• no momento
    que antecede
    o recuo

    ali

    faíscas movediças eu vi

  • cronos

    agora os dias se estendem por além das barreiras. sobrepõem-se as datas, precisam existir custe o que for. hoje é quatorze de fevereiro, estou em niterói e não tá fazendo sentido tem meses, estou vivo e a questão do sentido se perde tem anos. vou escrever. não mais deixar em branco.

    uma foto de perfil:

    2017, estava triste
    2023, estava triste
    2015, estava feliz.

    2021, mudei tanto de casa q fui pro lugar errado
    2018, voltei a acreditar
    2018, por pouco não morri
    2020, fui embora joguei tudo fora
    2024, estou vivo e há de haver caminho.

    2019, fluxo, fluidez e muito medo
    2019, copo derramado
    2019, fúria alegre! movimento, luz, foco

    2005, alegria agridoce começamos
    2006, o mundo
    2007, vivas (triste também)
    2011, uma aventura, doeu
    2011, começa a saga de casa.

  • saída

    pensa-se que há audível,
    porém, ruído não há
    encontro botas largadas na sarjeta
    vestes difusas, andarilhos
    jacintos galhos a colecionar bocejos
    lentidão

    não encontro encostas e esfaleço montanhas
    são todos engasgos
    atalhos, firula
    meus olhos investem em corticóides e essas
    velharias que não fazem sentido algum

    remédios
    enganos
    farmacodominalescos e arbustos artificiais
    construídos por indústrias
    sem-noções

    meu cabo asfalto é doce
    já não me reconheço
    o resto, está sujo
    vou embora

  • ;

     

    reinventar do início, reescrever outros modos. isso e mais.

    investigadora crônica, compositora de enigmas, astronomias terráqueas, fogo que se faz. escrita de fortuitos acasos, devaneante-mor, viagens de força-propensão, verborragias sazonais, ama silêncio, ama vento e agrião, agridoces, sais, aprende com o mar e com as imensidões. vem dos rios e das montanhas pedregosas, úmidas e cheirosas, florestas de pinhais. desentende as cidades, mas coleciona mapas e anda elas inteiras a pé. dízimo de complexidades. a performance começa tímida, hesita, age de última hora, ri, refaz, tira a roupa ou entrecores-brilhos, e sai cantarolando onde for, alto e em voz. risadas. há de se fazer, há de se fazer. (…)

  • __

    itacoá,

    um caminho afago
    no sol de vinte e seis de dezembro

  • expedito

    considera-se uma obra póstuma 

    pontapé para o infinito, luminescência. construção de mercado velho feito afoita velha vontade, eu começo, eu ando em intenção e invento circunferências. já estão ditas, já estão escritas com todas as palavras do vocabulário corrente, em línguas misturadas que se apropriam umas às outras, como indeléveis imagens.

    um começo é uma estória, um porque em manifestação interna sem que responda à pergunta. eu recortei, ampliei e repaginei o conto, remixtures da música, misticismos dos outros e mais uma dúzia de ovos. não precisamos de justificativas, mas de ações. o ato de alguma forma antecede a teoria, pode ser versão da própria, cópia involutária de outrem, pastiche calado que subscreve. por mais que procuremos entender, não mergulharemos em todos os universos, não será possível dar conta do todo; por isso a unidade, o sujeito parcial que não se contém em querer criar suas versões dos mundos em ambientes pelos quais transita.

    porco-espinho mede universos, conhece intelectos e tem sua forma mutável de transeunte. pessoa culta que sabe cotar bem o embaralho das coisas, curte filme francês e vestes de seu avô que sequer conheceu em vida. “estava cheio de tecnologia”, um recém-amigo disse uma vez durante o trajeto. curiosíssima observação, senso comum das palavras impressas no jornal. dizem tanto desses parques de diversões contemporâneos ao ponto de nem parar pra pensar o que de fato se observa. adentrasse sem teoria prévia, o que é pouco provável, diria estar numa casa de fliperama dos novos tempos, ou num parque de televisões: estruturas expostas da máquina e outros experimentos com a luz industrial mágica.

  • casita armar

    casitaarmar

  • 2013&mídia&rua&

    montação é amor. aqui, outros nomes, uma apropriação. mídia montada de asinhas de fora, se faz de amiga, quer assaltar as máscaras de multidão. violência de estado corrompeu nossas ruas. contação de alertas, gente no chão: pensamento difuso, escreve-se para fagocitar os termos, desentranhar os caminhos por entre as nervuras do acontecimento.

    derivaceleste:

    saber emaranhar os acasos nas estranhas lágrimas provocadas pelos anteriores.

    o medo, a sede, a luta e o sossego se contaminam uns aos outros até não existirem mais.

    não há permutas, marmotas, percepções inertes ou qualquer outro sentido além daquele visível, ainda que tão turvo, paspalho:

    serão neves, tudo ao inverso. ou talvez não, coisadura. não serão fascistas a nos buscar nas casas, senhora no batente, senhor na multidão (infame ilógica inerte que perdura). enxame de refugiados na tijuca, naquela rua perto do estádio, encurralados no próprio quintal de casa. ninguém entende o assunto em voga, há tanta confusão.

    de voz em voz uns tentam pintar as cores todas de verde e amarelo, as janelas de inferno, as lutas de brincadeira e então desvalorizam o todo, a própria multidão. em processos, recessos e mistérios, porque são muitos e mil-ações.

    não tem jeito de cessar o grito porque vem de longe, de muitos, muitos anos, adormecido que estava nos pulmões de tantos, expelido enfim por aqueles que puderam se manter vivos de alguma forma. e não é caso de impeachment, sem surto. isso é tudo lorota turva, e muito simples, um caso de apropriação:

    (explicaremos primeiro a oposição)

    reacionário (adj.) é aquele que é contrário a quaisquer mudanças (sociais e/ou políticas); que se opõe à democracia; antidemocrático. sinônimos: antidemocrático, antiliberal, retrógrado e ultraconservador.

    (nada como um be-a-bá das curvas)

    tampouco nos iludamos com o liberal (s.m.), isto é, aquele que é partidário da liberdade em matéria política ou econômica. no plano econômico, é um perspicaz enganador, astuto defensor das desigualdades e do dinheiro no bolso dos indivíduos (sic) de bem.

    nenhum deles representa um perímetro maior que o próprio umbigo. talvez, e digo sem muita convicção, sejam capazes de estender algum apreço a familiares e uns poucos semelhantes, pelo puro louvor conferido à família e a propriedade, ambas instituições tão intimamente conectadas. compartilham regras, egoísmos e convenções.

    campo minado! acabaram nossos montes, direi. poderia ser – a crise já se estende por tanto tempo que mal é possível morar na cidade, e então lembramos de tantos problemas interestaduais e tão mais antigos: a polícia militar.

    (militar é um órgão capaz de eliminar todos os outros, e, por isso mesmo, deve ter sua existência sumariamente questionada)

    e então os bondes, as cores. os trios elétricos que se não estivessem cercados de tantos políciais (e nunca entenderemos tantos policiais) seriam carnavalescos, polivalentes quaisquer-uns com tanto orgulho de enfim existir. sua manifestação nada mais é que uma afirmação da própria existência. decidem ter voz. depois de tanto tempo que não se sabe ao certo de crença forçação velada em crer num sistema de números, morfemas, eixos temáticos e não se sabe ao certo e nunca em quem votar – requisito infame de uma política de delegações.

    hannah arendt diz que quando há autoridade, não há ação política: o poder de agir, nesse caso, é outorgado ao governante ou pequeno grupo que governa. pois então expliquemos, para fazer frente os confusos, gente que confunde totalitarismo com revolução (soa surpreendente, mas vive-se num mundo de disfarces, e nem é tão nova a ideia)

    desacredita no sistema em ritmo contagiante de alienação // os espaços abertos são ricos em propostas e experimentos // há aqueles (e são muitos) que procuram lideranças/desejam lideranças/querem depor o lugar // me pergunto se precisamos de lideranças em qualquer lugar // o plural é importante // não se trata de verde e amarelo // bandeiras vermelhas representam grandes articulações coletivas por direitos sociais, nunca se esqueça disso // mídia golpista, que termo sensacional // veja, minhas máscaras foram usadas por outrem // ela foi às ruas e não sabia porquê // os discursos mudaram e continuou seguindo a marcha // mudaram o rumo e alguém ficou?

    aqueles que pintam de branco são aqueles mesmos que desejarão eliminar todos os que não puderem se vestir da mesma cor.

    você quer ser eliminado? ou espera obter uma fatia do bolo?

    política de recortes, de cartas marcadas, de confusão. publicidade, política de imagens, vote no cara legal! os códigos binários e seus comandantes esperam somente respostas de sim-ou-não, são surdos de formação. no ministério das cartas altas, há interfaces e intermeios, ideias que protegem outras, surtações sim, mas muita blindagem, tanto de gentes quanto de informação. as curvas se contaminam, se misturam, não existe pureza no sistema: política de disputas, muita gana, fica um lembrete: a política é dura, mas é negociação. é perigo quando não se definem os temas, fica azul de imensidão

    (sabe, aquele que preenche as arestas, cega no horizonte e se deixa engolir no sifão)

    baderna é nossa aliada mais vasta, sim, posto que: vândalos são os policiais e seus mandantes. mas se nos chamam todos vândalos, se inserem vândalos entre nós, se vandalismo é a última moda da passeata multicolor da esquina, se qualquer passante é um vândalo em potencial, se o opressor é quem tem razão, se dão vazão às armas, tratam rua de cartazes como batalha campal, em suma, se nos bloqueiam, e atacam, seja nas ruas, em casa, em todo lugar, se não pode tanta coisa, se a fifa pode, se os donos podem, se a tevê pode, se o jornal quer convencer a sua mãe do nosso vandalismo, então sim, somos todos vândalos, vândalos venceremos, vândalismo vão de caminhar na rua, correr do gás, cair no chão..

    curioso notar que as bandeiras do começo eram pelo pleno direito de circular – de andar! pois se cortam as pernas e cobram caro pelas próteses, cobrem tudo de cimento e aqui só passa carro blindado!

    que espaço é esse forjado sobre tanta argamassa de minérios e gente que veio porque acredita que precisa trabalhar, que não come se não tiver sangue pra derramar, massa de manobra e ahhh.

    faltam dores cores palavras pra dizer o porque dos tormentos, a coisa é tudo menos plana, vigente mas cheia dos interstícios estelares e sem muitas rotas de fuga (antes houvesse – a rota maior pede uma passagem de volta, pagamento no cartão, endividamento)

    roda de chão sem voltagem, rebobina tudo, eu não quero levar porrada de policial.

    acordar com helicóptero, quintal de casa como campo de batalha.

    celebridades felizes na televisão, todos canarinhos.

    esporte é disfarce de exploração.

     
     

        * texto revisto, publicado originalmente no vocabulário político para processos estéticos

  • dirigir

    eu respiro embaixo d’água
    faço casulo comigo
    desconheço onde habito
    me faço em rasgo

    rompante de primavera
    a refazer articulações
    quadradas, desmemoradas
    creque, creque, fazem as pernas
    o torso, o pescoço
    tem caroços

    tremoço, tremeliques
    da sampaula envergada
    as memórias tantas
    passearam por aqui
    nos sonhos vagos
    da membrana

    cápsula que não se conecta
    flutua, enxerta
    uma cidade um quarto um telhado
    um cantinho no mato, bem afundado
    escárnio do dono
    negacionismo no quintal

    as conexões enteladas
    os olhos secos de luminosidades
    eu sei que vocês sentem
    também isso
    reinventar
    a vida o cotidiano os laços

    mas a estrada
    a estrada a estrada
    compõe minha espinha dorsal
    não o carregar tralhas infindável
    da minha avó
    a incompletude herdada como meta final

    é um movimento em espiral
    que torce a membrana
    faz das costas um eixo
    abre espaço
    respira

    a voz entalada
    atochada e engolida depois de
    se atrelar a uma circunstância
    um velho sagaz um jovem professor
    machocentrismo
    não tem vez

    o macho que se hospedou
    e trouxe uma pamelaânderson
    a fazer sexo de porta aberta
    o outro macho na sala
    a casa toda povoada de machos
    saí

    entreguei a casa
    devolvi o dinheiro pro pai, um macho
    que te ama, mas autonomia, meu bem
    movimento, destino, caminho, método
    quem pode escolher

    as rodas na estrada
    não verás por aqui
    não poderás pilotar
    dizer tua vez

    quem governa é o rei
    tarô me deu o imperador
    patriarcado não tem vez
    na minha voz entalada
    patriarcado inventa
    uma voz sem nome
    e corre feliz
    empossado
    inglório