é preciso construir o lugar. escutar e imaginar o lugar e todavia não há um só rumo que não seja tecido, invento, matéria e cooperação, acaso. é preciso perambular. mover os montes e inventar todos eles, existir em ação e curar a terra que há.
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estudar teoria me traz a sensação de conversa. busco escuta e conversa em tudo o que me acessa.
vou por onde os braços parecem se abrir. as pernas carregam, e olham para cima: teimam em adorar montanhas.
percebo as coisas em viagens que crio. algumas se fazem em chão, a percorrer, enquanto outras vão sendo descobertas por dentro.
respiro e o corpo mudo se contorce. engole. extrai ruídos de ações acidentais, ou procura a colisão como forma de cura. dança. não faz voltagens, busca terra em meio a tudo isso que acontece abrupto, parede atrás de parede e o corpo que tende a se fixar, sentado.
refazer uma dança de gestos, a partir do mínimo, do apreço. do encontro. uma rede de afetos a se complexificar. em meio a impressões difusas, números, aleatoriedades costumeiras, lugares que não se reconhecem mais: costura, a desenhar e construir pontes sobre as membranas.
o risco que só se sabe quando é. tal como na fotografia. um quê de inesperado me sustenta o fôlego, ou parece apontar o eixo a seguir.
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inês nin
rio de janeiro, 1984