• pacto

    rodopiar dentro de um campo
    vem sem veneno

    corporificar o gás
    redescobrir as artérias

    é fôlego é lucidez
    fumaça irrompe

    labareda
    os nossos caminhos

    multiplicam-se em roda
    sabem encontrar uns
    [aos outros

    caem, sobem, vertem-se
    em sabedorias milenares

    repactua

    o desejo

    vem

    celeste

    caber

    colhe

  • hortíferas

    as celebrações que relegas ao outono
    ao inverno
    às hortas vorazes criaturas antigas
    do condomínio
    do chão

    cultivo de meias-portas
    altivos, saltitantes
    embriagados envoltos em colagens
    turvas, imensidões
    povoamentos silvestres

    familiares mezaninos
    cabides, abraços
    aqueles meninos já grandes
    as suas voltas
    e botas, e cabelos encaracolados

    já não colhem tão sossegos como
    ouvi, uma vez, estive lá
    ficção
    viagem fantástica conto de pandemia
    brechas
    saudosas

    já não sei se
    há caminho
    se quero inventar
    buracos
    no chão
    que não há

    entretanto está
    aqui, diante de mim

    fundamento, ligadura:

     
    um espectro

  • que tenha corpo –

    e saiba se abrir
    sem medos de feridas.

    há tanto! no meio
    emaranhado
    vir

    sua linda. buh!

  • casita armar

    casitaarmar

  • rumo

    1_semmedo

    compreender o sossego por entre as curvas. sim, é essa a tarefa suprema a realizar.

    como proceder? digo, conheço uma penca de procedimentos, talvez não aplicáveis a todas as instâncias. primeiro tem de compreender a fissura, olhar entre as bordas dos cadarços e cada modo de lidar com os ambientes. não se faz a novela como coisa pronta, tem de aprender a ver.

    pois que lide com o processo, seus não-lugares e trejeitos incômodos.

    talvez, o único jeito voraz de superar os acasos, aqueles que se convertem em desgostos, sem rapidez (como hão de admitir os jovens, vez ou outra).

    é preciso um plano. talvez?

    pontapé para o infinito, atadura. semmãos, semmedo, mmordedura. coragem, aquilo de que tanto falam os clássicos romanescos sem era, que se sobrepõem a uma realidade turva, demasiado complexa para nossos contos de fada caninos. anacronismos de infância, maus adestramentos. depois de um tempo, os embalsama todos e transforma em leituras de maniqueísmos diversos, notícias sem profusão nem densidade, as quais só se lê às partes. reitera discursos ou cria coisa alguma, mas segue algum rumo estrito que supostamente se concretiza. ou não, engole a rebelião e bate ponto no escritório, todos os dias, eis o método que seu pai lhe ensinou.

    o herói não compreende seus trejeitos, seu namorado no masculino como não poderia imaginar. e depois a família toda vê a foto, porque não a imaginava tão visível, todas as membranas da vida se sobrepondo, como cadáveres. é tudo tão transparente que dói, no semmesmo da estória. compõe de palavras e imagens uma contação sem fim de protestos, amores e títulos de algozes. todos estudantes e ansiosos por se formar.

  • estilhaço

    as máscaras se formam no infinito. não têm desenvoltura, são de uma dureza que só. solitárias florestas de nós mesmos; pequenas prisões que fazem abraços, corroem laços, voltam para tecer de novo. pequenos rumos de umas coisas assim tão belas, tão pequeninas, florzinhas a se espalhar no chão e descer ladeiras, e então tudo desmorona. só que nós, aqueles vincos distantes, estaremos já em outro chão, um chão de árvores, um chão sem fundo nem querelas.

    será de abismos composta a história, será de acasos fortuitos que não se sabem abraços, pois terão de aprender tudo de novo. terão de compor as estruturas, aprender a erguer tijolos, a revirar o solo e também a respeitar os seus tempos, os seus enlaces, as suas curvas. e não são simples as curvas, elas são no mínimo do tipo ‘cotovelo’, quer dizer, no mínimo muito inclinadas. milhões de dobrinhas a desvendar a cada movimento.

    e no entanto não existe cansaço, não será sem braços nem ação. se nos cansamos, iremos nos refazer de novo, após uma noite de canto e muitos pés que ritmicamente se revolvem em movimentos fluidos e circulares. sim, círculos e circuitos promovem regeneração de estruturas, ainda que elas mesmas circulares, sempre em curvas correndo em espirais, não apreensíveis posto que se movem e estão sempre a seguir.

    abraços, de que será feita a estrutura. gêneros, curvas, enlaces. ainda que turvas as memórias, ainda que retorcido o movimento, o contexto geral e toda sua dureza de cimento. cinismo aprendemos nas infâncias, o be-a-bá do mundo, para depois revolver-nos em desconstruções, risadas, todos aqueles absurdos que irão compreender mínimos aspectos e enfim a noção de que não há todo a ser visto, senão de outro modo. todos os nós compreendidos em estilhaço, e sim estilhaço, mas ainda curvas, curvas nos salvarão.

    e só nós mesmos, por entre as árvores para inventar costuras e desmembrar as cinzas, todas elas. em múltiplas partes e fragmentos, cientes de seus limites e asfaltos, ainda tecendo curvas sem chão.

  • i

    atores mesmos são eles gestos. vozes que não se misturam, vazios intelectos, atos que vão seguindo pontos, dançando pontos, se perdem.

    escandalosa miragem permanece forte na rua. quer invadir atos, vontades, mas só atinge a coisa mesma, sem nexo. é raso. ricocheteia nos prédios, nas pessoas, não vaza em ninguém.

    conversa de bar que escorre e praticamente não existe. só imagens, sorrisos, rumos difusos e repetições. às vezes música, som alto vindo das vozes, subterrâneo de atividades sonoras, efeitos químicos. nada mais que urgência, não é importante.

    converso no lugar, me junto, perco o dito das coisas e enfim faz sentido! entre perambular pelos escambos, pelas brechas, acessos à cultura e à imagem por um pouquinho de escape. mundos pequenos que apresentam eixos universos.

    do verbo que ainda não existe, acontece.

    situação simples que inverte, alimento, torna energia o fluxo. rodopia, cumpre, faz girar.

    quase sem nada, meio sem nada, por isso lá.

  • x

    queria escrever uma carta para alguém imaginário,
    pois tem sido muito difícil encontrar as pessoas nas multidões.

    criar espaço em bagunças espasmos,
    festas, amor estilhaçado
    em multidões, de novo
    emaranhados que acontecem
    e participo

    (nem sabe os meandros por onde passam, nessa vida, os abraços)

    observações
    de modos de vida,
    lixos e materiais
    comidas e animais,
    amores,
    abrigos,

    sobram uns desejos

  • foguetinho

    um caminho abestado
    besta tem vez
    sabe embolado sufoco marcado
    besta tem

    invenção suplínio
    cabestadura e não sabe
    arrefecer do sossego
    desinventar o ódio
    embasbacar a zebra

    sabe enrolar uns novelos nocê
    sabe, sabe curtido
    imensidão de três ladinhos
    cascalho quando mente
    pede novela

    caboclo quando conta história
    inverte tudo ao contrário
    sabe novena
    (sabe nada)
    sabe mistério

    desembolar o asfalto
    AÍ SIM
    pede três foguinhos
    eles vêm embalados em
    papel de seda, pomposos
    consomem três florzinhas
    de zebra, três caramelos
    azulados, foguetinho

    ele já se perdeu
    não sabe o caminho do rabo
    a casa investe em montantes
    duradouros, ele sabe
    quisera eu