• Δ

     

     

     

    this version is solid
    steel and blood
    dia noturno
    sonho difuso
    plasmo: um andar

    covinho
    conspícuo
    bravo

    indeciso indiz:
    habitável
    abstrataberta crê:
    quem sabe

    uma só uma vez
    quem sabe mais

    três vezes
    vingou

    não se pode expurgar a linguagem
    fazer de sonsa e insana
    deixar habitar o mais verme sagaz
    dentro da membrana

    e há história
    e há dito
    e sentido
    vontade e abraço

    contrassenso, audaz
    volucidez
    conterrânea

    de aqui mais um e só sabe um três
    amigos

    de final feliz e vivemos finais todos os dias voilá

    a juventude senil que não tem mais memória (acabou)
    o celular

    o acaso vindouro e as ideias tão velhas
    da casa na montanha
    do bravo asfalto se fez
    e se criou
    e perdurou
    e abandonou

    o casco acaso brindou
    tão lindo
    tão rasgo

    vem cá me diz
    um selo

    quem vê

     

     

  • ca

     

     

     

    o canário se aproxima
    não é hora de se subjugar
    tecer constelagens de pequenas falsas mordagens
    firula, que nem algoz
    diria que não
    diriam que não tantas coisas
    furtivas vozes que se refraseiam
    e parafraseiam cristais
    pardais sem nome
    pássaros migrantes sem lugar sem hora
    capaz
    foste uma vez mudar
    de capa, de penas, de anzóis
    e casacos de chuva, para
    dias secos que se seguem sem vez
    aridez de tantos cantos
    de danças que revigoram
    caminhos
    abraçam amigos fazem chorar
    cantam vestígios de toda hora
    prontidão
    rastros cantos quebrados asfaltos
    mortes pelas vertigens dos estados ali
    amigos, de novo, presenciam
    alguns
    solfejos dos sem caminho
    das fugas premeditadas
    daqueles que guardam dinheiro há dois ou três anos
    providências
    barcos, tenho pensado em barcos
    mais que aviões
    que afundam, barcos, asas, pássaros
    e modos de transporte menos lembrados
    ainda que catracas, consulados, gente que irá te julgar
    em tempos em que violam países
    sempre violados, a história diz
    tão frequentes as violações
    que se pensar nisso não move uma pena
    uma linha sequer
    e tantas linhas se tecerão
    pelos encontros as danças
    nunca parar de dançar
    nunca pestanejar, ainda que
    inversões caminhos entremeâncias ainda sonhos
    ainda diversos lugares viajo entrementes
    danças, volto, rememoro, faço espiralar
    nunca deixar de dançar nem os encontros
    lá, a teoria, as ideias tão antepassadas
    e que no entanto retornam
    perduram, te atiçam em voz e são os universos que colidem
    os tanto mais a incentivar
    lance curioso
    atrito produtivo
    vontade
    vaz

  • casco

    lentidão,
    como é bonita
    a tua terra

    como tece o teu segredo
    entrementes
    toda vida

    como constrói
    um arbusto
    tão sereno
    que tudo percebe

    silencioso
    arbusto

    todavia
    carrancudo
    lento,

    ameno
    tão seguro de si
    tão tormenta

    terminaria todos os afetos
    encurralando aquilo mesmo que vi
    que vivi
    em um ato

    sereno,
    contudo

    um domingo
    no campo asfalto
    se nem montanha

    amor
    sobe
    atravessa
    todas as pontes

    desato

    desalinha
    os montes

  • o acúmulo depois de um tempo pesa

    o acúmulo depois de um tempo pesa
    passa
    atrasa os terrenos

    tempo curtido,
    escasso.

    o acúmulo que tantas
    coisas fiz
    (e de assuntos que não são
    memória)
    a glória
    é construção
    acaso
    limpa que se faz nos braços
    e abraços
    que se preza.

    a calma
    construída
    conhecida

    os lugares mesmos
    meus que não
    permito
    o aflito
    foi abafado em construção

    o ritmo
    das memórias
    das glórias e
    dos bocados bocejos
    cotidianos –
    trabalho

    todos os dias
    no metrô
    os abraços sem abas
    e os atos sem glória
    a história

    a construção do
    ritmo que não
    cabe na memória

    se faz
    nos movimentos
    de um braço queluz

    em cruz

    solfejo,
    tateio,
    alento.

    abre alas
    para um pouso incerto
    (e por isso mesmo,
    esperto)

    compõe bicicleta
    sabe os trejeitos
    da espreita
    e das composições
    das quais só vê
    um
    ou dois
    motivos

    um respiro
    é um começo

  • estrutura

    como se reinventa um corpo
    (um desejo)
    a olhar por ele mesmo
    a se ver

    campo ampliado lente macro
    composição inteira
    de pé

    sustento, de pé
    altura, de pé
    postura, de pé
    abdômen, de pé
    (bem fincados, peso distribuído)

    peito aberto
    olhar

  • miolo

    costurava vozes e engasgava ruídos em sonho e em situação. sim, sonhei em situação, que se estendia até transformar algo potente em intensidade demais, ruído demais, então acorda. corpo dolorido, vai se reconhecendo nas dores, resgatando cada processo que enfim desembocou em – massagem. curvas que doem e fazem barulho, e assim cura, processo de cura, retorno às espirais que tanto me cultivam e me fazem estar em prumo. não tem persistência na aula porque mensalidade, mas o corpo vai aos poucos ganhando memória.

    da última vez que caí de bicicleta fez uma surpresa meu corpo – ele já sabe girar e se esquivar ao máximo da queda, aproveitando o impulso pra subir. rolamento, das aulas de contato-improvisação e kinomichi. ecos de aikido, que ainda não conheci em estado puro.

    obviamente me questiono sobre as divisões do tempo que faço e as relações que estabeleço. sonho que estejam próximas de algum zelo que não faça demorar demais. ninguém deseja que. ainda que o reconhecimento de que alguns processos demandam uma duração mais contínua, outros mais desenfreada, e por fim os processos lentos, lentos e fundamentalmente importantes na composição da narrativa.

    costuro. começo a costurar. da manutenção básica de tempos em tempos, necessária para o bom funcionamento das máquinas, óleos – eu só queria um cotidiano silêncio carinho gato afago comida quentinha e correr, pra sentir os músculos um pouco. sem fumaça de carros. qualquer lugar.

    só existem específicos e apontados com muito afinco, nada mais.

    memorar todos os dias.

    o sonho em matéria de chão era bem aberto, talvez excepcional, ou algo de excepcional ocorria. união entre lugares, referências, pessoas de esferas austrais e música. em tudo de excepcional haverá música (ou silêncio)

    braços abertos \o/

    mentiras vocês contam toda vida, e então acreditam nelas. um buraco asfáltico assim se cura? pontaria. tentam muitos, assistimos, criamos mídias bocados para silenciar e para vociferar, todas medidas. tornam mentiras também, as mídias. sobrepõem em camadas.

    o corte, o corte é a medida. meio de existir em camadas mas saber acessar – onde estará – a curva

  • supremo

    está passando a idade. ele disse. vc ainda é jovem. ele disse. você tem traumas que não me concernem, ele disse, mas você tem que tentar. curar essa dormência que te enerva, que te torna objeto, bicho, criança que chora em público. ele falou que você dorme com estrelas, mas que também precisa de contagens. de estórias, sim, mas também de corações e feridas. sem feridas não se produz ideias, ou sem coceiras fica-se sempre no mesmo lugar.

    na verdade eram duas coisas: você e o mundo. o que você faz pro mundo é o que você é dele, é o que te torna ele, é o que dele você extrai. você se torna mundo quando se divide em dois e depois em muitos, une todos num abraço, depois desencanta e segue em frente. ir embora é como duas metades iguais: a presente que vai ser sempre presente, e a futuro que não existe no agora. ainda assim, agora e presente se fundem naquilo que ainda vai acontecer e é incerto. e de coisas incertas entende o mundo.

    e ele te abraça. com uma chicotada antes e outra depois, que é pra acordar.

  • nos confinaram num planeta incerto

    gozar pelos caminhos

  • expedito

    considera-se uma obra póstuma 

    pontapé para o infinito, luminescência. construção de mercado velho feito afoita velha vontade, eu começo, eu ando em intenção e invento circunferências. já estão ditas, já estão escritas com todas as palavras do vocabulário corrente, em línguas misturadas que se apropriam umas às outras, como indeléveis imagens.

    um começo é uma estória, um porque em manifestação interna sem que responda à pergunta. eu recortei, ampliei e repaginei o conto, remixtures da música, misticismos dos outros e mais uma dúzia de ovos. não precisamos de justificativas, mas de ações. o ato de alguma forma antecede a teoria, pode ser versão da própria, cópia involutária de outrem, pastiche calado que subscreve. por mais que procuremos entender, não mergulharemos em todos os universos, não será possível dar conta do todo; por isso a unidade, o sujeito parcial que não se contém em querer criar suas versões dos mundos em ambientes pelos quais transita.

    porco-espinho mede universos, conhece intelectos e tem sua forma mutável de transeunte. pessoa culta que sabe cotar bem o embaralho das coisas, curte filme francês e vestes de seu avô que sequer conheceu em vida. “estava cheio de tecnologia”, um recém-amigo disse uma vez durante o trajeto. curiosíssima observação, senso comum das palavras impressas no jornal. dizem tanto desses parques de diversões contemporâneos ao ponto de nem parar pra pensar o que de fato se observa. adentrasse sem teoria prévia, o que é pouco provável, diria estar numa casa de fliperama dos novos tempos, ou num parque de televisões: estruturas expostas da máquina e outros experimentos com a luz industrial mágica.