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    nadando contracorrente, tranquila, de costas; o fogo aceso; os amigos presentes; a comida farta; o céu estrelado; os livros e projetos em prumo; as estórias; os jogos; as cores; as crianças; o tecido de pendurar; as danças, a rede, sambasadashiva; passado, presente, futuro; björk; os mapas; os tempos porvir; os vínculos alegres; o cultivo; a busca; o cuidado; o carinho; as estradas abertas; os rumos; as bagagens; as cartas; a mata; o rio, o rio, o rio

    foto da Luiza Cilente no canto mágico da Luar, em boas-vindas ao 2020

  • ramificação

    meu bem conhece fuligens. fuligens de árvores, de folhas e pingüins.

    tem pressa mais que coelho apressado, meio como jabuti. rodeia. rodeia sempre. confunde naturezas. é tão belo.

    será que nos vemos, assim tão velhos, novos em folha, tudo de novo?

    tudo eu não faria, mas faria nada novamente muitas vezes.

    meus erros, tuas histórias.

    falcatruas e teus erros também.

    tantas conversas de banheiro e camas. tantas chaves rodadas. tanta comoção!

    e se eu fosse de novo a todos aqueles lugares bonitos e perguntasse a eles o que pensam de nós?

    são os outros, não sou eu. inimigo.

    viagens sozinha. gosto tanto de dançar.

    assim: pode dançar comigo?

  • in

    insenin

    inse

    insluar

    insular

    insu

    eluc.

  • andarilhe

    de toda intenção de florescer, agora revolto em sustento. de novo isso, mas isso sim, isso de novo, isso teremos de sustentar. sustentar o sustento. coordenar a procriação da dança, o benfazejo com esmero, toda esperança: laboriar, laboriar, laboriar.

    DSC_0912

    re-criar os modos como se laboreia. refazejo de forma, de estrutura. confecção de linha, porventura.

    das variáveis, constantes:

    esse fluxo de vozes imbocáveis que atravessa o corpo, todo o tempo. uma onda de caos, uma onda de amor. me atravessa, está aqui. agora grito, estribilho, tudo fica dentro. guardadinho. enviesar todos os preteridos para depois, todos os assuntos. não existe depois, existe uma linha que se domina, que se tece, é tecida pelo tempo. costura mesmo, invedação. corrobora com os caminhos se de caminhos é feita ela mesma. e então sair

    dominar o alimento. máquinas, admitirei cedo ou tarde, as esnobo. possuir o mínimo, agir como se está, simplificar os modos de andança. porém, eis que algumas, eis que usufruto, estou em. máquinas, operar com minimalescos botões de mimo, miniatura, antevendo já todos os traquejos que acontecem quando não se prevê máquinas, sim máquinas, botões, procedimentos, tudo o que já está dado como propriedade. o erro, o erro ocorre quando não prevê mas também quando excede, assunto de acomeço e invento, reverbera.

    re-estudar e estruturar os usos de uma série de ferramentas que coordeno. sim domino, algumas, algumas partes, mas então as re-descubro, observo, deixo reverberar. tem um montão de ideias e construções que não fariam parte se, se não houvessem madrugadas. e esses horários – não há mais horários escriturários com que cumprir.

    um mês depois, um estribilho. selo, carimbo, estampilho. criança acordada, criança turva, os olhos de novo, de novo, aqui.

    de andar pela cidade sem chão envolta em tinta de árvore urucum que seca ao redor do tempo. as ruas vazias, tantas ruas vazias na cidade gigante e a essa época sempre aparece um ou outro ciclista repentino cantarolando um funk, fantasiado de rosa, um pedestre contínuo.

    uma senhora bordada toda florida observa periquitos entoarem na copa de uma árvore. no meio do caminho, a saúdo, sorrio – a dar com os cães na rua como sempre me ocorre, ladrilhos, arredios, que me latem – ela diz: olha para o céu; as pessoas olham muito para o chão.

    e ficam duras, arredias. emburradas a empurrar suas crianças para dentro de caixinhas mínimas, elas não merecem isso.

    elas obedecem sim florear obedecem com esmero obedecem e des-existem aos poucos obedecem aprendem floreiam floreiam floreiam esperneiam e pois assim, subir em árvores, cair no chão. de maduro! assim como colhia mangas há dois tempos, o ano do verão, do relembro como é andar sem chão e sorrir

    andarilho, de novo essa peça, essa peça de cabeça que encaixa e ei! sei assim andar!

  • eixo (rindo)

    esperar as horas do sossego
    lapidar o canto,
    não pensar no desatino

    não secar as lágrimas
    dançar rodopiar
    em zelo

    aquece
    sou eu mesmo que
    canto

    sou eu mesmo que
    me envolvo num abraço
    na cama

    o suscinto: delírio
    amargo ardor de antes
    já foi,

    esquece
    caminha
    vai embora

    (já fui)

    nessa composição celeste
    somos só nós mesmos a lançar
    num rasgo num só bocejo num vulto

    rápido morcego eu sim
    eu vim
    cá estamos

    rindo

  • performance do ponto

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  • nos confinaram num planeta incerto

    gozar pelos caminhos

  • onde está

    quem iria dizer
    que o invólucro iria se rasgar
    espalhando pela rua
    (mais uma vez)

    parece que os rastros
    foram todos coletados
    (ao menos isso)
    que sirvam a alguéns

    as ruínas
    e também os amados
    objetos costuras rabiscos
    revistas livros

    colchão
    esteira
    estante
    gavetas

    tudo isso na rua
    num alvoroço que fez quebrar
    o filtro
    de barro lindo posto na esquina

    (penca que sobrava de 2017,
    penúria, que vá em paz
    essa retranca,
    a ajuda que se faz rebuliço)

    as famílias enviesadas
    batendo cartão, cortadas
    abraçadas esfiapadas afiadas
    eu me desfaleço

    e esvaneço
    reinvento memórias
    encontro outro nome

  • de mão / corpo / água

    pensar meu nome escrito em
    ar condicionado
    terno emplumado, enxuto, asseado
    sapatos de verniz ou botas
    paetês
    (a um pertencimento)

    azul
    verde
    prateado

    mata úmida
    bem chegada

    és tu mais uma vez
    sem porquê
    de corpo devaneado
    mal inventado

    a saber se
              encontra
                  patrocínio
    age à mentira relatada

    (sem café)
    (com água)

    pero sem aquela
    poça
    alagada
    dos dias
    chorados
    a conta vencida
    ansiedade

    concreto é ver
    alguns absurdos
    darem certo

    em brilho vermelho
    lá fora

    uns amigos reunidos
    em volta
    em torno
    de
    fogueira
    constelação
    aquilo que age

    sem aqueles mesmos
    vícios
    donde se ouve
    ecos
    sinos
    conjunção

    a roupa é a roupa é
    a roupa mesma

    quis estudar
    teatro
    mímica
    butô
    cortes rasgados
    cenografia
    cosmologia
    lugares longíquos
    montanhas
    seres viventes

    sim
    sempre muito vivas
    e imponentes

    a lembrar aos sóis
    que habitam em nós
    que tamanho temos
    que somos maioria
    que somos magníficas
    que não existe caminhar só
    nem casa grande demais

    os buracos
    hão de ser preenchidos
    ou habitam
    novas memórias

    não se deixam trancar nunca mais
    não se deixam tolhir nunca mais

    completam
    se cumprem
    permanecem abertos

    somos maioria
    somos (subjetivamente) imunes

    estamos vivas
    como as árvores
    e as montanhas

    que se engendram umas nas outras
    e criam raízes subterrâneas
    nunca rasgam
    nunca hão de cair
    são selvas
    indomesticáveis