• a (campo de ação)

    quando cessam os estudos festivos
    começa a memória
    e a invenção

    astuta perscruta pela ciência
    a anticiência
    os jardins e as matas densas

    antígona imaginária tênue
    em museus de dinossauros e fósseis
    plantas, arbóreos, gramíneas e monumentais

    sábias matizes que abrem um tanto mais
    em ações afirmativas
    outros chãos
    às memórias
    de que eles bebem
    e assumem

    eles, os europeus
    os homens fazedouros
    enquanto suas mulheres cosem
    e cuidam

    de quem será a voz
    na membrana –
    da família, da sociedade
    do prumo que argue e intervém
    no antro das comunidades

    circenses, elas vão
    abrir coragens em liturgias
    cânticos, audazes e ferozes

    ..

  • a bailar (xilofones)

    caçadores de mentiras
    espalham-se como ratos, como pássaros
    ululantes em céus de verão
    e em invernos.

    o ano todo
    a expor suas criações inéditas
    fugidias e pretensamente
    despreocupadas.

    costuro idéias
    de cores celofanes, bem longe dali
    todos os dias
    todos os dias
    pra espantar as memórias
    inóspitas.

    lembrar de futuros distantes
    onde histórias
    são criadas para entreter furacões
    de infâncias perdidas
    gastas em preocupações
    tão corriqueiras.

    ideias de gênios passantes
    com cachorros a tiracolo
    animais pitorescos
    fantasiados de carnavais
    por vir!

    xilofones de montão
    pra entreter
    tanta gente.

    (!)

  • conto coletivo (na lapalumiar, amigos)

    até hoje, enquanto estive lá fora
    as era tão estranho que não ousaram pronunciar e
    do ponto 0 talvez seja possível chegar à ebulição
    que era da mesma maneira que tudo se refletia ali

    o casal causou na praça
    num espetáculo utópico de satisfação e deleite, quando num susto…
    um, dois, às vezes três…

    tudo começou a ficar turvo, até que não restou nem a sombra no asfalto quente
    fazendo da lua a sua pele preferida

    pestanejou.
    e nua correu por campos precisos e verdes…

    por: lu-lu-in-an-lu-?

  • inês nin ~ ESPAÇO AVI
    15 a 25.08.2016
    Brasília/DF

    °

    para uma residência, pede-se comumente portfolio de artista e/ou uma proposta de trabalho a ser desenvolvida

    deste momento entretempos, em que me equilibro e nos equilibramos adentrando tantas catástrofes, maravilhas e cotidianos sortidos, a práxis nós inventamos, e sobre isso

    tenho trabalhado o improviso,

    imergindo em atividades que envolvem esse reagir rapidamente a uma interferência, a uma situação, investigando modos de sair dela ou contornar seus movimentos, dançar conforme os ventos

    um estudo de ações que só acontecem no tempo/espaço real do agora, repentino mas também repleto de respiros e observâncias

    corpo alerta; relaxado e alerta

    :

    em curva, anotações e leituras, perambulações sonâmbulas por entre os espaços, gravações de gestos, posturas e meditações em vídeo, rascunhos, escritos, recortes

    (quem sabe chame-se uma metodologia)

    de abalos sísmicos e refúgios, me concentro muito no lugar interno como modo de reorganização. dentro de mim bosques, florestas, praias vazias, montanhas. arriscar o prumo –

    uma bússola

    no metrô: rodopia, louca (leio como transtornada pela velocidade)

    no avião: ?

    (testaremos uma bússola a bordo da aeronave)

    >

    admiro voar, gosto de alturas e até pilotaria aviões. contudo, estou pouco habituada. meus modos de locomoção na vida, praticados com frequência, em geral se baseiam nos pés, na força propulsora do corpo. caminhadas, pedaladas, danças, pulos, corridas. sobre rodas, além dos pedais, muitas vezes ônibus, poucas vezes carro, raras vezes motocicleta. voo, sim, desde criança, quando me contam que na primeira vez, em vez de fitar as nuvens e olhar pela janela, eu preferia me concentrar em comer iogurte.

    encontrar nuvens numa estrada, trilha ou escalando uma montanha: me instiga e embeleza os instintos.

    subir

    eis aqui um monte de textos escritos sobre isso, vontades, desejos, propulsões e movimentos na medida em que conseguimos alcançar

    (alguns requerem anos de treino)

    assim como fugas, levamos uma vida a contornar e descobrir saídas, modos de sublevar ou rachar os modos correntes

    – movimentos muitas vezes abruptos, como fechar um apartamento em menos de uma semana –

    que acabam por decorrer em meses um pouco embolados, malas que se dividem entre cidades, transições pouco previstas, mas eis que

    de novo uma casa, mudança operada quase sem perceber, recebida com gratidão profunda e sim,

    uma varanda! aqui temos céu e plantas!

    >> >

    seguir viagem, depois de um respiro e umas tantas reviravoltas, ocorre como o suprassumo destilado de uma decisão,

    revista e reverberada em solitudes, idas e vindas, intenções

    (revista a intenção e ajustado o eixo que vem-e-vai para uma posição mais confortável)

    a temperança acaba de me ocorrer como carta no tarô em forma de livro que jodorowsky delegou a minhas amigas, e que tenho usado como oráculo

    o número de 9 dias que escolho para essa estada se refere ao que o momento oportuno (kairós) pode me oferecer no momento e o aceito de bom grado, buscando um equilíbrio entre os caminhos

    é também o número do eremita, carta que me saiu logo antes nesta forma livro que consulto. provável que por um hábito que vem de leituras do i ching, oráculo de origem chinesa em que se usa moedas ou dados para se chegar a uma soma de traços (um hexagrama composto de dois trigramas) e então ler sobre ele em um livro, com recados que se deitam sobre linhas contínuas ou partidas

    investigo oráculos e me instiga profundamente o fato de sentidos e significados tão profundos (e narrativos, em sua interpretação) serem acessados pelo método do acaso. creio, talvez só um meio de acessar uma sabedoria, conscientizando-nos que o que sentimos e pensamos também influi nos resultados, e ainda nos fatos.

    °
    pisarei pela primeira vez na região centro-oeste do brasil na próxima manhã, dia 15 de agosto de 2016, menos de um ciclo lunar decorrido desde o último dia fora do tempo (25 de julho), em que se inicia uma nova onda encantada segundo o sincronário maya

    a lua se encontra em fase crescente, para a qual aprendi um novo rito de prosperidade que envolve fogueiras (e podem ser feitas a cada lunação).

    celebraremos os 32 invernos decorridos desde que abri a boca neste mundo no meio do percurso, à lua cheia

    e por fim, à lua minguante, seguirei viagem de novo ao rio de janeiro antes de voltar para casa.

    durante esses 9 ou 10 dias de residência (considerando-se que chego na manhã do dia 15 e parto na manhã do dia 25) penso em ter uns poucos prospectos (para além dos improvisos e trabalho cotidiano)

    sabemos que

    : encontrarei outra residente entre os dias 19 e 21 de agosto

    : pretendemos ir a alto paraíso, quem sabe acampar

    : tive ou acredito ter tido pouco contato com a vegetação típica da região do planalto central, apesar de o cerrado também ser identificado com o estado de são paulo, muito desmatado, onde vivo. e portanto pretendo observá-la, se possível mergulhar nela, como costumo fazer em florestas (há muitos modos para isso)

    : o quintal é propício para fogueiras e também projeções 🙂

    : trabalhamos com o vídeo (a ser revigorado ou re-desbravado em processos de edição em software livre), com a fotografia sobretudo analógica, com as danças, com o silêncio e a escuta, com uns poucos ruídos, com rabiscos e a famigerada escrita

    : estarei em pesquisa de movimentos corporais no lugar

    : terei que dar conta de um certo cotidiano no sentido mais prático de afazeres remunerados, e que deverá ser muito bem ordenado de modo a conviver com as práticas de alegria e criativas em geral (o que de algum modo todas são)

    : a bússola principal será a temperança, com o respiro como seu aliado

    : ocorre, portanto, algum exercício de cálculos, a ser combinado com o improviso (descoberturas e cessões)

    : haverá um aniversário e uma exposição de yasmin no mesmo dia (todos os bons presságios)

    : prevê-se ou seria interessante ou importante organizar uma abertura de processo com convidados no espaço. sugeri o dia 23, mas como os próprios processos ainda se fazem, e as datas se ajustam em certa medida interna, decidiremos quanto a isso conjuntamente;

    : estou animada!

    os estudos recentes apontam para quaisquer práticas ou referências que envolvam ESPIRAIS, dentre os quais têm sido vividas/observadas

    – as espirais no corpo, enquanto torção em movimentos levíssimos e gentis na arte marcial kinomichi;

    – estar dentro de uma espiral e se orientar nela, atravessando com maestria e entre muitas pessoas, como no treinamento de dança passing through (atravessar);

    – espirais na natureza, como parte da observada geometria sagrada, que se repete em redemoinhos, tornados, na pia, na privada, nos oceanos, nas plantas quando brotam e em nós, bichos;

    – sentidos figurados empregados na fala e na prosa, quando se fala em espirais e o que denotam.

    *

    RESILIÊNCIA é outro termo-chave, que pontua fortemente a pesquisa ‘corpo, ambiente e resiliência’ que desenvolvo desde 2014-15, e vai de encontro com espirais (como formas de atravessar e lidar com, mas também de encontro consigo e versatilidade no lidar com as diferentes situações que nos deparamos)

    é premente o estado climático em que se encontra o planeta, fato conhecido, e no nosso entorno observamos inversões climáticas, secas e outros problemas graves que decorrem de práticas predatórias com a terra e devastação de florestas

    da região do planalto central, onde se encontra brasília, noticia-se as frequentes queimadas espontâneas devido à temperatura, o clima seco e as práticas anteriormente mencionadas (que se apresentam em diferentes medidas e desmedidas)

    braslília também é local onde se centralizam os acessos à região amazônica, importantes discussões que envolvem índios de diferentes etnias, indigenistas, pesquisadores e articuladores ambientais de modo a lidar com esses problemas

    encontrar esse lugar construído há poucas décadas e que foi, transversalmente, tornado capital do país, será importante para compreender localmente, com os pés e corpo presente e de maneira ou de outra e certamente muito particular, como operam as instâncias ali localizadas e também os corpos, considerando-se arquietura e questões de deslocamento

    estar na cidade porém em meio rural (no córrego do urubu), acredito ser a melhor maneira de experimentar esse espaço compartimentado que são as cidades, que dirá as modernas, e que ainda comporta cachoeiras

    de céu e cachoeiras avistamos danças (alegria)

    e em danças, certamente significa qualquer atividade situada na região que se conecte com o corpo (exceto as academias, corporativas), nas quais se sobressaem as acrobacias e aquelas que misturam corpo e ambiente, ou são feitas ao ar livre

    (avistei algo de acrobacias e bambus, não encontro agora)

    (no mais, quanto mais arriscamos, melhor. é tempo de atravessar e também conter velocidades. por isso planos serão mínimos; somente apresento observações e orientações para o percurso)

    (me calo, irei observar os melhores modos de andar)

    com alegria,
    e até jajá,
    >>

    inês.

  • supremo

    está passando a idade. ele disse. vc ainda é jovem. ele disse. você tem traumas que não me concernem, ele disse, mas você tem que tentar. curar essa dormência que te enerva, que te torna objeto, bicho, criança que chora em público. ele falou que você dorme com estrelas, mas que também precisa de contagens. de estórias, sim, mas também de corações e feridas. sem feridas não se produz ideias, ou sem coceiras fica-se sempre no mesmo lugar.

    na verdade eram duas coisas: você e o mundo. o que você faz pro mundo é o que você é dele, é o que te torna ele, é o que dele você extrai. você se torna mundo quando se divide em dois e depois em muitos, une todos num abraço, depois desencanta e segue em frente. ir embora é como duas metades iguais: a presente que vai ser sempre presente, e a futuro que não existe no agora. ainda assim, agora e presente se fundem naquilo que ainda vai acontecer e é incerto. e de coisas incertas entende o mundo.

    e ele te abraça. com uma chicotada antes e outra depois, que é pra acordar.

  • você abraça os homens e eles não te abraçam de volta

    você abraça os homens e eles não te abraçam de volta
    fogo no mato, filosofia da rua
    fechamento é só para os parças
    os manés, os machos com o rabo entre as pernas
    tanta gente com quem poderia apenas trocar ideia
    parceria, companhia, trampo y confabulações
    pois viram as costas, sequer cogitam conversar
    se não te veem se curvar
    soletrar seus nomes em desejo
    se te veem apenas como gente sem maldade

    matilha de um gênero só
    aquele que não nomeiam
    dominando chalés, governos, convenções
    nada de novo, mas chega
    que pequenos, vocês
    ingnóbeis anciãos
    desesperados por atenção

  • foguetinho

    um caminho abestado
    besta tem vez
    sabe embolado sufoco marcado
    besta tem

    invenção suplínio
    cabestadura e não sabe
    arrefecer do sossego
    desinventar o ódio
    embasbacar a zebra

    sabe enrolar uns novelos nocê
    sabe, sabe curtido
    imensidão de três ladinhos
    cascalho quando mente
    pede novela

    caboclo quando conta história
    inverte tudo ao contrário
    sabe novena
    (sabe nada)
    sabe mistério

    desembolar o asfalto
    AÍ SIM
    pede três foguinhos
    eles vêm embalados em
    papel de seda, pomposos
    consomem três florzinhas
    de zebra, três caramelos
    azulados, foguetinho

    ele já se perdeu
    não sabe o caminho do rabo
    a casa investe em montantes
    duradouros, ele sabe
    quisera eu

  • água

    a insistência no exílio como matéria infértil
    (não se exila no concreto; somente nas montanhas ou à beira do mar)

    porosidade

  • vão

    cabe quase nada nesse tampo fechado. ainda assim procuramos adornar com flores, colocar uma nuvenzinha entre as vestes e sair a foliar.

    os panos são tão grandes que quase arrastam no chão. juntam gelo, afagos, música de reco-recos e essas gentes que andam pulando pelas ruas. colhem chão, bebem cores e dão altos pulos que fazem ver o céu azul.

    custou a encontrar. ainda agora pensa se cabe, onde cabe, se vai caber. se vai transbordar. se vai deixar de achar a ruela, a data precisa, o encontro faceiro que desencadeia os ecos. os ecos são os povoamentos, aquilo que reverbera. que postula os verbos e segura o som em suspenso, até que as teias tenham se assentado um pouco. nada fixo. mas corre.

    a trama é o mesmo que o som. aquece. os suores que traduzem palavras, as danças que servem para ver um pouco mais. com a pele. a música e a música e a música que vem aqui todos os dias dizer que está atenta. que sobrexiste alerta. que abre a boca como numa animação, engolindo os maus polimentos.

    existem pilhas de ideias que merecem ser compensadas com uma torrezinha, uma pequena dor em alento, das que lembram que as articulações em tudo contribuem para o andamento, para o volume. precisam estar presentes. o estiramento dos ossos, músculos em retorção, e depois a maciez do toque, a complacência inventada em dias de pequenos gestos.

    os povoamentos. os povos que acordam, tecendo dormentes a céu aberto.