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casita armar
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que tenha corpo –
e saiba se abrir
sem medos de feridas.há tanto! no meio
emaranhado
virsua linda. buh!
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ia
org
órgão
organiza
orgia
ia -
mar
a praia é um santuário que as pessoas vão visitar. aquilo que fazemos quando estamos lá, em companhia de pessoas, é apenas tratar como comum o acesso a algo extremamente poderoso, extraordinário. la mer, poderosa, o mar, iemanjá. a força, a energia das marés, da água viva em movimento que é o mar é sentida no corpo por horas depois de ir. e segue. relaxa os músculos, ajuda a respirar, a curar feridas, assimilar contratempos, amar. se amar. amar a si, antes. emanar calmaria, resistência. mesmo quem não mergulha sente, já que a maresia permeia o ambiente, está no ar, arredores. mas, sem dúvida que mergulhar é mais intenso, mais forte.
cachoeira também é um santuário. a floresta como um todo. mas as águas, as águas. fonte da vida, mesmo! o que o mar limpa em profundidade com seu sal a cachoeira vem avivar. dar risadinhas com as cócegas fortaleza das águas. respirar ar novo, pura vida.
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supremo
está passando a idade. ele disse. vc ainda é jovem. ele disse. você tem traumas que não me concernem, ele disse, mas você tem que tentar. curar essa dormência que te enerva, que te torna objeto, bicho, criança que chora em público. ele falou que você dorme com estrelas, mas que também precisa de contagens. de estórias, sim, mas também de corações e feridas. sem feridas não se produz ideias, ou sem coceiras fica-se sempre no mesmo lugar.
na verdade eram duas coisas: você e o mundo. o que você faz pro mundo é o que você é dele, é o que te torna ele, é o que dele você extrai. você se torna mundo quando se divide em dois e depois em muitos, une todos num abraço, depois desencanta e segue em frente. ir embora é como duas metades iguais: a presente que vai ser sempre presente, e a futuro que não existe no agora. ainda assim, agora e presente se fundem naquilo que ainda vai acontecer e é incerto. e de coisas incertas entende o mundo.
e ele te abraça. com uma chicotada antes e outra depois, que é pra acordar.
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posição fetal agitando
um punho um aceno um abraço
garante que
ao menos a gente tenha junto
alguma vozum novelo
e seu bagaço
encontro da família
com o asfalto,
a rua duraas legendas dessa cama
contam com duas ou três arestas
não doces, não tem vez
meu corpo
os mosquitos
o chãoo saliente zumbido
a tua voz
no celular, àquela altura
da manhã enviesada
no rasgo, no sustento
do que viria a ser
e do que nunca foi
e que provavelmente
encerraríamos aqui mesmoo novelo o novelo absinto
reanimo
os bichos -
correria
fui contar estrelas
encontrei escombros
da minha última jornada.corri para o quintal
e gritei pro céu
por que tamanha bobagem?daí recontei
todas elas
sem número exato
nem firulase não é que acabo as engolindo?
escorregando pela minha garganta
fanfarronas, esbeltas
correm felizes
pelas colinas vermelhas! -
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eu estou aqui fazendo essa tarefa difícil. ela, em sentido maior, nada tem a ver com você. mas, se alguma vez na vida você tem como ajudar uma pessoa, faça. sei lá, me parece uma práxis digna. se não tem um custo assim tão grande. algumas pessoas a praticam. eu procuro praticar. outros têm praticado, a contribuir para que os outros caminhem para a frente. se quais os motivos fazem um pé empacar, um pedaço de roupa ser fisgado por um arame farpado, ou o porquê de haverem arames farpados pelo caminho, maiores ou menores, isso interessa? podemos falar sobre isso, mas não parece que interessa. os motivos de cada pessoa podem ser lidos como participantes de um problema endêmico, histórico, circunstancial maior, e podem envolver isso de outros modos, ou não. de novo, se interessa, acho até que já verbalizei muito, soou em vão. é o em vão que incomoda. o intervalo entre uma fala e outra, uma certa negação esquisita, um pouco enviesada. em conjunto, se explica pouco pelos modos convencionais.
os esforços não parecem findar. há uma estrutura que está a beira de, quase ao cabo de, mesmo que digam que poderia ter ido bem mais. que os motivos são vistos como firula, qualquer coisa por aí perdida num dia de trabalho. acontece. trajetórias distintas, caminhos, as pessoas têm planos, procuram, estudam, e o tempo corre corre. o aluguel vence todo mês. a gente vive numa sociedade em que pensar – e argumentar – é visto como algo a parte, algo que não cabe, ou cabe pouco, se deixa passar. o pé que não arreda do pensamento crítico e da pesquisa é mais conhecido das grandes vozes, dos ruídos de bar, dos acessos privilegiados, da reclamação cotidiana ou das vozes que se fazem grandes apagando outras, também. e dos homens. às mulheres cabe, sei lá, tentar.
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reinventar do início, reescrever outros modos. isso e mais.
investigadora crônica, compositora de enigmas, astronomias terráqueas, fogo que se faz. escrita de fortuitos acasos, devaneante-mor, viagens de força-propensão, verborragias sazonais, ama silêncio, ama vento e agrião, agridoces, sais, aprende com o mar e com as imensidões. vem dos rios e das montanhas pedregosas, úmidas e cheirosas, florestas de pinhais. desentende as cidades, mas coleciona mapas e anda elas inteiras a pé. dízimo de complexidades. a performance começa tímida, hesita, age de última hora, ri, refaz, tira a roupa ou entrecores-brilhos, e sai cantarolando onde for, alto e em voz. risadas. há de se fazer, há de se fazer. (…)