ativismo hacker e ética da permacultura

no dia 9 de maio deste ano tive o grande prazer de participar de um debate sobre ativismo hacker e ética da permacultura, ou hacktivismo e permacultura. éticas, noções e práticas de autonomia, vivências, educação e diferentes perspectivas sobre tecnologias, fazeres e política permearam o efusivo debate. agradeço profundamente ao instituto casa da cidade pela abertura do espaço, à maisa martorano pelas trocas e sobretudo à nadia recioli pelo convite, pelas conversas e por tudo o que ainda vamos fazer.

debate continua na rede e ainda irá se espalhar e muito por outros espaços.

“sempre foi sobre união de mundos” 🙂

o pessoal da casa da joanna registrou o encontro, e que seja esporo para ramificações várias o/

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=Bf__0bF5lUI]

ações para desaparecer: condivíduos, máscaras e personas fugidias

personagens forjadas, autores de quem não se sabe direito o paradeiro, pseudônimos, heterônimos, indivíduos coletivos, figuras ficcionais, imagens construídas. seriam maneiras que pessoas encontraram de camuflar suas “verdadeiras” identidades, ou simplesmente outros modos de agir? contra a política de nomes e números, que rastreia, mapeia e monitora indivíduos, propomos a criação de personas, anedotas, versões variantes de um paradeiro, imagens, estratégias, ações, respostas absurdas. importante é confundir.

~~ realizada em mesa circular de debates ruído experimento vozes subjetivas em meio à CRYTORAVE 2016 

programação completa //

sobre métodos

essa poesia de malas pesadas, de coisadura e já sabe que não espera e faz

º

azuis ainda carrega uma relação com o mundo real, objetivo e nada discreto: o furtivo implementado, a obrigação do caráter, o assumir os caracteres próprios das coisas.

mostrar-se ou não deveria ser algo facultativo. cadastros em geral. fluxos e caminhos desviantes, um direito em si, embora a própria noção de direito esteja calcada em uma certa ordem das coisas.

uma problemática talvez é que o discurso de crítica se faz ainda dentro das coisas, se insere no sistema para a partir dele propor outros caminhos. sobretudo, utiliza os mesmos códigos binários para dizer que são binários, ou refaz paralelos caminhos errantes como forma de chamar a atenção para aquilo que se faz. a linguagem permanece dura, atenta, aberta a infusões.

tormenta o imperativo de comunicar, concatenar bem as palavras de forma inteligível. a pobreza da forma é de algum modo o risco, no asfalto, no sincero cinzeiro tão cotidiano de coisas faz, e vai podando os sossegos, tentando furtivamente errar, tecer outros meios, fincar o pano em algo que vá além.

fustigar os sistemas, furtar o meio e o fim do veículo inerte, em todas as dimensões.

se o processo se inicia em um rio, rio acima irá, contracorrente. para adentrar as matas é preciso primeiro se perder. os modos de percorrer qualquer coisa são imensos, de muitos mundos e variáveis. eu nem matematizo, eu vivo. matemática é da ordem de uma objetividade que não me contempla. ao contrário: ajuda as mesmas coisas sãs como sãos são os dias corridos, as ordenações de trampo, o calendário.

a floresta está dentro, o curioso lá está. procura, desorienta, adquire métodos para o corpo externo sedimentar. não são mais que carcaças a conhecer o intelecto, roupa que veste algo incerto, curva dos dias que se ramifica por entre as frestas.

floresta

primeiras impressões

o rg do seu primeiro filho, registro infame da noosfera. números de série, registros, pegadas, rastreamento. a indistinção. nas ruas, todos os dias.

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desenhos feitos em marca d’água, aquarela-água, azuis.

são dez dedos nas mãos, que deixam suas digitais sobre a folha de papel. cada folha é marcada por um dedo, em ordem – como quando fazemos registro civil.

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x artista quer falar do comum, do ordinário, mas acaba vendendo a sua identidade. autor se sobrepõe à obra; autor com uma única obra; identidade produtora de imagens.

produção, linha de fábrica. série. coleção. mímica, miniatura, versões. desdobramentos. conclusões. percursos, trajeto, processo, nem sempre espaço. trajetória. sossego.

se eu assino atrás da minha impressão digital, produzo algo que se aproxima de um rg. justamente aquilo cuja necessidade pretendo questionar. (eu fiz isso.reparo)

do mercado vem essa lógica do desejo, do original que se sobrepõe à cópia, da autenticação. exclusividade(exclui), edição limitada(limita). especulação. commodity-art, bolsa de valores.

primeirasimpressoesS

na coletiva 2013, eav parque lage
setembro e outubro

avenida passos em duas situações

em locais públicos onde há grande circulação de pessoas em dias de semana, colocamos uma lona (de tecido) no chão sobre uma “lona” preta. tinta azul solúvel em água é colocada sobre uma bandeja com espuma, de modo que funcione de carimbo. transeuntes são convidados a molhar sutilmente a sola dos sapatos na tinta e caminhar pela tela, pela lona, pelo chão. em sucessivas ações, o azul surge em locais distintos, enquanto as lonas adquirem novas camadas.

1º local: largo da carioca, rio de janeiro, próximo à avenida passos (referente ao famigerado prefeito pereira passos, responsável por uma onda de remoções e “revitalização” na cidade no começo do século XX).

colaboração: matheus simões e tino ruggero

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2º local: rua são josé, rio de janeiro, próximo ao terminal de ônibus menezes cortes e à praça xv, ambos pontos que ligam a capital a outras cidades próximas.

colaboração: maya dikstein

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de início a ideia era pisar só no chão mesmo, com os sapatos sujos de tinta. daí você lembra das políticas de promoção da “ordem” e manutenção do cinza das cidades (soberano sobre as outras cores). prefiro evitar problemas com policiais ou guardas civis. então veio a ideia da tela, ou seja, apresenta-se um espaço para caminhar. o chão acaba fazendo parte da ação, ele está lá, preto e branco, nunca exatamente limpo, em espera. há poucos postulados definidos, a obra se faz a cada vez.

03.07.2013

hoje pintamos a carioca de azul. depois, fui me lavar no banheiro do edifício av. central e a lata de tinta desapareceu. talvez seja até bom, assim eu fujo do azul indigo, ops, “azul tim” – se fosse laranja seria itaú. estão privatizando as cores, cara. daí eu falei que ia variar o tom e.. 50 tons de azul. não existe fora!

em todo caso, eu e matheus registramos imagens bonitas e ficamos de fazer uma outra vez. vou variar o lugar – apesar de que ali é algo. não fizemos na av. passos em si porque não há lugar. muito carro para pouca calçada, uma contradição.

decidimos percorrer o largo da carioca à procura de um canto propício, eram umas três e tanto da tarde. fiquei na dúvida se montava o lance entre o mágico e o vendedor de ouro, seria digno. atravessamos a rua, passamos pelo dançarino de patins bombante, jacaré dos patins é o nome, e pelo pregador crente, disseminador de tristeza, cuja placa diz: “você vai para o inferno”. nos afastamos um pouco, pareceu sensato, e nos instalamos ao lado de uma banca de jornal, num espaço que pedia para ser preenchido.

a ação durou pouco mais de uma hora, eu e os meninos nos alternando entre quem fazia o papel de animador de público e quem filmava. conclusão foi desejar ter feito um curso de palhaço, desinibição para artes de rua, algo assim. ou chamar alguém que tenha a manha. outra é que quando junta gente tende a juntar mais. e da roda que se forma, sempre alguém acaba topando participar. se esvazia, é outro trampo pra juntar gente de novo..

27.11.2013

chegamos na praça xv por volta de meio-dia, um pouco mais, era um dos lugares em que havia pensado. calha que ali tem espaço demais para pouca gente, não ia funcionar. maya me fala de um café no edifício menezes cortes (anexo ao terminal de ônibus) que é incrível, colaborativo e transparente, no segundo piso. um café que expõe os custos e gastos de sua manutenção em um quadro na parede. você paga o preço de custo mais o que pode/quer. estava lotado. óbvio.

por ali há muitos camelôs e muita gente: exatamente do que precisávamos. dessa vez, as pessoas espontaneamente vieram se aproximar e muito mais gente participou. riu-se muito, ouvi versos magníficos proferidos pelo vendedor de chaveiros (de tênis!) que estava ao nosso lado, fiquei de voltar. conclusões é que a tinta só registrou pegadas de tênis, galochas e chinelos. saltos altos e sapatos de verniz passam longe. mesmo assim, as participações se diversificavam. maya comentou sobre a estranheza de se apontar uma câmera, do quanto isso intimida. é claro. registramos pouco e deixamos rolar.

a lona também apresenta um obstáculo: a tendência é que as pessoas não a atravessem sem perceber. o contrário da proposta inicial: queria mesmo que as pessoas pisassem na tinta sem notar, e saíssem depois pintando o chão ao caminhar. outro ponto fundamental foi que o tom de azul que usamos dessa vez acabou sendo muito parecido com o que já estava na tela, de modo que era difícil identificar a presença de uma pegada nova. é claro, pensei, ninguém quer ser massa. se perder na indistinção dos azuis. da próxima vez, um azul diferente, mais claro, para somar nas camadas e se fazer notar.

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ponte

uma cidade que começa com uma ponte
ligando lugar nenhum a lugar nenhum:
um monumento ao espaço.

ponte venerada por ser matéria; veneração ao concreto.

escavadeiras como veículo “que torna o sonho possível”. é como se a decisão de um fosse de muitos, mas não.

vilarejo pacato com síndrome de auto-depreciação, alumínio.

terras férteis e de bom grado, mas não, escrutínio, quero ser grande, quero ser maior, quero ser super que é para não ter medo, coisificar, tornar planas as montanhas, construir teleféricos inertes, casas sobrepostas – que chique, os arranha-céus!

para onde foram os novelos, os sem medo que tomavam banho de rio até mais tarde, todas as coisas nulas (porque desprovidas de unidade material). valor!

são tão etéreos quanto nossas noites bebum, sentimento construído porque vontade, publicitárias vontades, aspecto vão de um supremo que não acontece.

bebemos pois a vida é curta e viver é ter força de trabalho incessante, até ver o pôr-do-sol no fim do dia; trabalhar mais, morrer do coração mas não deixar o serviço feito em cima da mesa. o lucro, meu caro, o lucro não é teu, ele é sempre de outrem, outra pessoa, aquela mesma que não dá valor pro teu ônibus ou para as tuas horas livres porque, bem, elxs têm o seu táxi, a sua boa comida, seu apartamento caríssimo em bairro nobre e toda a pompa. eles querem o serviço feito. e de boa vontade, porque tem tanta gente querendo lá fora..

aí você lembra da ponte, sim, a ponte! e não da árvore dócil da sua infância, que caiu num vendaval, dia de chuva furiosa, e tombou no chão.

a ponte é a matéria terrestre, legítima imperatriz do asfalto.. ops, se tornou. você nem lembra mais qual a origem ou o fim do processo, você não tem astúcia, foi se perdendo aos poucos, nos anos que se passaram e foram convertendo, sem que você sentisse, sua sensibilidade em automatismo, docilizando teu corpo e teu cérebro sem que percebesse, até que fosse só isso, corpo e cérebro, mais corpo que cérebro talvez, matéria pura, alheia de si, sem fluxo, sem devaneio.

porque o sangue correndo nas veias era também o teu chão, teu sentimento e pulsão em natureza mais que cíclica, veloz, modulável, rítmica. a pulsão que te fazia ou faria andar foi transformada em valor útil de mercado, tempo, vendido aos outros por um pouco de sossego, expectativa, comida, camisa e filhos, sem que pudesse notar o que acontecia.

teu sangue, meu caro, vale mais que a ponte. teu sossego é um devaneio à beira do rio. antes de virar canal, poluição, ponte.

entulho naborda do mar

função:
dessalientar.

(constroem engenhocas tão loucas
tapumes
invenção
esses que vivem tão próximos do asfalto–
azuis, eles vivem, contudo)

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“é preciso chamar as bruxas para estragar o conto de fadas”, dizia o bruno cava sobre a inauguração do MAR, aquele museu mumificado que se posta ao lado do atual “buracão da praça mauá”, futura via subterrânea que estupra o centro histórico do rio de janeiro. em tudo agressivo, inclusive na sua alvidez (é alvo, é ávido) que, tentando ser moderno, quer misturar prédio histórico com nuvenzinha e vidros, programação visual e desejos nefastos de apagar seu entorno.. o programa espacial do governo deseja polir as arestas, e o faz sem a menor sutileza de modos. em algum lugar bem distante daqui, provavelmente no alto de prédios (com vista para a favela) eles aprenderam as maiores técnicas de violência, pois poder se conquista com violência e expropriação. aprenderam que o mundo nunca seria para todos, e portanto decidiram garantir o seu naco da guerra. salve-se quem puder. é tão deprimente que não há palavras precisas; aqueles que se importam com os reais agentes dessa cidade e todos os os esforços feitos com dignidade entram em conflito, pois com os meios todos tomados (inclusive as ruas, pulverizadas de policiais à paisana ou em farda), uns acreditam que se pode ocupar então os espaços que há, em toda sua violência, mesmo que no timing perfeito para as campanhas publicitárias e eleições, mesmo com banco imobiliário de remoções, mesmo que..

sérgio bruno martins, que desconheço, faz apontamentos bastante precisos sobre toda a controvérsia que circunda esse novo estorvo monumental da cidade, a partir da visita que começa, turisticamente, no terraço do edifício. e não se trata de questionar o MAR por ser um museu, se precisamos de mais um museu, como diz o curador-chefe, mas sim, no caso, está em questão todo o teor “maravilhoso” (no sentido surreal) daquilo que ele quer representar, o que ele simboliza, como ele se coloca, e toda a ocasião de inauguração, toda a politicagem envolvida, num terreno de povo silenciado e política de sorrisos.. o que faz essa política representativa, funcionária exultante do não-pensar, todos os dias, dói tanto que dá vontade de vociferar, quando voz há. e se isso não adianta, procuramos outros meios, colocamos estacas no chão, usamos brilho, chão e máscaras, até mesmo escapamos para outros lugares. a guerra é estética, ideológica, insensata, brutal. todos os dias, está aqui, agora mais evidente que nunca. ainda povoada de disfarces. ainda procura verdade nos lugares errados. guerra de discursos, disputa estética, escadas, tapumes, invenção, sobrevivência, vultos, milagres.. uns tentam rir da desgraça, colocando um selo nas costas. e todo o perigo protuberante de se deixar fagocitar os discursos, torná-los brincadeirinha/alegoria dentro do quadrado branco, mais um objeto fonte de especulação na arte.. não nos deixemos afundar na lama política que nos envolve, ainda que seja duro, que não haja lugar. e, ainda assim, um cartaz.

está lá, e, posto que está, discuto, vou para a rua, bato latas, grito, visto máscaras, danço, abraço, caio em desespero, recupero, também não tenho onde morar. posto que está lá, precisamos discutir. produzir sentido sobre aquilo que nos atinge é a última ferramenta possível. é nisso que me apoio na hora de erguer cartazes, povoar. ativar um sentimento de solidão que em tudo está, que a tudo se impõe de forma violenta, combater isso – por grupos, enxames, ocupações.

não é possível estar em todos os lugares. mas é preciso defender o direito de acessá-los. todos. sempre. quem quer que seja. é preciso defender o direito da própria existência, já que esse vetor é constantemente violado, foco de ameaças, arrombado. por tudo isso, diante do estado vândalo que só quer solfejos, erudição e sangue; assumindo toda a controvérsia envolvida, de amigos e amigos e discussões e coiserrantes, ideias turvas, violência, vontades, espaços e desejos, estou lá. ainda assim, na rede, no papel – que o espaço físico inclui outras flexões de lugar.

na borda // vazadores // entulho

+

o que coloco é um trabalho de 2012 em verso, foto, recorte. é sobre existir e sobre estética também. lado a lado há textos e ensaios em dissenso, não formam conjunto, não são conjunto, mas têm em comum a fala sobre um espaço. reconhecimento de arestas, talvez a procura de um espaço, embates políticos, existência e arte. o que faz esse entorno seria talvez a voz plural que buscamos, mas que às vezes se faz calar.

e sobre potência, assunto que subjaz e vem à tona – ação política é o quê? votar? escrevi algo assim, sobre, concomitante às discussões que antecedem essa edição. agora, em tempos de repressão policial desenfreada, de estado surdo, duro, perseguições sem sentido e tantas cores que tentam silenciar, faz tanto sentido. ler hannah arendt a cada dia faz mais sentido. para evitar loucuras e totalitarismos, só por meio da ação.

potentia // reflete-se sobre ação e não-ação. governo e trabalho. antiguidade e modernidade. discurso. política. rebelião. o escopo visível se limita ao livro de hannah arendt, que não é nada limitador. expande tanto que foi feita uma varredura pelos capítulos, a fim de amadurecer a questão. era inevitável. influências externas invisíveis são da ordem da ação política local (leia-se: rio de janeiro), coletivos de arte-ativismo, atritos internos e externos, porto maravilha, expropriações contemporâneas. por isso, dispersão. os discursos se complementam.

( )

13720030de achar que a poesia já está armada, as preces todas colocadas, e o balão azul explode do outro lado da rua, assim, de multidão.