ritmo, tessitura de tempo reverso.
composição de nervura; processo.
lavar roupa como prática artística. lavar roupa como gestual de braço, força pequena, corpo em riste cotidiano. lavar roupa como prática subestimada em todos os tempos de correria urbana. lavadeiras, seres rurais.
– por que você não compra uma máquina, inês?
– mas e sentir o processo, o fazer? o tempo é outro, não?
(isso vale para tantos degelos de dobras, tantos variantes da mesma partitura)
testo um ritmo; leveza. quando pesa revejo os trejeitos, penso se cabe um pouco lá, por fim cedo. às vezes o rumo é ceder, sem invalidar o processo.
um ano inteiro lavando roupa na mão. arreguei por duas vezes bem esparsas: levei roupa pra lavar no rio de janeiro, carregando na mala. não tenho tempo, aquela frase tão sem vazão.
não ter tempo é não dispor de si mesmo, não ordenar bem as coisas, priorizar sem saber como.
(sabedoria de tempos mutantes, sempre se faz, se recomporta)
aprendo tanto com gestos cotidianos, uma casa que se faz, precisa se fazer do zero, ponto de partida mirim para tantos gestos maiores, relutantes, aprendizes gigantes.
mais difícil entender o que vem pronto, o que chega benfazejo de durezas de formas e poucas brechas entre azulejos para composição. gesto é composição, é cuidado, olhar o terreno e entender como ele te abraça.
como se faz um abrigo? com que autonomia posso cuidar de um sustento?
(não será com braço alheio, não será sem chão)
(é quase música; repito, enveredo)