trajeto

às vezes eu tenho a estranha vontade de dormir num ônibus não que seja confortável não que não haja ruído é o simples gesto de estar em movimento ir de um lugar ao outro como se com isso – transpondo cidades – algo pudesse transmutar constelação vista pela estrada ruído de máquinas, parada assunto de duas cadeiras à frente música não gosto, me vejo procurando caronas mas quando dizem que – vamos conversar agradeço meu direito de permanecer calada embarco num ônibus, adormeço entrecostada sonhando abruptamente com locais um pouco menos vagos situações menos gastas encontros calorosos e afáveis conforto …

fortalezas

escrever sobre um não-dito. escrever sobre um partido. escrever sobre uma cara lavada, encontrada no meio da multidão tentando ir pra casa. descobrir no meio da estória que a personagem não tinha modos, não tinha um facão, para cortar todo o mato em volta que leva à passagem do caminho. o cantinho no meio do mato imenso na multidão. na canção falava de pessoas-árvore, de onde saía uma cobra e então dissolvia. abria outra variação. no sonho contava laços e obras, pulando de pedacinhos, dormindo numa caixa vermelha, abrigada da chuva num lugar estranho, temporário, porém amigo. desconhecia os vestígios. …

tamanho

– “como você se amplifica?” – processo. lentidão, depois tamanho. como a carta em que diz (não diz) onde está a chave do tamanho (você descobre, no porvir, ao passo do movimento) – onde está – ? – acaso o movimento te percorre, te dá voltas, te brinca de inventar duzentas formas, e enquanto isso, enquanto isso, percebe, envolve, envolve o movimento, envolve a dança, envolve os morfemas, as pessoas, o que há de vir o que amplifica é o mesmo que move? não sabemos, mas envolvemos uma pá de lembranças enquanto procuramos, e encontramos quando não pensamos, lapsos de …

descaminho

algumas coisas convergem para não colidir. an island shakes. universo florido num pedestal. glórias. desalentos. celebração numa floresta de cabos, demônios, inversões, acasos. invernos somos uns para os outros e tudo o que exalamos são vozes. imersões não consigo, tão fundo. eu deixo linkar e aqui não é lugar de esconder, mas expor, fazer. pressão demais. abre, mas abre pouco, que é pra continuar tendo aquele lugarzinho lindo que não sabe nomear, inventa, investe, coerção. de novo, o mergulho. ele se revolve. o som é uma mistura de muito do que eu faria e não faço, agora mesmo. simbólico caminho …

sonâmbula percorre caminho

o que sacode o corpo? relevo. saltitar em meio à multidão. plantar bananeira, enviesar. lutar por compreender as torções em que meu corpo trava, evita percorrer. todos os caminhos de hábitos, todos os modelos viciados de se movimentar, todos os refinamentos. meus pés, como se plantam no chão. como o espírito se sustenta, barriga em riste, mente alerta. olhos semiabertos, que é a sonâmbula a olhar o chão. a sonâmbula é quem sabe caminhar melhor. com sua atenção semi-dedicada, se põe a observar desinteressada e abstratamente o que a rodeia. com isso, percebe facilmente coisas que outros não podem ver, …