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performance do ponto
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enquanto aguardamos a tempestade, um avião cai. nesta semana soube de tantos mortos, afetos de amigos, amigos, afetos, atropelo, atravessamento, suicídio, morte súbita. não tenho todos os nomes, nem todas as informações precisas como se pediria saber, não quero falar sobre morte. estão aí. os acontecimentos.
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reverberar o entrave estilhaçar em mil formas
é não esquecer como ver o trabalhos das pessoas inspirava os meus
como cresci vendo arte vivendo floresta eu vou me tornando elas também
que a tristeza do mercado a correria das horas não estrague o brilho que é
perambular
que o corpo levante saiba se fazer errante
de novoreverberar o entrave estilhaçar em mil formas
eu não sou anzol
eu não sou cobaia
sou colheitasou processo envenerado composto de um tanto de pilhas obtusas
que sabe sair de si
sabe cavar
sabe inventar novelo de árvore sabe
encontrar os amigose fazer consigo
um mar vasto um milhão
de reais -
emo sex
quais capuzes usar numa noite de chuva?
deletérios medos
dúvidas capazes de
salientar
um desejo
.
o tesão se desloca
pornografia não dá conta
(quem tem tempo mais para atravessar
um mar de imagens pífias
até encontrar aquelas bonitas,
dignas de imensidão?)
hoje não
.
o erotismo das palavras
que aparecem
o erotismo
dos filmes que não assisti
dar-se ao prazer das imagens
encontrando cantinhos
que fazem arrepiar e sorrir
ao mesmo tempo
.
nas últimas buscas
digito: love
digito: intimacy
digito: laughing
laughing sex,
emo sex:
meus favoritos
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caos
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saltosuspiro
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onde está (ii)
antes de seguir viagem
eu joguei todos meus mapas fora.era uma coleção de mapas
analógicauma pasta se fazia de abrigo
estáticode tantas cidades
movimentadase alguns vilarejos
em mapas caseiros rabiscados(que eu amo)
mapas de papel
como aquelesque se empunhamos na rua
no brasilnos acusam “turista!”
e pensam que temos dinheiroé mais barato que um celular
um mapa de papelnão depende de conexão, internet
nem energia elétricamas um mapa de papel
é um emissário de algum tempo que partiu.eu guardava mapas
há uns 10 anosde ljubljana, de mauá,
amsterdam, são paulosão paulo nunca cabe inteira nos mapas
e nem tentam, eles existem pelos bairrostão pequenos que não dá pra ler as ruas
não parecem ser feitos para usomapas de rodovias, eu guardei
remanescentesde um desejo já caduco
de pilotar estradas(a carteira de motorista, depois dos trinta,
à família que quis me perpetuar criança, até hoje)não me lembro se tive de goiânia
tinha esgotado florianópolismas eu tive uma blusa da ilha do desterro
quando ainda não conhecia o seu nomeera pequena, e podia-se apontar um lugar
na barrigaeu não gostava
nunca gostei de brincadeiras de toqueintrometido
ainda que jocoso, piadaé um corpo
que devaneia sobre cidadese sobretudo pensa em percorrê-las a pé
todos os diasenquanto não cabem
maiores montanhase rodovias.
gosto de subir aos ares
ainda que isso custe combustíveismas eu fiz o feito tão pouco
que não integro estatística alguma.uma esporádica prática
alimentada dia-a-diade estar entre os lugares
conhecer as conexõesos caminhos
o nada entre os pontosa ligadura.
o eixoque se espalha
pelos mapas.longe do turismo,
as bordaso encontro
descoberta. -
um autômato é o limite da matéria
um autômato é o limite da matéria. coleta palavras como um gafanhoto nefasto. não as digere. não cria coisa alguma. ele mistura — e nesse sentido, um intelecto animal é capaz de misturar também, com sua sagacidade de contexto e um processo de digestão riquíssimo em olhadelas, vastas borboletas e mudanças.
não somos autômatos, senhor. lamento. lamento também as vozes que sussurram em vão nesses necrotérios. iriam sonhar em violentar cadáveres, os mesmos juízes que insistem em violentar toda vida que pulse sobre e para além de suas leis estritas. às leis, só cabem invenções espúrias. se põem cada vez mais velozes, com um tino mais gasto, mais amargo a cada dia. se perderão em labaredas, criatura.
minhas vestes carregam vozes de tantas, tantas vidas atravessadas. somos engraçados, tão caricatos quanto nos tentam compreender. categorias inventadas cheias de preguiça, sem interesse algum. as cinzas desse meio encontramos regurgitando no meio fio, o sol a pino. não seriam mais velozes, esses bufões. mal sabem caminhar.
peço carona na estrada, eu e tu, seus convivas e nossos agregados: temos umas caras risonhas. me chegam caminhões bradando golfadas de pó e artimanhas. não sustento. podemos seguir por outros trajetos. escolher as companhias, escolher as estradas. nem sempre dá. mas dá pra desviar, refazer, dançar e tecer curvas, malemolentes, calcando firulas. caçoando das neves, das vagens, das estruturas bélicas insistentes e ridículas sem dó. tentar sorrir. balançar, ponderando, cantando.
não vim caminhar só, meu amigo. tampouco seguir o bando. temos borboletas em nós.
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minimal: o quarto
rumo, ruminância
a pensar se precisa de tudo isso que inventaram para o seu sustento. tudo aquilo que chamam de vida, com suas vias pré-programadas – para quê? se não serve para as gentes que dirá para o que há em volta; serve ao controle. é tudo a serviço do controle, sabemos disso.
sabe-se aquilo que se releva, somente. o que importa para cada continente. e todos os lances que escapam, que ficam fora do alcance, para que servirão? é verdade que tudo precisa servir para alguma coisa, ter um propósito, uma prontidão?
uma coisa que importa é se dedicar a si mesmo, minimamente. cuidar e esquecer de si. saber falar de si: não haverá ninguém mais se não houver você ali primeiro, a adorar e habitar o que possui. corpo, trabalho, ambiente, amores próprios e plurais. são todavida deles mesmos, e não adianta evitar, serão nobres se souberem aprender o desprendimento.
não há via que se salve se não cuidar. lacrimejar é raro, ao menos por aqui, mas vale o que leva. vai embora, cuidado! para que tanta cautela, não vem dali. o mundo é um só, a vida é muitas mas anda anda e continua seguindo, não há o que fazer. o dia é um só. amor é um só, até, seja aquele que foi ou o que ficou. difícil ver à frente; não adianta se dedicar às artes da previsão que somente se aprende a tomar cuidado. a se jogar da cachoeira não, e é só o estágio mínimo para aprender o lance.
jogar o corpo, deixar cair, deixar boiar, criar raízes
(aprender com o tempo, respeitar o tempo, respirar)
tem vezes em que só existe medo tentando, é preciso conhecer o medo real calafrio na real das coisas, sem antecipar ou pestanejar diante dos acontecimentos. expectativas demais e coroas e rodeios – tão inúteis!
sobretudo organização, jogos de deixa e segura, calafrios
escrever o texto sobre o trabalho:
ruminar o trabalho;
se dedicar.
como é difícil estar só quando não se tem um espaço! (e como foram dificultosas as itinerâncias acidentais desses últimos meses, não saber onde estar, é preciso existir primeiro para ser visto pelo outro (e estar com o outro é só movimento, não é preciso se preocupar))
torturar o amor até deixar passar
organizar o corpo, os amores correntes
(contracorrente de rio – nadar! nadar! nadar!)