• performance do ponto

    DSC_0956

     

  • enquanto aguardamos a tempestade, um avião cai. nesta semana soube de tantos mortos, afetos de amigos, amigos, afetos, atropelo, atravessamento, suicídio, morte súbita. não tenho todos os nomes, nem todas as informações precisas como se pediria saber, não quero falar sobre morte. estão aí. os acontecimentos.

  • reverberar o entrave estilhaçar em mil formas

    é não esquecer como ver o trabalhos das pessoas inspirava os meus
    como cresci vendo arte vivendo floresta eu vou me tornando elas também
    que a tristeza do mercado a correria das horas não estrague o brilho que é
    perambular
    que o corpo levante saiba se fazer errante
    de novo

    reverberar o entrave estilhaçar em mil formas

    eu não sou anzol
    eu não sou cobaia
    sou colheita

    sou processo envenerado composto de um tanto de pilhas obtusas
    que sabe sair de si
    sabe cavar
    sabe inventar novelo de árvore sabe
    encontrar os amigos

    e fazer consigo
    um mar vasto um milhão
    de reais

  • emo sex

     

     

     

    quais capuzes usar numa noite de chuva?

    deletérios medos

    dúvidas capazes de

    salientar

    um desejo

    .

    o tesão se desloca

    pornografia não dá conta

    (quem tem tempo mais para atravessar

    um mar de imagens pífias

    até encontrar aquelas bonitas,

    dignas de imensidão?)

    hoje não

    .

    o erotismo das palavras

    que aparecem

    o erotismo

    dos filmes que não assisti

    dar-se ao prazer das imagens

    encontrando cantinhos

    que fazem arrepiar e sorrir

    ao mesmo tempo

    .

    nas últimas buscas

    digito: love

    digito: intimacy

    digito: laughing

    laughing sex,

    emo sex:

    meus favoritos

     

     

     

     

  • caos

    ou ordem
    ou risco
    ou padrão

    3 imagens de pesquisa

    caos_enoc
    desenho do enoc, 2 anos
    verso, ao contrário: manchas de caneta (i)
    verso, ao contrário: manchas de caneta (i)
    a máquina gira, a tinta se espalha
    a máquina gira, a tinta se espalha
  • saltosuspiro

    saltosuspiroatiro_210615

  • onde está (ii)

    antes de seguir viagem
    eu joguei todos meus mapas fora.

    era uma coleção de mapas
    analógica

    uma pasta se fazia de abrigo
    estático

    de tantas cidades
    movimentadas

    e alguns vilarejos
    em mapas caseiros rabiscados

    (que eu amo)

    mapas de papel
    como aqueles

    que se empunhamos na rua
    no brasil

    nos acusam “turista!”
    e pensam que temos dinheiro

    é mais barato que um celular
    um mapa de papel

    não depende de conexão, internet
    nem energia elétrica

    mas um mapa de papel
    é um emissário de algum tempo que partiu.

    eu guardava mapas
    há uns 10 anos

    de ljubljana, de mauá,
    amsterdam, são paulo

    são paulo nunca cabe inteira nos mapas
    e nem tentam, eles existem pelos bairros

    tão pequenos que não dá pra ler as ruas
    não parecem ser feitos para uso

    mapas de rodovias, eu guardei
    remanescentes

    de um desejo já caduco
    de pilotar estradas

    (a carteira de motorista, depois dos trinta,
    à família que quis me perpetuar criança, até hoje)

    não me lembro se tive de goiânia
    tinha esgotado florianópolis

    mas eu tive uma blusa da ilha do desterro
    quando ainda não conhecia o seu nome

    era pequena, e podia-se apontar um lugar
    na barriga

    eu não gostava
    nunca gostei de brincadeiras de toque

    intrometido
    ainda que jocoso, piada

    é um corpo
    que devaneia sobre cidades

    e sobretudo pensa em percorrê-las a pé
    todos os dias

    enquanto não cabem
    maiores montanhas

    e rodovias.

    gosto de subir aos ares
    ainda que isso custe combustíveis

    mas eu fiz o feito tão pouco
    que não integro estatística alguma.

    uma esporádica prática
    alimentada dia-a-dia

    de estar entre os lugares
    conhecer as conexões

    os caminhos
    o nada entre os pontos

    a ligadura.
    o eixo

    que se espalha
    pelos mapas.

    longe do turismo,
    as bordas

    o encontro
    descoberta.

  • um autômato é o limite da matéria

    um autômato é o limite da matéria. coleta palavras como um gafanhoto nefasto. não as digere. não cria coisa alguma. ele mistura — e nesse sentido, um intelecto animal é capaz de misturar também, com sua sagacidade de contexto e um processo de digestão riquíssimo em olhadelas, vastas borboletas e mudanças.

    não somos autômatos, senhor. lamento. lamento também as vozes que sussurram em vão nesses necrotérios. iriam sonhar em violentar cadáveres, os mesmos juízes que insistem em violentar toda vida que pulse sobre e para além de suas leis estritas. às leis, só cabem invenções espúrias. se põem cada vez mais velozes, com um tino mais gasto, mais amargo a cada dia. se perderão em labaredas, criatura.

    minhas vestes carregam vozes de tantas, tantas vidas atravessadas. somos engraçados, tão caricatos quanto nos tentam compreender. categorias inventadas cheias de preguiça, sem interesse algum. as cinzas desse meio encontramos regurgitando no meio fio, o sol a pino. não seriam mais velozes, esses bufões. mal sabem caminhar.

    peço carona na estrada, eu e tu, seus convivas e nossos agregados: temos umas caras risonhas. me chegam caminhões bradando golfadas de pó e artimanhas. não sustento. podemos seguir por outros trajetos. escolher as companhias, escolher as estradas. nem sempre dá. mas dá pra desviar, refazer, dançar e tecer curvas, malemolentes, calcando firulas. caçoando das neves, das vagens, das estruturas bélicas insistentes e ridículas sem dó. tentar sorrir. balançar, ponderando, cantando.

    não vim caminhar só, meu amigo. tampouco seguir o bando. temos borboletas em nós.

  • minimal: o quarto

    rumo, ruminância

    a pensar se precisa de tudo isso que inventaram para o seu sustento. tudo aquilo que chamam de vida, com suas vias pré-programadas – para quê? se não serve para as gentes que dirá para o que há em volta; serve ao controle. é tudo a serviço do controle, sabemos disso.

    sabe-se aquilo que se releva, somente. o que importa para cada continente. e todos os lances que escapam, que ficam fora do alcance, para que servirão? é verdade que tudo precisa servir para alguma coisa, ter um propósito, uma prontidão?

    uma coisa que importa é se dedicar a si mesmo, minimamente. cuidar e esquecer de si. saber falar de si: não haverá ninguém mais se não houver você ali primeiro, a adorar e habitar o que possui. corpo, trabalho, ambiente, amores próprios e plurais. são todavida deles mesmos, e não adianta evitar, serão nobres se souberem aprender o desprendimento.

    não há via que se salve se não cuidar. lacrimejar é raro, ao menos por aqui, mas vale o que leva. vai embora, cuidado! para que tanta cautela, não vem dali. o mundo é um só, a vida é muitas mas anda anda e continua seguindo, não há o que fazer. o dia é um só. amor é um só, até, seja aquele que foi ou o que ficou. difícil ver à frente; não adianta se dedicar às artes da previsão que somente se aprende a tomar cuidado. a se jogar da cachoeira não, e é só o estágio mínimo para aprender o lance.

    jogar o corpo, deixar cair, deixar boiar, criar raízes

    (aprender com o tempo, respeitar o tempo, respirar)

    tem vezes em que só existe medo tentando, é preciso conhecer o medo real calafrio na real das coisas, sem antecipar ou pestanejar diante dos acontecimentos. expectativas demais e coroas e rodeios – tão inúteis!

    sobretudo organização, jogos de deixa e segura, calafrios

    escrever o texto sobre o trabalho:

    ruminar o trabalho;

    se dedicar.

    como é difícil estar só quando não se tem um espaço! (e como foram dificultosas as itinerâncias acidentais desses últimos meses, não saber onde estar, é preciso existir primeiro para ser visto pelo outro (e estar com o outro é só movimento, não é preciso se preocupar))

    torturar o amor até deixar passar

    organizar o corpo, os amores correntes

    (contracorrente de rio – nadar! nadar! nadar!)