreos
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risco
ação de torcer, moer, extrair suco. até sentir dor. até subir no topo de alguma coisa, e de lá a reconfortante vertigem. a luta bruta.
ataduras, nos pés e nas mãos. corpo torcido. cara bruta. cara resoluta. cume, abrigo.
praticar a dança – eu te disse – praticar as expectativas e desconstruções. no chão da sala, nas frestas. remover com tinta vermelha o que há nas entrelinhas. escrever demais. desenhar todas as coisas, passado o vazio, passado o chão: depois de doer, reconstruir como se nunca tivesse feito a membrana.
desenho, desenho, desenho.
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porquê
o que se faz das estruturas
assim: existem pelo menos duas formas de planejar a vida. uma é a famosa, a canônica, a da tradição: escolhe (tu) uma profissão. escolhe (tu) alguém pra dividir a vida. escolhe (tu) os teus hábitos, e fica com eles. escolhe uma vez e segue até o fim, para um dia “descansar” (da profissão, não do alguém), adapta os hábitos porque se sente velho, digo, velho são os últimos 40 anos da sua vida (pelo menos, em média, vai saber).
às vezes tu escolhe porque não tem escolha. tu escolhe porque tem essas três opções aqui, o resto é muito arriscado, tá louco. na maioria das vezes tu escolhe a mais fácil porque dá pra seguir, porque dá pra agüentar, porque é melhor que não ter nada; imagina, ter a vida instável ou não ter ninguém pra dividir a solidão.
solidão arde, mas solidão pulsa. solidão junto é contemporâneo, é indivíduo-natureza, é coisa de dois e não um. solidão em grupo são idéias; não é tão solidão, é parceria. minha escolha hoje é conhecer essas pessoas e fazer isso, e eu vou chegar lá.
sólido é aquele que não tem medo. mas nem assim tão sólido, é mais pulsante, às vezes muda de estado e viaja por entre as coisas, os elementos.
sozinho é o eu que não tem. é o que se pensa sozinho, sai pouco do lugar, oscila nos dois pés. sorri amarelo, reclama em vão. suporta a si mesmo, quando consigo pode conviver. desaparece sem viver, porque vive o vazio do ausente.
pois quem escolhe pode escolher tanto.
a outra forma de um sujeito planejar a vida é viver de verdade. e pode me dizer o que é verdade, ou não, eu sei que tem diversas formas. mas viver de verdade é viver pra si mesmo, é ser sólido e não ser sozinho, é não se contentar com o óbvio das coisas. é consciência de limitações, de histórias, de ódios e de consensos. é suavizar tudo isso na forma de responsabilidade, na forma de risco, na forma de criação.
ser criança um dia foi ter umas poucas regras, regras de um mundo-novidade, e um monte de rigidez dentro e fora. pois então cautelas, meu filho não se machuque, eu não quero seguir carreira de médico.
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enquanto aguardamos a tempestade, um avião cai. nesta semana soube de tantos mortos, afetos de amigos, amigos, afetos, atropelo, atravessamento, suicídio, morte súbita. não tenho todos os nomes, nem todas as informações precisas como se pediria saber, não quero falar sobre morte. estão aí. os acontecimentos.
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fluxo
onde está uma ventania que se situa exatamente no instante em que a dança começa, uma membrana é posta de lado; cartilagens de baleia formam costelas duras e maleáveis – uma fortaleza que tem meios e barbatanas; pés que correm por entre teias costuradas e que sim! cessam, se fazem percurso no chão; olhos que entre uma atenção e outra formam tecidos inversos, só se sabem em ação; imagens turvas que se formam cada vez mais em campo de letra, sobrepostas, miudinhas e contadas aos baldes para crianças; enxurrada, eu não sei, às vezes durmo; se considero cachoeiras como um aprendizado tão importante quanto bibliotecas; sob esse vínculo, a permacultura se realiza quando os pés se põem a caminhar; a casa então se move e deve aprender a existir desse modo.
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i
atores mesmos são eles gestos. vozes que não se misturam, vazios intelectos, atos que vão seguindo pontos, dançando pontos, se perdem.
escandalosa miragem permanece forte na rua. quer invadir atos, vontades, mas só atinge a coisa mesma, sem nexo. é raso. ricocheteia nos prédios, nas pessoas, não vaza em ninguém.
conversa de bar que escorre e praticamente não existe. só imagens, sorrisos, rumos difusos e repetições. às vezes música, som alto vindo das vozes, subterrâneo de atividades sonoras, efeitos químicos. nada mais que urgência, não é importante.
converso no lugar, me junto, perco o dito das coisas e enfim faz sentido! entre perambular pelos escambos, pelas brechas, acessos à cultura e à imagem por um pouquinho de escape. mundos pequenos que apresentam eixos universos.
do verbo que ainda não existe, acontece.
situação simples que inverte, alimento, torna energia o fluxo. rodopia, cumpre, faz girar.
quase sem nada, meio sem nada, por isso lá.
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saltosuspiro