• caverna

    um gosto que recolhe vozes e conta suturas. magias capitais de um sem número de eventos perdidos delírios, tantos mais. tantos mais solfejos abertos, gorgeios espertos, apertos de mesa de bar. conversa fugaz, sonho sem razão. turva. não tem sentido mas há encontro. não chega a encostar.

    sonhos abertos. fronteira de intelecto; separação. é sintomático que se procrastine o abraço, depois de, corpo afoito, encostar. aproximação em fala, conversa bonita, conversa. uma mulher exuberante e um garoto recatado — a mesma pessoa e duas. mira olhares que intercedem, encolhem suas forças brutas e afetos mágicos em recatados atos, desinteressadas informações.

    você pode ser um monte, gigante e esbelto, mas tudo uma questão de lugar. de tempo e lugar e sorrisos que só se constrói quando há passagem. fortúnio, força de abertura. seriam ciclos, de lágrima e lástima, gozo e risadas. movimentos abruptos.

    éramos sem chão enquanto construíamos prumos e aprumos, conversas contínuas, faíscas e acontecimentos. cotidiano de flores, criação conversa, criação dança y abraço alento. sustento.

    atrito posto que asfalto, posto que conflito de grandes egos magistrais, montanhas. duas montanhas a faiscar, e então avalanche, corpo sem ar.

  • 2022 (profanado)

    marte entrou em gêmeos
    no dia do meu aniversário

    minha lua, meio do céu, kiron
    teu ascendente

    agora mercúrio, almuten figuris
    no meu mapa,

    retrograda
    do teu mercúrio ao meu

    que dirão estas vozes
    ou este silêncio

    da libra ao virgo
    da beleza à especificidade

    da balança ao detalhe

    irritado, diz alice
    eu reconheço

    há certo gozo do intelecto
    convite para uma fala dançante

    gorjeio gracioso
    verborrágico

    e quando isso acontece
    é bom sinal

    instiga, reverbera

    a vênus, aliás
    também virgo

    é porque as vênus e es mercúrios

    andam juntes
    nos nossos mapas

    em diferentes casas

    e ainda mercúrio
    volta a ficar direto

    no dia do teu
    aniversário

    mesmo dia das eleições
    aquele dia

    que é lembrado
    desde o reveillon

    vibrando
    uma virada

    que nos faça pulsar
    vida

    e já sei, sabemos
    como tantos indícios trazem

    uma conciliação
    algo de novo

    não sei se de libra
    ou de marte

    se urano
    ou a lua

    acho que sim,
    sagitário

    como estava
    no dia de sem palavras

    quando cedo vitória disse,
    no teatro,

    algo sobre o amor
    bem bonito, perco os detalhes

    mas lembro
    e falo

    do dedo no cu
    as pernas abertas

    a bota

    tomar no cu
    você precisa

    eu disse em verbo profanado

    é real
    sentir na pele

    deixar entrar

    ;

    naquele dia
    da entrada de marte em gêmeos

    respirei do estômago revolto,
    de novo,

    meu dia, reencontro
    sabe lá o que seria

    um show, uma névoa
    uma cortina estilhaçada

    um campo aberto de ideias
    disse tudo ali

    precisava

    como pôr o corpo em riste
    de novo

    inventar outra maneira de
    estar perto

    sem esforço
    sem desalento

    reescrever o encontro

    somente estar inteiro

  • saltosuspiro

    saltosuspiroatiro_210615

  • asfalto dança, revolvido e celeste

    do que seremos capazes. quando estivermos em residência. quando estivermos juntos. quando soubermos desatar os laços e não nos deixar contaminar pelas ruas. pelo ruído que envolve.

    encruzilhadas de encontros e um tanto de terra descascada, casa — muitos moraram aqui. nós estamos. um curto período de tempo, esses dias: vejo transição. pra mim transição, enfim transição, de polir arestas transição.

    transitoriedade. estamos. rio de janeiro se impõe transitório, quando cutuca suas terras abaixo, tantas camadas. seria não só o pó que entra pelas janelas ou o ruído alto de máquinas, às vezes acontece, como o samba. mas ele perdura. a serra elétrica é tão sabão quanto as suas meias, você não questiona elas. você não questiona a serra elétrica e se pensar nem os helicópteros (aviões sentimos muito por essas bandas), nem a furadeira você considera. quem escolheu esse ruído? haveria máquinas silenciosas?

    tenho preferido manivelas e pedais e reco-recos a qualquer custo para não ensurdecer qualquer vizinhança, seja da minha casa ou de quem for. e minha casa minha dívida, minha dúvida ou desejo ou de fato algo que não existe. não existem quase casas no sentido lar numa cidade como essa, em que se atravessa túneis subterrâneos e então todos viramos asfalto, aos poucos asfalto, que é para casar com toda a máfia das construtoras que nos assalta.

    tomados de assalto, abrupto, e no entanto leva anos. o balneário da tevê dos sonhos de tantos brasileiros e brasileiras, nesta ordem subalterna que tem tantas categorias pouco gentis e pouco dignas porque sim ordenaram, na terra onde se fez escravos, então refúgio de uns brancos europeus que então trouxeram armas e ainda matam nativos, hoje

    multidão, faremos e somos e construímos pontes entre as membranas que descolam e as camadas que vêm à superfície como fúria, furiosamente nos deixando atravessar por camadas que caem, pouco a pouco, todos os dias, furiosamente perfuradas por máquinas ruidosas que constroem túneis por onde passa todo tipo de concreto e rios que não são mais rios mas fétidos detritos disso que chamam saneamento básico, as pessoas.

    as pessoas se juntam, as pessoas colaboram. as pessoas pensam rua. as pessoas nunca serão uníssono, multidão não é sobre isso. aprendi muito sobre dissenso e distensão e uns saberes práticos de autonomia (urbana) durante ocupações de tempos e tempos, que de tempos em tempos ocorrem, e cruzamos com elas. são terreno de mistura e utopias postas à mesa, ações e abraços e conjuntas confusões e desfiladeiros de acasos fortuitos, dentre outros movimentos

    o que será todo esse concreto que nos envolve? serão os viadutos capazes de nos engolir? lembrarão os carros do que um dia foram, quando não havia motores? como era viver sem motores?

    percorro ruínas com uma bicicleta.

    relações com esforço, pernas. como meias, sabão: relações com esforço, braços. me yoga pela manhã, para assentar os músculos e não torturá-los demais. gradativamente. alcanço

    subir montanhas era uma intenção perspicaz e há muito alimentada nisso que chamam rio — tantas matas — complexa de pôr em prática assim como desejada, talvez por excesso de desejo, talvez pela clássica fatalidade dos dias e das noites (e as divisões dos tempos e do trabalho, nosso empecilho mais clássico, assim como as noitadas)

    florestas de noite ainda existem, mas não as adentramos na cidade (sobrevivência; prioridades)

    voaria lá nos altos dos montes e pernas fortes, pernas dormentes, pernas crescentes assim como a lua que agora nos assiste lá do alto, construindo lares acasos outros muito mais afáveis que quaisquer uns feitos em concreto

    são de matéria fluida os sonhos mais compridos e bonitos e velozes de saborear (é possível viver de matéria, maleável e componente fértil de outras casas, outras vozes, construção elementar de inventos e mundos, sim casas, habitações e cotidianos)

    e cotidianos velozes, meu bem, sabemos, temos demais. mas se pensar outro tipo de velocidade, aquela dos sonhos, em que se está aqui e depois em outro lugar, assim seguido, assim sobreposto, tempo-colagem, curva

    quis trabalhar com técnicas velhas de fotografia porque sim nostálgica, e também mercado de pulgas, o melhor das cidades, cheio das memórias dos nossos avós que não foram nossos, mas participaram de um sobremundo que nos atravessa, que salta desses lugares quase esquecidos e vem cá na nossa frente dizer que ainda existem (e em vivas cores, vivas vivas e pueris)

    de viagens pro estrangeiro também se enche o mercado de pulgas, a praça xv, e assim muitos mickeys povoam um imaginário infantil colonizado, que só três décadas depois começa a se dar conta inteiramente do que terá afinal sido tudo aquilo, todos aqueles bichos que não existiam nessas terras, todos uns referenciais meio estranhos, coloridinhos, colonizadinhos, branquinhos e muito pouco críticos, afinal

    (e de crítica seremos muitos, mas também respirar, respirar, que não seja esse pó que nos atravessa mas também a importância tão gigante de ser permeável, de não se afetar e assim criar ossos mais resistentes que possam sobreviver a tanta matéria revolvida dos solos, todos os passados remotos mais amendrontadores que sobem com tanta fúria à superfície e dançam

    dançar, vamos

    inesnin; casacomum

  • realeza : desassossego

    cada pessoa que tem compõe um mundo. ou pode vir a ser.

    tem imagem que falta, e tem gentes na esquina que nunca fazem, mas sempre comemoram. todos os dias. tem vulto que nunca iria nada, porque não quer.

    fossem todos os sonhos cristalinos, assim como as vontades que tentaria, sim, tantas vezes. as penas do travesseiro espalham todas, era pra ser diferente, estatuto em colisão.

    sim, colisão.

    e te deram tanto poder, tanta força, assim: armas.

    espada-foguete-vruuuuuuuuuuuuuum. não é anedota.

    )))))
    ))

    /

    assim: datas.

    (depois furacões)

    se não virar monstro em três tempos, esfaleço.

  • rompe

    isso que você está sentindo não vai passar. tudo isso que são sintomas do ovo, do ovo que se quebra, da casca melequenta, e do tom esbranquiçado da coça. foi uma coça, cê viu. aquele jumento, monumento que passou e quebrou. a casca. o ovo. a tomba, a tumba do sistema fóssil, aquelas coisas que de vez em quando surtiam efeito, estavam embaixo dos teus pés. um monte de cano, asfalto, veias remelentas de esgoto, que na verdade é muito pior. estrutura de estado, pra quê? não tem. repete? não tem? repete? não tem. não terá. por um tempo.

    a casca. o ovo. quebra. tá ali. vamo se juntar. vão publicar no jornal. vão te monitorar na rede social. estaremos todos sozinhos juntos na rede social. não, pô. vamo se juntar real, pessoa-a-pessoa, lá no lugar onde até outro dia era do ministério. vamo tocar, vamo discutir, fazer barulho, organizar. vamo. vão publicar. vai demorar. a juíza dos horários, vai comer correndo porque tem trabalho. ainda tem trabalho. resolveu fabricar trabalho. inventou um jeito de devolver pra sociedade o que ela te dá. ela te dá? coça. a gente troca, mas não é só isso né? a gente existe e faz. a gente se enreda. e envereda no que dá gosto ou no que a gente consegue visualizar. no que dá pra fazer. e o que dá muda. a gente muda. a gente procura gente pra juntar pessoa-a-pessoa porque precisa, precisa junto, precisa fazer.

    a gente quer estrutura debaixo dos pés. alguma, ou então que não exista nenhuma. que não exista governo. que não se pague impostos para um brutamontes qualquer e sem disfarce pôr seus capatazes a nos decepar direitos e lugares (porque é tão evidente, de uns tempos pra cá tudo tão evidente para as lentes de quem vê — aquelas?).

    esquerdos, direitos. alhures. se juntar.

  • consternação, por suposto verso (verão

    mal arrumada a festinha. foi coisa traiçoeira de acaso, de vontade difusa, resultado decorrente de planos/desplanos.

    curto ajudar a amiga, ouvir a amiga mais nova falar bonitezas de suas descobertas, de história de vida, cooptar pensamentos. acho difícil compreender dependências, cobranças e inclinações para coisas que deviam ficar bem atrás. sou franca, em termos secretos, e me rendo subitamente a coisas nulas. alucinação.

    fatos não pertencem às pessoas. atitudes, de quando em quando. versaletes aos abraços de encontros fortuitos ao invés de estórias mal contadas. costumeiramente, disse o mago – que concebia a ideia como sobressalente: não se fazem mais realezas como outrora, mas [esses piriguetes] sabem perverter solfejos como ninguém.

    – há de ser absoluto de vez em vez. percorrer distâncias gigantes sem nem sentir a dor dos percalços através, implicitamente alegre. a imprevisibilidade assombra os dias fúteis dos fracos, e corrói pensamentos mundo afora.

  • supremo

    está passando a idade. ele disse. vc ainda é jovem. ele disse. você tem traumas que não me concernem, ele disse, mas você tem que tentar. curar essa dormência que te enerva, que te torna objeto, bicho, criança que chora em público. ele falou que você dorme com estrelas, mas que também precisa de contagens. de estórias, sim, mas também de corações e feridas. sem feridas não se produz ideias, ou sem coceiras fica-se sempre no mesmo lugar.

    na verdade eram duas coisas: você e o mundo. o que você faz pro mundo é o que você é dele, é o que te torna ele, é o que dele você extrai. você se torna mundo quando se divide em dois e depois em muitos, une todos num abraço, depois desencanta e segue em frente. ir embora é como duas metades iguais: a presente que vai ser sempre presente, e a futuro que não existe no agora. ainda assim, agora e presente se fundem naquilo que ainda vai acontecer e é incerto. e de coisas incertas entende o mundo.

    e ele te abraça. com uma chicotada antes e outra depois, que é pra acordar.

  • saber encontrar o lugar do gozo
    da lágrima
    no solstício inverno
    ou na sala