de mão / corpo / água

pensar meu nome escrito em
ar condicionado
terno emplumado, enxuto, asseado
sapatos de verniz ou botas
paetês
(a um pertencimento)

azul
verde
prateado

mata úmida
bem chegada

és tu mais uma vez
sem porquê
de corpo devaneado
mal inventado

a saber se
          encontra
              patrocínio
age à mentira relatada

(sem café)
(com água)

pero sem aquela
poça
alagada
dos dias
chorados
a conta vencida
ansiedade

concreto é ver
alguns absurdos
darem certo

em brilho vermelho
lá fora

uns amigos reunidos
em volta
em torno
de
fogueira
constelação
aquilo que age

sem aqueles mesmos
vícios
donde se ouve
ecos
sinos
conjunção

a roupa é a roupa é
a roupa mesma

quis estudar
teatro
mímica
butô
cortes rasgados
cenografia
cosmologia
lugares longíquos
montanhas
seres viventes

sim
sempre muito vivas
e imponentes

a lembrar aos sóis
que habitam em nós
que tamanho temos
que somos maioria
que somos magníficas
que não existe caminhar só
nem casa grande demais

os buracos
hão de ser preenchidos
ou habitam
novas memórias

não se deixam trancar nunca mais
não se deixam tolhir nunca mais

completam
se cumprem
permanecem abertos

somos maioria
somos (subjetivamente) imunes

estamos vivas
como as árvores
e as montanhas

que se engendram umas nas outras
e criam raízes subterrâneas
nunca rasgam
nunca hão de cair
são selvas
indomesticáveis