avenida passos em duas situações

em locais públicos onde há grande circulação de pessoas em dias de semana, colocamos uma lona (de tecido) no chão sobre uma “lona” preta. tinta azul solúvel em água é colocada sobre uma bandeja com espuma, de modo que funcione de carimbo. transeuntes são convidados a molhar sutilmente a sola dos sapatos na tinta e caminhar pela tela, pela lona, pelo chão. em sucessivas ações, o azul surge em locais distintos, enquanto as lonas adquirem novas camadas.

1º local: largo da carioca, rio de janeiro, próximo à avenida passos (referente ao famigerado prefeito pereira passos, responsável por uma onda de remoções e “revitalização” na cidade no começo do século XX).

colaboração: matheus simões e tino ruggero

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2º local: rua são josé, rio de janeiro, próximo ao terminal de ônibus menezes cortes e à praça xv, ambos pontos que ligam a capital a outras cidades próximas.

colaboração: maya dikstein

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de início a ideia era pisar só no chão mesmo, com os sapatos sujos de tinta. daí você lembra das políticas de promoção da “ordem” e manutenção do cinza das cidades (soberano sobre as outras cores). prefiro evitar problemas com policiais ou guardas civis. então veio a ideia da tela, ou seja, apresenta-se um espaço para caminhar. o chão acaba fazendo parte da ação, ele está lá, preto e branco, nunca exatamente limpo, em espera. há poucos postulados definidos, a obra se faz a cada vez.

03.07.2013

hoje pintamos a carioca de azul. depois, fui me lavar no banheiro do edifício av. central e a lata de tinta desapareceu. talvez seja até bom, assim eu fujo do azul indigo, ops, “azul tim” – se fosse laranja seria itaú. estão privatizando as cores, cara. daí eu falei que ia variar o tom e.. 50 tons de azul. não existe fora!

em todo caso, eu e matheus registramos imagens bonitas e ficamos de fazer uma outra vez. vou variar o lugar – apesar de que ali é algo. não fizemos na av. passos em si porque não há lugar. muito carro para pouca calçada, uma contradição.

decidimos percorrer o largo da carioca à procura de um canto propício, eram umas três e tanto da tarde. fiquei na dúvida se montava o lance entre o mágico e o vendedor de ouro, seria digno. atravessamos a rua, passamos pelo dançarino de patins bombante, jacaré dos patins é o nome, e pelo pregador crente, disseminador de tristeza, cuja placa diz: “você vai para o inferno”. nos afastamos um pouco, pareceu sensato, e nos instalamos ao lado de uma banca de jornal, num espaço que pedia para ser preenchido.

a ação durou pouco mais de uma hora, eu e os meninos nos alternando entre quem fazia o papel de animador de público e quem filmava. conclusão foi desejar ter feito um curso de palhaço, desinibição para artes de rua, algo assim. ou chamar alguém que tenha a manha. outra é que quando junta gente tende a juntar mais. e da roda que se forma, sempre alguém acaba topando participar. se esvazia, é outro trampo pra juntar gente de novo..

27.11.2013

chegamos na praça xv por volta de meio-dia, um pouco mais, era um dos lugares em que havia pensado. calha que ali tem espaço demais para pouca gente, não ia funcionar. maya me fala de um café no edifício menezes cortes (anexo ao terminal de ônibus) que é incrível, colaborativo e transparente, no segundo piso. um café que expõe os custos e gastos de sua manutenção em um quadro na parede. você paga o preço de custo mais o que pode/quer. estava lotado. óbvio.

por ali há muitos camelôs e muita gente: exatamente do que precisávamos. dessa vez, as pessoas espontaneamente vieram se aproximar e muito mais gente participou. riu-se muito, ouvi versos magníficos proferidos pelo vendedor de chaveiros (de tênis!) que estava ao nosso lado, fiquei de voltar. conclusões é que a tinta só registrou pegadas de tênis, galochas e chinelos. saltos altos e sapatos de verniz passam longe. mesmo assim, as participações se diversificavam. maya comentou sobre a estranheza de se apontar uma câmera, do quanto isso intimida. é claro. registramos pouco e deixamos rolar.

a lona também apresenta um obstáculo: a tendência é que as pessoas não a atravessem sem perceber. o contrário da proposta inicial: queria mesmo que as pessoas pisassem na tinta sem notar, e saíssem depois pintando o chão ao caminhar. outro ponto fundamental foi que o tom de azul que usamos dessa vez acabou sendo muito parecido com o que já estava na tela, de modo que era difícil identificar a presença de uma pegada nova. é claro, pensei, ninguém quer ser massa. se perder na indistinção dos azuis. da próxima vez, um azul diferente, mais claro, para somar nas camadas e se fazer notar.

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