casamento nas montanhas mágicas

em julho desse ano, após longa jornada, futebol y preparativos, foram celebradas três uniões em uma alegre cerimônia lésbica coletiva.

a capela nossa senhora de aparecida e o ET de varginha, junto à comunidade do distrito de pestana e a copa das montanhas mágicas têm o prazer de felicitar as noivas e desejar muita festa y estrelas y amor y cores.

casamento-lindas

obs: as fotos da festa ficaram ótimas, mas a principal foi vandalizada e decidimos manter a forma recém-adquirida por meio dos dispositivos digitais, entendendo que a mesma fortalece o humor e a perspicácia daquelas que a mirarem. a foto está enfeitiçada, e assim estamos nós.

entulho naborda do mar

função:
dessalientar.

(constroem engenhocas tão loucas
tapumes
invenção
esses que vivem tão próximos do asfalto–
azuis, eles vivem, contudo)

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“é preciso chamar as bruxas para estragar o conto de fadas”, dizia o bruno cava sobre a inauguração do MAR, aquele museu mumificado que se posta ao lado do atual “buracão da praça mauá”, futura via subterrânea que estupra o centro histórico do rio de janeiro. em tudo agressivo, inclusive na sua alvidez (é alvo, é ávido) que, tentando ser moderno, quer misturar prédio histórico com nuvenzinha e vidros, programação visual e desejos nefastos de apagar seu entorno.. o programa espacial do governo deseja polir as arestas, e o faz sem a menor sutileza de modos. em algum lugar bem distante daqui, provavelmente no alto de prédios (com vista para a favela) eles aprenderam as maiores técnicas de violência, pois poder se conquista com violência e expropriação. aprenderam que o mundo nunca seria para todos, e portanto decidiram garantir o seu naco da guerra. salve-se quem puder. é tão deprimente que não há palavras precisas; aqueles que se importam com os reais agentes dessa cidade e todos os os esforços feitos com dignidade entram em conflito, pois com os meios todos tomados (inclusive as ruas, pulverizadas de policiais à paisana ou em farda), uns acreditam que se pode ocupar então os espaços que há, em toda sua violência, mesmo que no timing perfeito para as campanhas publicitárias e eleições, mesmo com banco imobiliário de remoções, mesmo que..

sérgio bruno martins, que desconheço, faz apontamentos bastante precisos sobre toda a controvérsia que circunda esse novo estorvo monumental da cidade, a partir da visita que começa, turisticamente, no terraço do edifício. e não se trata de questionar o MAR por ser um museu, se precisamos de mais um museu, como diz o curador-chefe, mas sim, no caso, está em questão todo o teor “maravilhoso” (no sentido surreal) daquilo que ele quer representar, o que ele simboliza, como ele se coloca, e toda a ocasião de inauguração, toda a politicagem envolvida, num terreno de povo silenciado e política de sorrisos.. o que faz essa política representativa, funcionária exultante do não-pensar, todos os dias, dói tanto que dá vontade de vociferar, quando voz há. e se isso não adianta, procuramos outros meios, colocamos estacas no chão, usamos brilho, chão e máscaras, até mesmo escapamos para outros lugares. a guerra é estética, ideológica, insensata, brutal. todos os dias, está aqui, agora mais evidente que nunca. ainda povoada de disfarces. ainda procura verdade nos lugares errados. guerra de discursos, disputa estética, escadas, tapumes, invenção, sobrevivência, vultos, milagres.. uns tentam rir da desgraça, colocando um selo nas costas. e todo o perigo protuberante de se deixar fagocitar os discursos, torná-los brincadeirinha/alegoria dentro do quadrado branco, mais um objeto fonte de especulação na arte.. não nos deixemos afundar na lama política que nos envolve, ainda que seja duro, que não haja lugar. e, ainda assim, um cartaz.

está lá, e, posto que está, discuto, vou para a rua, bato latas, grito, visto máscaras, danço, abraço, caio em desespero, recupero, também não tenho onde morar. posto que está lá, precisamos discutir. produzir sentido sobre aquilo que nos atinge é a última ferramenta possível. é nisso que me apoio na hora de erguer cartazes, povoar. ativar um sentimento de solidão que em tudo está, que a tudo se impõe de forma violenta, combater isso – por grupos, enxames, ocupações.

não é possível estar em todos os lugares. mas é preciso defender o direito de acessá-los. todos. sempre. quem quer que seja. é preciso defender o direito da própria existência, já que esse vetor é constantemente violado, foco de ameaças, arrombado. por tudo isso, diante do estado vândalo que só quer solfejos, erudição e sangue; assumindo toda a controvérsia envolvida, de amigos e amigos e discussões e coiserrantes, ideias turvas, violência, vontades, espaços e desejos, estou lá. ainda assim, na rede, no papel – que o espaço físico inclui outras flexões de lugar.

na borda // vazadores // entulho

+

o que coloco é um trabalho de 2012 em verso, foto, recorte. é sobre existir e sobre estética também. lado a lado há textos e ensaios em dissenso, não formam conjunto, não são conjunto, mas têm em comum a fala sobre um espaço. reconhecimento de arestas, talvez a procura de um espaço, embates políticos, existência e arte. o que faz esse entorno seria talvez a voz plural que buscamos, mas que às vezes se faz calar.

e sobre potência, assunto que subjaz e vem à tona – ação política é o quê? votar? escrevi algo assim, sobre, concomitante às discussões que antecedem essa edição. agora, em tempos de repressão policial desenfreada, de estado surdo, duro, perseguições sem sentido e tantas cores que tentam silenciar, faz tanto sentido. ler hannah arendt a cada dia faz mais sentido. para evitar loucuras e totalitarismos, só por meio da ação.

potentia // reflete-se sobre ação e não-ação. governo e trabalho. antiguidade e modernidade. discurso. política. rebelião. o escopo visível se limita ao livro de hannah arendt, que não é nada limitador. expande tanto que foi feita uma varredura pelos capítulos, a fim de amadurecer a questão. era inevitável. influências externas invisíveis são da ordem da ação política local (leia-se: rio de janeiro), coletivos de arte-ativismo, atritos internos e externos, porto maravilha, expropriações contemporâneas. por isso, dispersão. os discursos se complementam.

travesti

travesti é amor. aqui, outros nomes, uma apropriação. mídia travesti de asinhas de fora, se faz de amiga, quer assaltar as máscaras de multidão. violência de estado corrompeu nossas ruas. contação de alertas, gente no chão: pensamento difuso, escreve-se para fagocitar os termos, desentranhar os caminhos por entre as nervuras do acontecimento.

derivaceleste:

saber emaranhar os acasos nas estranhas lágrimas provocadas pelos anteriores.

o medo, a sede, a luta e o sossego se contaminam uns aos outros até não existirem mais.

não há permutas, marmotas, percepções inertes ou qualquer outro sentido além daquele visível, ainda que tão turvo, paspalho:

serão neves, tudo ao inverso. ou talvez não, coisadura. não serão fascistas a nos buscar nas casas, senhora no batente, senhor na multidão (infame ilógica inerte que perdura). enxame de refugiados na tijuca, naquela rua perto do estádio, encurralados no próprio quintal de casa. ninguém entende o assunto em voga, há tanta confusão.

de voz em voz uns tentam pintar as cores todas de verde e amarelo, as janelas de inferno, as lutas de brincadeira e então desvalorizam o todo, a própria multidão. em processos, recessos e mistérios, porque são muitos e mil-ações.

não tem jeito de cessar o grito porque vem de longe, de muitos, muitos anos, adormecido que estava nos pulmões de tantos, expelido enfim por aqueles que puderam se manter vivos de alguma forma. e não é caso de impeachment, sem surto. isso é tudo lorota turva, e muito simples, um caso de apropriação:

(explicaremos primeiro a oposição)

reacionário (adj.) é aquele que é contrário a quaisquer mudanças (sociais e/ou políticas); que se opõe à democracia; antidemocrático. sinônimos: antidemocrático, antiliberal, retrógrado e ultraconservador.

(nada como um be-a-bá das curvas)

tampouco nos iludamos com o liberal (s.m.), isto é, aquele que é partidário da liberdade em matéria política ou econômica. no plano econômico, é um perspicaz enganador, astuto defensor das desigualdades e do dinheiro no bolso dos indivíduos (sic) de bem.

nenhum deles representa um perímetro maior que o próprio umbigo. talvez, e digo sem muita convicção, sejam capazes de estender algum apreço a familiares e uns poucos semelhantes, pelo puro louvor conferido à família e à propriedade, ambas instituições tão intimamente conectadas. compartilham regras, egoísmos e convenções.

campo minado! acabaram nossos montes, direi. poderia ser – a crise já se estende por tanto tempo que mal é possível morar na cidade, e então lembramos de tantos problemas interestaduais e tão mais antigos: a polícia militar.

(militar é um órgão capaz de eliminar todos os outros, e, por isso mesmo, deve ter sua existência sumariamente questionada)

e então os bondes, as cores. os trios elétricos que se não estivessem cercados de tantos políciais (e nunca entenderemos tantos policiais) seriam carnavalescos, polivalentes quaisquer-uns com tanto orgulho de enfim existir. sua manifestação nada mais é que uma afirmação da própria existência. decidem ter voz. depois de tanto tempo que não se sabe ao certo de crença forçação velada em crer num sistema de números, morfemas, eixos temáticos e não se sabe ao certo e nunca em quem votar – requisito infame de uma política de delegações.

hannah arendt diz que quando há autoridade, não há ação política: o poder de agir, nesse caso, é outorgado ao governante ou pequeno grupo que governa. pois então expliquemos, para fazer frente os confusos, gente que confunde totalitarismo com revolução (soa surpreendente, mas vive-se num mundo de disfarces, e nem é tão nova a ideia)

desacredita no sistema em ritmo contagiante de alienação // os espaços abertos são ricos em propostas e experimentos // há aqueles (e são muitos) que procuram lideranças/desejam lideranças/querem depor o lugar // me pergunto se precisamos de lideranças em qualquer lugar // o plural é importante // não se trata de verde e amarelo // bandeiras vermelhas representam grandes articulações coletivas por direitos sociais, nunca se esqueça disso // mídia golpista, que termo sensacional // veja, minhas máscaras foram usadas por outrem // ela foi às ruas e não sabia porquê // os discursos mudaram e continuou seguindo a marcha // mudaram o rumo e alguém ficou?

aqueles que pintam de branco são aqueles mesmos que desejarão eliminar todos os que não puderem se vestir da mesma cor.

você quer ser eliminado? ou espera obter uma fatia do bolo?

política de recortes, de cartas marcadas, de confusão. publicidade, política de imagens, vote no cara legal! os códigos binários e seus comandantes esperam somente respostas de sim-ou-não, são surdos de formação. no ministério das cartas altas, há interfaces e intermeios, ideias que protegem outras, surtações sim, mas muita blindagem, tanto de gentes quanto de informação. as curvas se contaminam, se misturam, não existe pureza no sistema: política de disputas, muita gana, fica um lembrete: a política é dura, mas é negociação. é perigo quando não se definem os temas, fica azul de imensidão

(sabe, aquele que preenche as arestas, cega no horizonte e se deixa engolir no sifão)

baderna é nossa aliada mais vasta, sim, posto que: vândalos são os policiais e seus mandantes. mas se nos chamam todos vândalos, se inserem vândalos entre nós, se vandalismo é a última moda da passeata multicolor da esquina, se qualquer passante é um vândalo em potencial, se o opressor é quem tem razão, se dão vazão às armas, tratam rua de cartazes como batalha campal, em suma, se nos bloqueiam, e atacam, seja nas ruas, em casa, em todo lugar, se não pode tanta coisa, se a fifa pode, se os donos podem, se a tevê pode, se o jornal quer convencer a sua mãe do nosso vandalismo, então sim, somos todos vândalos, vândalos venceremos, vândalismo vão de caminhar na rua, correr do gás, cair no chão..

curioso notar que as bandeiras do começo eram pelo pleno direito de circular – de andar! pois se cortam as pernas e cobram caro pelas próteses, cobrem tudo de cimento e aqui só passa carro blindado!

que espaço é esse forjado sobre tanta argamassa de minérios e gente que veio porque acredita que precisa trabalhar, que não come se não tiver sangue pra derramar, massa de manobra e ahhh.

faltam dores cores palavras pra dizer o porque dos tormentos, a coisa é tudo menos plana, vigente mas cheia dos interstícios estelares e sem muitas rotas de fuga (antes houvesse – a rota maior pede uma passagem de volta, pagamento no cartão, endividamento)

roda de chão sem voltagem, rebobina tudo, eu não quero levar porrada de policial.

acordar com helicóptero, quintal de casa como campo de batalha.

celebridades felizes na televisão, todos canarinhos.

esporte é travestimento de exploração.

a céu aberto

adquire uma espécie de pausa. ou não, isso não me serve: troca de camisa (como substitui cidades ou ambiências – em roupão). pensa em plantas, emaranhados de constelações e só três coisas a realizar por vez,

o que acontece é que pelo acúmulo dos anos das firulas amargas e dobraduras, aquilo que resta não mais compete aos ricardos, notívagos alegres ou quem sabe ninguém; míngua de jeito que resta, e mesmo está;

como faz com essa coisa que não simplifica, se atola em redes sobre redes sobre membranas sobre as quais fica ali só observando, não conhece os universos, o caminho apresentado é um só:

– arranja um emprego, paga tuas contas. forja esse espaço em construção, adestra os intelectos, faz brotar um referente anônimo, entre as pernas

– criei azuis bocados sem medos de errar, pois de erros já estávamos fartos (e lá no porto eu deixei minhas últimas convicções)

se deixa de construir não atrai.

quadrado de exercício para o braço, para as pernas (e no total somam três, assim mesmo assimétricos, posto que a mão esquerda foi deixada de lado;

quantas oportunidades mais vai deixar de acontecer (por pura agrura, incerteza, isso depois de concluir que sem certezas não se faz nada na vida

– cria blocos por entre as membranas
– para quê
– para ter sobre o que andar (seriam aves, pátinas, andaimes suspensos que iriam pretender sustentação
– de asfaltos, de agruras?
– não, tudo menos isso! menos o que há agora, sonhos perdidos numa desmemória, engarrafamento de sensações. não há nada se não há sossego, força, um pouco de construção.

CONCEBER TEREM ACABADO OS ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA

(sócrates grita lá no fundo)

SUBIR EM PAREDES E PAGINAÇÕES

(constelação)

CONCURSO PÚBLICO, MINHA FILHA…

(cons-ter-na-ções)

SEMMAIS SEMMEDO A CÉU ABERTO

(comofaz)

A CÉU ABERTO

rumo

1_semmedo

compreender o sossego por entre as curvas. sim, é essa a tarefa suprema a realizar.

como proceder? digo, conheço uma penca de procedimentos, talvez não aplicáveis a todas as instâncias. primeiro tem de compreender a fissura, olhar entre as bordas dos cadarços e cada modo de lidar com os ambientes. não se faz a novela como coisa pronta, tem de aprender a ver.

pois que lide com o processo, seus não-lugares e trejeitos incômodos.

talvez, o único jeito voraz de superar os acasos, aqueles que se convertem em desgostos, sem rapidez (como hão de admitir os jovens, vez ou outra).

é preciso um plano. talvez?

pontapé para o infinito, atadura. semmãos, semmedo, mmordedura. coragem, aquilo de que tanto falam os clássicos romanescos sem era, que se sobrepõem a uma realidade turva, demasiado complexa para nossos contos de fada caninos. anacronismos de infância, maus adestramentos. depois de um tempo, embalsama-os todos e transforma e leituras de maniqueísmos diversos, notícias sem profusão nem densidade, as quais só se lê às partes. reitera discursos ou cria coisa alguma, mas segue algum rumo estrito que supostamente se concretiza. ou não, engole a rebelião e bate ponto no escritório, todos os dias, eis o método que seu pai lhe ensinou.

o herói não compreende seus trejeitos, seu namorado no masculino como não poderia imaginar. e depois a família toda vê a foto, porque não a imaginava tão visível, todas as membranas da vida se sobrepondo, como cadáveres. é tudo tão transparente que dói, no semmesmo da estória. compõe de palavras e imagens uma contação sem fim de protestos, amores e títulos de algozes. todos estudantes e ansiosos por se formar.

feitura

esse texto não é meu.

a reclusão não foi premeditada.

férias é comum, quase todo mundo tira. mudar de espaços é normal.

procurar ordenação no caos, todo mundo faz. melhor que jogar pela janela (e se janela houvesse para).

não pode parar e procurar tudo de novo, achar que com vazio reconstrói tudo? talvez. mas é difícil que dói.

– se doía antes!

– sim, doeu.

joalheria. cor de joelhos e açúcar e lentidão.

– tem amigos artistas, mas se é artista?

– tudo questão de concepção.

– assim como conceito?

– como conceitura, de feitura, processo.

– ah.

– você não entendeu.

– como você sabe?

– dá pra ver.

– tura. tinha um parágrafo grande do cortázar sobre as turas. eram muitas. grandiloquentes. importantes pra vida. talvez inevitáveis. olha, estou relendo cortázar.

– reconstrói e relê cortázar?

– reedito vídeos também. ou melhor: reedito ideias antigas em vídeo. às vezes nao sei se elas querem ser vídeo ou outra coisa. mas tento vídeo, que como texto pareciam ter menos dimensão. existiam, lá, na página do caderno. se uma ideia é boa ela merece talvez mais que uma página de caderno, não acha?

– depende do caderno.

– com certeza, mas é uma questão de dimensão. e de envergadura, de quanto tempo eu passo olhando para ela, até que se transforme em outra coisa.

– parece que é importante construir esses espaços de visibilidade, não é?

– sim, mas, também, de certa forma já houve o tempo (esses primeiros meses) para se dedicar às aspirações, contornos e toda essa papucaia. em suma, à hibernação. com ela vieram uma série de coisas, que talvez pareçam inconclusas à quem primeiro ver. pois não é melhor aceitar logo duma vez que todas as coisas sofrem de incompletude, em maior ou menor grau? porque podem sempre prolongar uma membrana, deixar nascer mais um elefante entre os dedos. se faz mal? pode fazer, depende de como você ordenar. como um enxerto de planta. se mistura, tem que cuidar pra não corromper. senão, o braço cai.

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e outro dia alguém me pergunta:

– você nunca fez chá de fita, inês?

– …

que coisa é essa que faz a gente decretar abandono de umas coisas frágeis que um dia fizeram parte do que somos? pois se ainda somos, ainda fazem parte. talvez umas coisas com imagem, travessuras, modismos e construções. sim, é isso: você de repente se dá conta de que precisa construir, e para isso invariavelmente irá deixar de lado algumas coisas. curadoria, seleção. com justificativa e conceito, que vai se formando. procura uma imensidão em coisas súbitas, se traveste, muda de grupos, joga tudo o que tem no quarto fora. precisa viajar pra saber ver de novo, para saber ouvir. precisa chorar distante, às vezes, precisa pegar um avião e dar umas boas gargalhadas, se sentir leve outra vez.

– ver nuvens e malhas molhadas. nunca me esqueço de veneza, vista do avião. umas terras alagadas. as pessoas falam, é claro, mas ver de perto é outra parada. eu fui lá, pôr o pé numas terras alagadas. vinha dos países baixos, que também têm uns tantos canais e se constróem em artifício sobre um terreno que é abaixo do mar. que loucura, esses artifícios. no meio do caminho atravessei as planícies enquanto lia moinhos de vento pela janela, e minha carona que só tinha sorrisos para comunicar. foi bem feito, 10 horas de trajeto porque tinha trânsito, e possivelmente a única viagem de carro da minha vida em que não enjoei. e nem podia, não tinha curvas! que loucura, esses países de planícies sem curvas. concluí que burger king devia ser o graal de lá.

– esses seis meses eu vou viajar bastante. não sei manter esses fios tortos abaixo dos pés – faz sentido?

– se faz. e você pode viajar?

– como disse: é uma questão de envergadura. preciso dar dimensão. tem vezes em que as distâncias daqui ficam curtas, dóem demais porque perderam o traço ao caminhar. dureza de transportes, de decidir, de coisa morta. círculos concêntricos que me medem as pernas, às vezes caem. daí que é só mover uma folhinha amarela que pronto, talvez assim a máquina volte a funcionar.

**

para participar da representatividade das coisas sólidas, apareço. talvez só seja possível o jogo dentro dos espaços, mesmo que – mesmo que tudo. fincamos o pé, não se sabe por quanto tempo, para mais um rolê dos espasmos coletivos. entre vozes alertas e absortas, inundados de travessuras e comércio.

:

azuis se pretende múltiplo e, pois isso, a escolha de um nome aleatório. um nome dentre muitos, porque definiu-se a necessidade um sítio.

por princípio um nome que não significasse nada. posto que quase tudo significa, apropriemo-nos de palavras existentes. em muitos lugares, usaremos números elaborados ao acaso no lugar de nomes. também números se impõem como identidades nos resquícios disciplinares de nosso dia-a-dia.

sítio remete a uma casa rodeada de vegetação que cresce e torna a paisagem acolhedora. sim, o selvagem é acolhedor. o desorganizado é acolhedor. o caos acolhe porque de certa forma participamos dele. a casa fornece o abrigo para os excessos.

azuis é factóide de representação, uma não-representação representante para fazer frente a um mundo que insiste em funcionar por representações. mesmo que elas não te representem.

cria-se um nome como ferramenta para lidar com esse entorno. talvez seja necessário, por um momento, participar minimamente dos mesmos processos cognitivos que se impõem no ambiente para que sejamos lidos. e que a semente se pulverize.

azuis é lugar de experimentação.

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meditação sobre a técnica

compreender o princípio da função, de sobremaneiras que vão de hacklabs a bibliotecas. eis o intuito e o problema, que uns trazem de respostas construtivas, vindas de seu próprio processo.

embaralhar ortega y gasset meditando sobre a técnica ou sobre o corpo