greve geral [e consentimento silvestre]

há algo no consentimento do pulso que não deixa sentir a toda hora
faz de revéses uma história
contada a pulsações desconhecidas que um dinossauro antevê

esse ano contado a dor e anéis é uma afável vindoura
celebra com vinho o que arquivo se faz
remexidos, todos eles
a pingar pelo chão pintando as gazes feito hibisco

cor
celebro sozinha no quarto o que se faz coletivo
lá embaixo, lá na sala
cozinha que cheira até aqui e penso se
haverá mundo
ainda
a colidir

dar conhecimento prévio de
greve geral
corre lá fora
corre aqui dentro e faz correria todo o entorno
modos de

arrumar a geladeira
conservar a comida
cozinhar junto

modos de
guardar as roupas
enfileiradas ou em mistura
separadas ou conjuntas
de que modo de

fúlvias maneiras evocam vulcões enquanto só quero subir uma encosta
uma encosta somente, poderia ser o morro da urca, facinha
eterno ensaio para aquelas maiores, que nunca vi
mas sonho com elas todos os dias
sonho com as montanhas gigantes enquanto vejo
países dantescos, distantes e vindouros
gelados, sim, pois vejo sol
nos meus sonhos sempre há sol e névoa

como em paranapiacaba
em que subimos telhados e comemos hortelãs silvestres
era baixinho
escondido, quase ao acaso
ruínas de casa, uma planta
moramos na planta da casa
tomada de gramíneas e pequenas ervas cheirosas
anzóis

colidir
como beijo
que há muito desconhece como se acessa aquela intensidade toda
que em tempos moveu montes e depois e muito e montes de novo
amor
afáveis ligaduras
amáveis coliduras
de coligações
e gestos
ambição

de construção conjunta coligada
como consentir
sem destruir a memória que a remexidos eclode
cá, entre nós
bem dentro da pele
entre os campos de densidade e subversão

cidade
colidura
vesti entre vezes e não se fiz de abstêmio
quem viu
o disco correr na vitrola
senti tantas vozes partirem que agora já espero que partam
a toda hora