escrever para ninguém
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vão
cabe quase nada nesse tampo fechado. ainda assim procuramos adornar com flores, colocar uma nuvenzinha entre as vestes e sair a foliar.
os panos são tão grandes que quase arrastam no chão. juntam gelo, afagos, música de reco-recos e essas gentes que andam pulando pelas ruas. colhem chão, bebem cores e dão altos pulos que fazem ver o céu azul.
custou a encontrar. ainda agora pensa se cabe, onde cabe, se vai caber. se vai transbordar. se vai deixar de achar a ruela, a data precisa, o encontro faceiro que desencadeia os ecos. os ecos são os povoamentos, aquilo que reverbera. que postula os verbos e segura o som em suspenso, até que as teias tenham se assentado um pouco. nada fixo. mas corre.
a trama é o mesmo que o som. aquece. os suores que traduzem palavras, as danças que servem para ver um pouco mais. com a pele. a música e a música e a música que vem aqui todos os dias dizer que está atenta. que sobrexiste alerta. que abre a boca como numa animação, engolindo os maus polimentos.
existem pilhas de ideias que merecem ser compensadas com uma torrezinha, uma pequena dor em alento, das que lembram que as articulações em tudo contribuem para o andamento, para o volume. precisam estar presentes. o estiramento dos ossos, músculos em retorção, e depois a maciez do toque, a complacência inventada em dias de pequenos gestos.
os povoamentos. os povos que acordam, tecendo dormentes a céu aberto.
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performance do ponto
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departamento de outridades bélicas
departamento de ambiguidades & perseverança
departamento ali (sem resposta)
rio de janeiro: suor
rio de janeiro: esperar acabar o verão para viver (ñ consigo trabalhar)moleza sobriedade queria estar transando queria estar na cachoeira dançando mil grau mas escrever também me preenche me alegra, SÓ QUE — ñ dispomos de ar condicionado, senhor
a arte a lembrança a viagem a torrente a floresta os términos, os fins
dry martini eu gosto festa sim já foi mais simples já
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luz
derreter as calotas polares das lembranças esgarçadas y toda força corrompida por memórias em acúmulo, calos e afagos demais. sim, pois afago de memória, afago sem fala, só silenciação.
gago e rouco o silêncio das vozes, as palavras mordidas, comunicações vastas e interrompidas furtivamente em um passar dos carros. amassar latinhas.
e então comunicação demais, difusos meios, ruídos sem voz. somente ruídos. somente voz. separados eles ganham fôlego, vão colhendo suas florezinhas de papel cultivadas sem qualquer ordem, às manhãs que variam de horário pois dormem (às vezes)
as calotas polares ali se curvaram aos bem-afrescos-e-aventurados, renovados, também curvos, subiram ao púlpito celeste e de lá propagaram – não antes sem vômitos na fala, engasgos, borbulhos – e então, pé ante pé, desceram torrentes as ladeiras em capas de chuva anti-vulcão, como se seus corpos fossem removíveis e então trocassem por outros, ou se fosse possível ao invés cambiar de ganas, peles e de vontades tropeças – ao inventar uma capa à prova de.
me pergunto se é possível reescrever as narrativas de um modo tão codificado que não seja possível corrompê-las, pois sempre que se pensar ter encontrado o número, a senha, ela se transformará e soltará uma risada bem enorme na tua cara e será toda fofinha, stroboscópica, intragável e inapreensível. sempre a memória
lancinantes lavas de vulcão. gratuita, eu sou voz e não existo. eu sou fotografia, pois luz, pensando que todos os meios conhecidos se tornaram voz, propagando no ar así tantas firulas. penso se tudo o que é supérfluo me alimenta. supérfluas vozes. supérfluo torvelinho. supérfluos amores que me sustentam (em memória)
corpo que se levanta em vão, cultiva quarto, cultiva casa. esquiva. cumpre beneditos compromissos e corre, decide correr, assim como decide parar ou incidir em pausas para mor de respiração
(respira)
ladeiras cálidas que um dia acolheram agora incidem em pergunta
eu só cuido das madrugadas, digo,
de novo e tantas vezesantes da artemarcial e daquilo que chamam cotidiano
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à bicha amada
os louros as vozes cotovelos
asneiras cabíveis lastros forças motrizes
lentidãoà bicha amada
um corpo dourado à espreita
(não era isso)
um rosto abrigo beijinhochamego
é o nome que se dá para cuddling
na língua dos nossos parentes de terra
de chão inventivo que só faz
às gazes algozes cantinhos feridas
assimde bairros distantes estrada aqui
bem perto aqui
ontem quem diz mês passado
agora, verum rodopio sagaz
uma manobra contundente
uma reviravolta
um sopro esguio ventania brisateu nome
chiados encontros gêneros quem?
pilhas de soterradas criaturas
que procuram
uma por vezlivros infantis fivelas firulas
abraços
sobretudo abraços
de invernos inventados halloween
à distânciamúsica
é um assobio estrondosocalma
te beijo
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rapidinha
inventário na sua boca
com cheiro de carnaval -
x
queria escrever uma carta para alguém imaginário,
pois tem sido muito difícil encontrar as pessoas nas multidões.criar espaço em bagunças espasmos,
festas, amor estilhaçado
em multidões, de novo
emaranhados que acontecem
e participo(nem sabe os meandros por onde passam, nessa vida, os abraços)
observações
de modos de vida,
lixos e materiais
comidas e animais,
amores,
abrigos,sobram uns desejos
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combater o deserto com lapadas de ferro, fogo y fumo
não desertar do desejo