pegar com o dedo aquilo que desanima. é uma coisa, palpável, que oscila entre o estômago e o pescoço. beira a garganta, raramente sai a público. uma emoção convulsiva, evasiva, inerte: presta pra nada, essa torrência.

desanimar o desânimo. chegamos nesse ponto. nunca estivemos em outro lugar.

à bicha amada
os louros as vozes cotovelos
asneiras cabíveis lastros forças motrizes
lentidão

à bicha amada
um corpo dourado à espreita
(não era isso)
um rosto abrigo beijinho

chamego
é o nome que se dá para cuddling
na língua dos nossos parentes de terra
de chão inventivo que só faz
às gazes algozes cantinhos feridas
assim

de bairros distantes estrada aqui
bem perto aqui
ontem quem diz mês passado
agora, ver

um rodopio sagaz
uma manobra contundente
uma reviravolta
um sopro esguio ventania brisa

teu nome
chiados encontros gêneros quem?
pilhas de soterradas criaturas
que procuram
uma por vez

livros infantis fivelas firulas
abraços
sobretudo abraços
de invernos inventados halloween
à distância

música
é um assobio estrondoso

calma

te beijo

as palavras não dão conta de surrupiar os novelos
ficam assim: pasmas

e de tantos espasmos, começam a se mover de mansinho
por entre encostas, espaços abertos esquecidos pelo tempo
das multidões não mais seremos, até que

não haverá verbo para cessar os fogos
se não aquele gesto mínimo, da face
dos mais próximos

 

domesticidade selvagem

pernas

fôlego

 
 

talvez o desafio seja tecer uma continuidade

 

(abrupto)

(abrupto)