eu estou aqui fazendo essa tarefa difícil. ela, em sentido maior, nada tem a ver com você. mas, se alguma vez na vida você tem como ajudar uma pessoa, faça. sei lá, me parece uma práxis digna. se não tem um custo assim tão grande. algumas pessoas a praticam. eu procuro praticar. outros têm praticado, a contribuir para que os outros caminhem para a frente. se quais os motivos fazem um pé empacar, um pedaço de roupa ser fisgado por um arame farpado, ou o porquê de haverem arames farpados pelo caminho, maiores ou menores, isso interessa? podemos falar sobre isso, mas não parece que interessa. os motivos de cada pessoa podem ser lidos como participantes de um problema endêmico, histórico, circunstancial maior, e podem envolver isso de outros modos, ou não. de novo, se interessa, acho até que já verbalizei muito, soou em vão. é o em vão que incomoda. o intervalo entre uma fala e outra, uma certa negação esquisita, um pouco enviesada. em conjunto, se explica pouco pelos modos convencionais.
os esforços não parecem findar. há uma estrutura que está a beira de, quase ao cabo de, mesmo que digam que poderia ter ido bem mais. que os motivos são vistos como firula, qualquer coisa por aí perdida num dia de trabalho. acontece. trajetórias distintas, caminhos, as pessoas têm planos, procuram, estudam, e o tempo corre corre. o aluguel vence todo mês. a gente vive numa sociedade em que pensar – e argumentar – é visto como algo a parte, algo que não cabe, ou cabe pouco, se deixa passar. o pé que não arreda do pensamento crítico e da pesquisa é mais conhecido das grandes vozes, dos ruídos de bar, dos acessos privilegiados, da reclamação cotidiana ou das vozes que se fazem grandes apagando outras, também. e dos homens. às mulheres cabe, sei lá, tentar.