• consternação, por suposto verso (verão

    mal arrumada a festinha. foi coisa traiçoeira de acaso, de vontade difusa, resultado decorrente de planos/desplanos.

    curto ajudar a amiga, ouvir a amiga mais nova falar bonitezas de suas descobertas, de história de vida, cooptar pensamentos. acho difícil compreender dependências, cobranças e inclinações para coisas que deviam ficar bem atrás. sou franca, em termos secretos, e me rendo subitamente a coisas nulas. alucinação.

    fatos não pertencem às pessoas. atitudes, de quando em quando. versaletes aos abraços de encontros fortuitos ao invés de estórias mal contadas. costumeiramente, disse o mago – que concebia a ideia como sobressalente: não se fazem mais realezas como outrora, mas [esses piriguetes] sabem perverter solfejos como ninguém.

    – há de ser absoluto de vez em vez. percorrer distâncias gigantes sem nem sentir a dor dos percalços através, implicitamente alegre. a imprevisibilidade assombra os dias fúteis dos fracos, e corrói pensamentos mundo afora.

  • Δ

     

     

     

    this version is solid
    steel and blood
    dia noturno
    sonho difuso
    plasmo: um andar

    covinho
    conspícuo
    bravo

    indeciso indiz:
    habitável
    abstrataberta crê:
    quem sabe

    uma só uma vez
    quem sabe mais

    três vezes
    vingou

    não se pode expurgar a linguagem
    fazer de sonsa e insana
    deixar habitar o mais verme sagaz
    dentro da membrana

    e há história
    e há dito
    e sentido
    vontade e abraço

    contrassenso, audaz
    volucidez
    conterrânea

    de aqui mais um e só sabe um três
    amigos

    de final feliz e vivemos finais todos os dias voilá

    a juventude senil que não tem mais memória (acabou)
    o celular

    o acaso vindouro e as ideias tão velhas
    da casa na montanha
    do bravo asfalto se fez
    e se criou
    e perdurou
    e abandonou

    o casco acaso brindou
    tão lindo
    tão rasgo

    vem cá me diz
    um selo

    quem vê

     

     

  • marte em câncer

    mesmo com tantas imagens férteis

    ainda que solitárias

    se fechar é a única coisa que resta

    a quem estátua está

    encolho, maledicente, movediço

    fora do alcance

    que só se dá a dizer

    quando vem reclamar

    indivíduo

    uno

    guarda briga

    < uma cachoeira se ergue aos meus olhos está ali não é para mim tampouco a comunidade: sou um fantasma >

    um monstro que repara a dívida

    enquanto faz caminhar os prantos

    não sou alma que recolhe

    não sou arbusto

    sou caramelo informe

    alma que celeste

    chão duro

    voltagem

    entrelaçante, amante, lívido

    tuas costas não sabem o preço dos meus anzóis

    também pudera, nunca quiseste caminhar junto

    faltava desejo

    a mim sobrou vontade de novelo

    de festejo, mereço

    necessidade pulsante sortida

    perdida a disputa

    desalinho

  • escrito para um corpo

    prólogo/

    gosto do não-livro.
    meu corpo é constituído em regimes de atenção.
    de um ponto a outro, não fixo. não lerdo.
    atento, está.
    está sem livro. é leve.
    voa.

    percorre o livro
    vento não é matéria

    *

    1/

    um corpo é feito de cotidiano e memória
    abstração, ato (calor, água)

    meu corpo é estômago e membros.
    centro e arestas
    tanto cabeça quanto pés.

    atento
    regimes de atenção compõem um corpo
    tanto quanto a água, o fluxo
    dos líquidos. correnteza.
    alerta

    acesso-chão
    curte,
    repercute

    *

    2/

    acocorado, as coxas apoiadas em arbustos

    ação: levantar, abrir os braços (sem rosto)

    recorrente (repetição):

    passo, asfalto, chão. passo, asfalto, chão. escada. passo, asfalto. bocejo. coço. cumprimento. passo, asfalto, chão, sala, televisores. máquinas. desligo o ar. abro as janelas. tento sorrir. sentada, bunda, costas. dormente. cabeça, olhos, computador. máquinas. dedilhado, dedos, pensa em música. iria amansar qualquer movimento.

    rumo: ritmo do corpo

    (centro, membros, arestas)

    *

    3/

    rumo: vocação

    (construção de um afeto-memória:
    memória do lugar,
    memória de onde se está)

    de um outro corpo:

    compõe uma lentidão. olha. essa paisagem informe, mata, gana. chão de terra batida, casa de pau-a-pique, onde estão máquinas? como compor uma memória? meus filhos. meus abrigos. as vacas mugem e me olham, eu as abraço.

    cura: gesto que acalenta (assim, com as mãos)

    abraço
    braços ao alto

    ação: pés correndo no chão (produzir vento, ritmo)

    descompasso: ao contrário do corpo em riste, aparece, apruma

    gesto: ritmo do corpo

    (centro, membros, arestas)

  • realeza : desassossego

    cada pessoa que tem compõe um mundo. ou pode vir a ser.

    tem imagem que falta, e tem gentes na esquina que nunca fazem, mas sempre comemoram. todos os dias. tem vulto que nunca iria nada, porque não quer.

    fossem todos os sonhos cristalinos, assim como as vontades que tentaria, sim, tantas vezes. as penas do travesseiro espalham todas, era pra ser diferente, estatuto em colisão.

    sim, colisão.

    e te deram tanto poder, tanta força, assim: armas.

    espada-foguete-vruuuuuuuuuuuuuum. não é anedota.

    )))))
    ))

    /

    assim: datas.

    (depois furacões)

    se não virar monstro em três tempos, esfaleço.

  • água

    a insistência no exílio como matéria infértil
    (não se exila no concreto; somente nas montanhas ou à beira do mar)

    porosidade

  • dirigir

    eu respiro embaixo d’água
    faço casulo comigo
    desconheço onde habito
    me faço em rasgo

    rompante de primavera
    a refazer articulações
    quadradas, desmemoradas
    creque, creque, fazem as pernas
    o torso, o pescoço
    tem caroços

    tremoço, tremeliques
    da sampaula envergada
    as memórias tantas
    passearam por aqui
    nos sonhos vagos
    da membrana

    cápsula que não se conecta
    flutua, enxerta
    uma cidade um quarto um telhado
    um cantinho no mato, bem afundado
    escárnio do dono
    negacionismo no quintal

    as conexões enteladas
    os olhos secos de luminosidades
    eu sei que vocês sentem
    também isso
    reinventar
    a vida o cotidiano os laços

    mas a estrada
    a estrada a estrada
    compõe minha espinha dorsal
    não o carregar tralhas infindável
    da minha avó
    a incompletude herdada como meta final

    é um movimento em espiral
    que torce a membrana
    faz das costas um eixo
    abre espaço
    respira

    a voz entalada
    atochada e engolida depois de
    se atrelar a uma circunstância
    um velho sagaz um jovem professor
    machocentrismo
    não tem vez

    o macho que se hospedou
    e trouxe uma pamelaânderson
    a fazer sexo de porta aberta
    o outro macho na sala
    a casa toda povoada de machos
    saí

    entreguei a casa
    devolvi o dinheiro pro pai, um macho
    que te ama, mas autonomia, meu bem
    movimento, destino, caminho, método
    quem pode escolher

    as rodas na estrada
    não verás por aqui
    não poderás pilotar
    dizer tua vez

    quem governa é o rei
    tarô me deu o imperador
    patriarcado não tem vez
    na minha voz entalada
    patriarcado inventa
    uma voz sem nome
    e corre feliz
    empossado
    inglório

  • azurelaços

    tem algo de errado com a matéria. com a notícia que enrijece meu corpo quando é dia – e se morre, mais uma vez, tão constantemente! aguentar os debates urbanos e notar que de fato precisa deles, ainda que haja um quê de envenenamento nas ideias totais, nas montanhas.

    há como proteger-se com tanta lembrança – e a constância, ó, meu deus, se vai dia a dia, semana a semana, alternando seus meses gastos com a vontade de ser, de fazer massas azuis que brilhem, e não só o gosto da música que pontua os relógios.

    permanece um poço, tranquilo, que busca nuvens quando abre espaço nos lençóis, e dois dias depois vai olhar a lua que anteontem era azul, agora já é meia-luz. ainda bonita. difícil construir com dedos desejos afetos essa vida inteira – vida de gente que assume e vai. quero medo-desejo, banho de rio agora, ternura e vento frio na espinha; alegria de lentidão. na roça.

    conta que não há porque, foi assim mesmo, e mesmo assim sobresiste? é como farinha que constrói castelos de areia numa praia distante, quisera, fora do tempo. porque hoje é aquele bocado de gente se acotovelando por um lugar no (guarda) sol, veraneio. agora busca vantagens múltiplas numa cidade esquisita, onde não dá tanta gente.

    deveriam caber em árvores, viver lá no canto, no alto, vibrando escutas ao que o céu parece mais perto. sereno. vontades, jovens mil, comofazemtrutas? gíria de asfalto, costumeira.

    aguento e pereço. vivo o mundo se posso dançar. se sei ritmar, tanto como os carros do centro da cidade quanto nos planos andantes, nos ventos de floresta que vão ecoar lá no mar, em casas em santa teresa e no resto que só vem te beijar nas ladeiras da lapa. florezinhas. cachaça com gengibre ainda não cura gripe, mas deixa os pacientes bem alegres.

  • olhos caídos em dezembro

    uma festa que não deu certo. um desejo contido. sufocado entre quatro paredes.

    duas imagens:

    (1) um quadro triangular, em 4:3, dentro dele uma escada velha de madeira, à esquerda. ao fundo, uma parede desgastada pelo tempo.

    (2) menina vai ao banheiro e ouve uma senhora falar. sai da cabine e continua a ouvir, ela fala de estrelas e lugares perdidos. e completa dizendo que os jovens tendem a confundir fantasia e realidade, o que pode ser perigoso e a preocupa. finaliza com uma satisfação: admira o trabalho dos jovens, e é tudo graças à tecnologia. À TECNOLOGIA.

    **

    o tempo me pede para escrever sobre o tempo que me consome e o tempo vasto que se perdeu nas memórias e que se sente na música que faz parar o tempo e bailar em voltas em saias que se confundem com meias que se confundem com beijos na boca. o tempo futuro é o que eu não sei mas os livros todos eles especulam, eles falam de crenças perdidas e espaçonaves, de andróides e mentes fora do corpo, os anos oitenta foram tanto. só suprimiria todos aqueles exageros banhados em laquê e centropeitos e mesmo alguns sintetizadores.

    o tempo em que durmo é que é passado em bocados, horas não sentidas, sussuros, cafunés-em-mim-mesma. acordo de lentes – que é pra inaugurar estas novas – e logo percebo; o quanto em vão, quantas vontades, e atropelos.

    resolução de fim de ano dá nisso, eu não ia fazer uma. eu precisava discorrer sobre o tempo e seria tão bom falar desse farfalhar das árvores daqui do bairro ainda que com o sol TÃO forte; do canto das cigarras não só ao entardecer mas várias vezes por dia. tem som de silêncio.

    falar sobre a aceleração neste fim de ano que é tão acelerado; na pressa se perde o sentido, na pressa as coisas vão caindo pelo caminho. dezembro cheira a nada, eu insisto mas não consigo, só tem som de cigarras porque eu ignoro os carros agitados e as compras intensas. por toda a volta.

    caio no mar. dou meia volta.