sonâmbula percorre caminho

o que sacode o corpo? relevo.

saltitar em meio à multidão.

plantar bananeira, enviesar. lutar por compreender as torções em que meu corpo trava, evita percorrer. todos os caminhos de hábitos, todos os modelos viciados de se movimentar, todos os refinamentos.

meus pés, como se plantam no chão. como o espírito se sustenta, barriga em riste, mente alerta. olhos semiabertos, que é a sonâmbula a olhar o chão. a sonâmbula é quem sabe caminhar melhor. com sua atenção semi-dedicada, se põe a observar desinteressada e abstratamente o que a rodeia. com isso, percebe facilmente coisas que outros não podem ver, simplesmente por estarem condicionados demais. puro café naquelas veias, fumaça nos pulmões. movimentos arrumadinhos, passos coordenados, pelejas, gestos automatizados. equipamentos elétricos e curto-circuitos.

a sonâmbula somente usa chinelos e não carrega nada. não carrega consigo carteira, chave, telefone, coisa alguma. somente a roupa do corpo, e seu corpo, e seu sossego. os olhos que observam à meia mão. os sentidos atentos, relaxados, estão. estão no presente.

se sentir sede, água haverá de encontrar. seu caminho é a rede que a acolhe – seja na cidade, seja no campo. a mata é seu habitat propulsor, seu rumo. mas ela não está lá. está no meio do caminho entre o chão e a ponte, e vai se sustentar.

como uma ponte, com o corpo. como o corpo que caminha sem se preocupar. ela não ostenta a cidade, ela não usa dinheiro. ela não precisa do cimento nem das eletrificações, mas eles estão lá, como obstáculos ou simplesmente paisagem.

paisagem é a zona de todas as mortes. e espaço de construção de todas as vidas.

a paisagem muda, a paisagem é enviesada. a paisagem se quebra. a paisagem se anula.

a paisagem do mar de carros contraposta à imensidão das montanhas. área protegida, área florestal, área reservada — restrições.

do conhecimento privado ao conhecimento público, livre e fluido, eu vou percorrer todas as arestas e gerenciar todas as curvas. ir.