• fortalezas

    escrever sobre um não-dito. escrever sobre um partido. escrever sobre uma cara lavada, encontrada no meio da multidão tentando ir pra casa. descobrir no meio da estória que a personagem não tinha modos, não tinha um facão, para cortar todo o mato em volta que leva à passagem do caminho. o cantinho no meio do mato imenso na multidão.

    na canção falava de pessoas-árvore, de onde saía uma cobra e então dissolvia. abria outra variação. no sonho contava laços e obras, pulando de pedacinhos, dormindo numa caixa vermelha, abrigada da chuva num lugar estranho, temporário, porém amigo.

    desconhecia os vestígios. no meio de uma urgência poderia esquecer a bússola, o facão ou algumas memórias essenciais para se guiar e traçar o percurso por si. ficaria então vulnerável, exposta a fatos e acasos sem ao menos uma ferramenta. serão sempre chances de se descobrir um desvio, um atalho talvez, mas tampouco algo que se queira desejar.

    no campo de plantações que encontrara no outono anterior, poderia visitar mais vezes, todos os dias talvez, mas sempre um obstáculo as ladeiras, e as relações que foram tecidas dentre, e as imagens evocadas por cada um desses eventos. mesmo um vídeo, cheio de sorrisos afeto e movimentos-percurso, foi acontecido, de tal mutualidade e desprendimento que permanece na ilha de edição, aguardando talvez um repente que irá trazê-lo a todo custo à vida, enfim à vida, ao fluxo corrente, onde não há receios de existir porque sim importa.

    importa abraçar umas mil vezes mesmo que seja uma obra, mesmo que uma imagem em si quase dança, pesquisa e plantas. sem o calor de uma pessoa, sem mãos que se tocam, sequer palavras que se direcionam.

    o que fere, na cidade, é a diferenciação. é o tanto do mesmo que se encontra e por que mesmo não os considero mais divertidos; me enfastio com certa agilidade de modos e gestos que outrora talvez não dissessem nada.

    pois me dizem, um nada tão absorto em si que não tenho coragem de prosseguir na conversa. fujo dessas vozes, porém me pergunto por que então a cidade, se há tantos contras com que se lidar.

    ora, me disse um monge uma vez, lá no fim do asfalto: esses mundos imaginários só irão perseverar se assim persistir. e não se pode persistir sobre estradas abstratas, vencimentos colossais que não se sabe como, invenções de cotidiano e obras que só existem em planos astrais.

    se tens tu uma terra, ou tens tu um tempo, e tens tu uns amigos, podes inventar música, podes prescrever um cotidiano para si, mesmo que para isso seja o caso de adentrar outros caminhos, não saber responder todas as perguntas, mas desenhar com o corpo um descaminho pervertido, astuto e esbelto como só serão as cobras!

    holograma, pois subia entres as névoas, tal como em paranapiacaba, eu não saberia nomear os montes.

    sei de montes de mil relvas, mas não aqui. e daquilo que só sei de hábito, importado não sei de quem, ou do que só vi em foto: inventaremos, perspicazmente. mas no momento só me ocupo de inventar uma dobra.

    se haverá frestas, oh, sim, e frutas. será propulsão de um ninho, de um partido talvez, mas do tipo que vai à rua protestar e mil ocupas. e que sabe configurar cabana de modo a fundar um assunto. um plano de mil vozes e fortalezas, gestões compartilhadas, recolhimento de vacinas e pés que energicamente sobrepõem telhados. se o cimento chegar, vai ter floresta!

  • de tanto rugir, alcanço uma beleza que gosto
    de tanto medir, me rasgo
    de tanto começar, reinvento, resgato um alento

    de tanto fugir, chego a um consenso
    frente a frente com o rasgo
    compreendo a dor
    tudo o que confere caminho
    é válido

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    reinventar do início, reescrever outros modos. isso e mais.

    investigadora crônica, compositora de enigmas, astronomias terráqueas, fogo que se faz. escrita de fortuitos acasos, devaneante-mor, viagens de força-propensão, verborragias sazonais, ama silêncio, ama vento e agrião, agridoces, sais, aprende com o mar e com as imensidões. vem dos rios e das montanhas pedregosas, úmidas e cheirosas, florestas de pinhais. desentende as cidades, mas coleciona mapas e anda elas inteiras a pé. dízimo de complexidades. a performance começa tímida, hesita, age de última hora, ri, refaz, tira a roupa ou entrecores-brilhos, e sai cantarolando onde for, alto e em voz. risadas. há de se fazer, há de se fazer. (…)

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    detalhe01 detalhe02 detalhe03/

  • i

    atores mesmos são eles gestos. vozes que não se misturam, vazios intelectos, atos que vão seguindo pontos, dançando pontos, se perdem.

    escandalosa miragem permanece forte na rua. quer invadir atos, vontades, mas só atinge a coisa mesma, sem nexo. é raso. ricocheteia nos prédios, nas pessoas, não vaza em ninguém.

    conversa de bar que escorre e praticamente não existe. só imagens, sorrisos, rumos difusos e repetições. às vezes música, som alto vindo das vozes, subterrâneo de atividades sonoras, efeitos químicos. nada mais que urgência, não é importante.

    converso no lugar, me junto, perco o dito das coisas e enfim faz sentido! entre perambular pelos escambos, pelas brechas, acessos à cultura e à imagem por um pouquinho de escape. mundos pequenos que apresentam eixos universos.

    do verbo que ainda não existe, acontece.

    situação simples que inverte, alimento, torna energia o fluxo. rodopia, cumpre, faz girar.

    quase sem nada, meio sem nada, por isso lá.

  • minúcias

    mistérios curados a pinça, com cuidados mil, despedaçados em lágrimas contra a parede em um balneário distante. gostaria de te beijar, gostaria de te contar estórias sobre pessoas felizes que deram certo, sobre brincadeiras: sonhos de adulto. ambas parecemos crianças, e a busca das coisas que se quer mas não se sabe ao certo.

    viver a vida com uma intensidade dosada, de criações para os futuros incertos e corações sortidos tirados em um pacote de balas. sai-se pela noite costurando buracos dos outros, bebendo até transbordar, não cai no chão porque mamãe ensinou bons modos. entre os mundos quietinhos de cautelas cuidadosas e de desejos previsíveis e as ruas sujas, imundas e cheias de incertezas. tem aquelas bonitezas que se acha pelos lugares improváveis, pelos óbvios corações próximos demais pra se acreditar.

    hoje eu acordei várias vezes; ontem eu acordei de uma só e parecia ter dormido por milênios. entretanto, a náusea e a sensação de perda permaneceram inalteradas.

    tenho relutado até em escrever, concentro-me em viver e só cuspi a história uma única vez, não foi bonito, foi coisa de gente chapada, bêbada e velha desesperançada com a vida. da outra vez tentei contar, mas falei mais de passados que de presentes.

    como parênteses: o português mudou em várias regras, e eu não me conformo em escrever ideia sem acento. parece que falta algo, e é quase como em inglês. ideas for life. slogan de campanha de uma coisa qualquer – porque no fim as campanhas são todas quaisquer.

    medos de ideias nocivas contra mim. contra ti nunca quis fazer absolutamente nada de ruim, tornou-se potente agressão quando você disse, quando eu mais-que-verbalizei, domestiquei uma coisa intensa. pois é, minha querida, o mundo é assim ou é a forma como eu o vejo. e uma das coisas que eu busco, bem, é um certo tipo de compreensão.

    a dor se contorce aqui dentro, mas tem tanta cara de personagem indecisa que eu me esfacelo em solidão. fecharia-me nela, caso não tivesse que fazer coisas como trabalhar, estudar e viver. a vida no fim das contas é sempre essa soma de migalhas que vou catando pelo caminho, talvez enquanto não lançar o corpo todo aos riscos e às balas.

    tive tanta vontade de fazer uma dessas coisas que chamam de decadente, de gente perdida, tais como morar na rua ou virar stripper de boate no centro. mas as ruas são sujas demais e cheiram a derrota, e as noites têm gente feia e tosca em demasia. procurando coisas que não se pode nem pronunuciar, talvez caso as pessoas fossem todas belas e cheirosas (como em shortbus).

    meus medos viram estórias, os resultados de concursos estão como esperados, talvez aos vinte e quatro não se possa mais querer tantas coisas ao mesmo tempo. é hora de escolher entre a academia e as artes, negar a comunicação de vez ou tentar absorvê-la sem tantas adversidades. aversão eu tenho dos infelizes, mas é fato que tenho contado muitos passados e já começo a lamentar os futuros. porque as criações para a vida de crianças de 10 e 18 anos são diferentes daquelas dos quase adultos de vinte e quatro, mesmo com cara de 22, é uma criança que já precisa estar lá, em cima do palco, mostrando a que veio e mantendo a pose.

    minhas estórias por hora estão contorcidas, levemente enfermas e escondendo a pimenta por debaixo dos lençóis. caso de meninas bonitas, ideias para não sei quando: muitos desejos, como tem sido.

  • pegar com o dedo aquilo que desanima. é uma coisa, palpável, que oscila entre o estômago e o pescoço. beira a garganta, raramente sai a público. uma emoção convulsiva, evasiva, inerte: presta pra nada, essa torrência.

    desanimar o desânimo. chegamos nesse ponto. nunca estivemos em outro lugar.

  • escrever para ninguém

  • pacto

    rodopiar dentro de um campo
    vem sem veneno

    corporificar o gás
    redescobrir as artérias

    é fôlego é lucidez
    fumaça irrompe

    labareda
    os nossos caminhos

    multiplicam-se em roda
    sabem encontrar uns
    [aos outros

    caem, sobem, vertem-se
    em sabedorias milenares

    repactua

    o desejo

    vem

    celeste

    caber

    colhe