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é preciso abandonar um universo para ir de encontro às coisas. poderia descrever minuciosamente alguns acasos, ou atravessar em vendavais os maus transeuntes. são públicas, as memórias. estão em desgaste corrente as multidões, que no entanto ganham força. sobrepõem-se continuamente. multidão-livro. multidão-blusa. multidão-multidão e categoria nenhuma. tentativas de apreensão rotineiras são contrapostas a evidências históricas, nenhuma animadora no presente momento. as versões que se estabelecem ululam, reinvindicam o poder para si, e esfacelam craquelê na esquina mais próxima. é invisível, o poder protocolado é invisível a si próprio, nariz entupido em sangue. existem rastros e razões diversas, controversas, justapostas, em …

vão

cabe quase nada nesse tampo fechado. ainda assim procuramos adornar com flores, colocar uma nuvenzinha entre as vestes e sair a foliar. os panos são tão grandes que quase arrastam no chão. juntam gelo, afagos, música de reco-recos e essas gentes que andam pulando pelas ruas. colhem chão, bebem cores e dão altos pulos que fazem ver o céu azul. custou a encontrar. ainda agora pensa se cabe, onde cabe, se vai caber. se vai transbordar. se vai deixar de achar a ruela, a data precisa, o encontro faceiro que desencadeia os ecos. os ecos são os povoamentos, aquilo que …

arguto

estou com uma vontade enorme de plantar verduras, legumes. os nervos da minha carne já não se aguentam mais: o supermercado é para os fracos. não me alimenta, só faz empanturrar as populações de simulacros enlatados e enfileirados. virei bode. prevejo lunações fora de fase, patadas, amortizações sem preço e carinhos feitos ao ar e ao sol. passei a andar nua pela cidade, quer me deixassem, quer não. o segredo foi só usar uma camada de tecido sobre a pele, ou vegetação: enquanto me pensam vestida, está tudo tranquilo. o disfarce deve valer também para os assimétricos todos, todos os …

estilhaço

as máscaras se formam no infinito. não têm desenvoltura, são de uma dureza que só. solitárias florestas de nós mesmos; pequenas prisões que fazem abraços, corroem laços, voltam para tecer de novo. pequenos rumos de umas coisas assim tão belas, tão pequeninas, florzinhas a se espalhar no chão e descer ladeiras, e então tudo desmorona. só que nós, aqueles vincos distantes, estaremos já em outro chão, um chão de árvores, um chão sem fundo nem querelas. será de abismos composta a história, será de acasos fortuitos que não se sabem abraços, pois terão de aprender tudo de novo. terão de …

andarilhe

de toda intenção de florescer, agora revolto em sustento. de novo isso, mas isso sim, isso de novo, isso teremos de sustentar. sustentar o sustento. coordenar a procriação da dança, o benfazejo com esmero, toda esperança: laboriar, laboriar, laboriar. re-criar os modos como se laboreia. refazejo de forma, de estrutura. confecção de linha, porventura. das variáveis, constantes: esse fluxo de vozes imbocáveis que atravessa o corpo, todo o tempo. uma onda de caos, uma onda de amor. me atravessa, está aqui. agora grito, estribilho, tudo fica dentro. guardadinho. enviesar todos os preteridos para depois, todos os assuntos. não existe depois, …