vão

cabe quase nada nesse tampo fechado. ainda assim procuramos adornar com flores, colocar uma nuvenzinha entre as vestes e sair a foliar. os panos são tão grandes que quase arrastam no chão. juntam gelo, afagos, música de reco-recos e essas gentes que andam pulando pelas ruas. colhem chão, bebem cores e dão altos pulos que fazem ver o céu azul. custou a encontrar. ainda agora pensa se cabe, onde cabe, se vai caber. se vai transbordar. se vai deixar de achar a ruela, a data precisa, o encontro faceiro que desencadeia os ecos. os ecos são os povoamentos, aquilo que …

trajeto

às vezes eu tenho a estranha vontade de dormir num ônibus não que seja confortável não que não haja ruído é o simples gesto de estar em movimento ir de um lugar ao outro como se com isso – transpondo cidades – algo pudesse transmutar constelação vista pela estrada ruído de máquinas, parada assunto de duas cadeiras à frente música não gosto, me vejo procurando caronas mas quando dizem que – vamos conversar agradeço meu direito de permanecer calada embarco num ônibus, adormeço entrecostada sonhando abruptamente com locais um pouco menos vagos situações menos gastas encontros calorosos e afáveis conforto …

de mão / corpo / água

pensar meu nome escrito em ar condicionado terno emplumado, enxuto, asseado sapatos de verniz ou botas paetês (a um pertencimento) azul verde prateado mata úmida bem chegada és tu mais uma vez sem porquê de corpo devaneado mal inventado a saber se encontra patrocínio age à mentira relatada (sem café) (com água) pero sem aquela poça alagada dos dias chorados a conta vencida ansiedade concreto é ver alguns absurdos darem certo em brilho vermelho lá fora uns amigos reunidos em volta em torno de fogueira constelação aquilo que age sem aqueles mesmos vícios donde se ouve ecos sinos conjunção a …

fizemos um filme

o primeiro em película. 16mm. parque da aclimação, são paulo. liberdade, são paulo. temos escritório no rio de janeiro. temos atelier no rio de janeiro. as ruas urgem por justiça, as pessoas estão atordoadas, o clima fere a notícia, fere a pele dia a dia, fere as pessoas em sua existência. a política enviesou e se afirma torta: agora serão explícitas as cartas marcadas. agora se tornará evidente, a cada dia, as vozes decrépitas e funestas que se apoderam de direitos. a direita não aprecia direitos. a direita não respeita direitos. a direita não se importa com sangue, só vê …

cambridge analytica

quem levanta os montes depois de mortos? quem ergue o eixo que faz respirar? quem derrama suas fezes sobre um povo, corrói seus novelos e ergue um punho sobre nós está ali às cegas tateando infinitos em praça pública mil sóis em utopias e amores esmagados, sem dó DIANTE DO ESCÂNDALO há os galhos que se embrenham uns aos outros e sobem encostas assuntos sinceros, recebidos em ouriço asperezas, recusas DIANTE DA ARMADILHA ergue o espírito em carne viva conta da história de seus avós seus pais, seus tios NÃO HÁ DE CALAR chorou no meio da praça caminhos ouvir …