dos mares calejar

gesticulo sem camisa. começo pontos sem nexo, conversas de sobremontes.

meu corpo está suspenso, como num cabide. ou é a camisa. ou é o braço. são os ombros. é o coração.

respiro bruto. engasto, felino, a toda hora e faz. respira de novo. abrupto. engole saliva e então cospe palavra. infame. de novo. agora suave. respira de novo. engoliu. as palavras. atropelou. mais uma vez. respira. deixa fluir na barriga. assim. não, não se ensina isso. fica algo preso no canto esquerdo, e quando põe o dedo assim dói. ar. será. dor de absurdos. dor de sustento. de sopetão. ar. respira. dói. corrompe. não. dói. ar. respira. assim

viaja a porto calejo de modo a renovar as botas: dando um banho de mar. só que era ressaca. as gaivotas voavam alto, pra não se molhar. um ou outro surfista corajoso considerava arriscar um caminho, mas todo mundo ficava era a olhar e perceber a fúria das ondas, tal desalento.

sumiram as botas. o mar as engoliu, obviamente.

com toda certeza não voltariam. pudesse ter levado umas cartas antigas, também, o gesto equivaleria a qualquer ritual de cura. uma certeza. quem sabe iriam retornar fragmentos para as mãos de alguém, outra pessoa, e quanto a isso não me poria a duvidar de que a pessoa me conheceria, tamanha é a extensão dos asfaltos do balneário.

o balneário dos afetos agora é só abraço, abraço e multidão, sem os conflitos que outrora iriam me abraçar.

parecem ter só sobrado alguns espectros e gestos cheios de memória com o que lidar. por isso, afeto. por alguns outros eventos, inclusive fora dali, veio essa do cabide. o cabide a me segurar.

outra imagem seria a de um avião. ou algo a planar. como se não estivesse aterrisada completamente neste plano. jetlag.